O Senhor Ventura
(Miguel Torga)
É uma novela de rápida acção, ambientes e situações facilmente visualizáveis, algumas risíveis, tal a comicidade que encerra. Não falta emoção e por toda a obra perpassa um tom lírico, concretizado na figura e versos do poeta Vitorino. Publicada em 1943, está dividida em três partes, num total de 33 capítulos. Fala-nos do percurso e ambiências da vida do Senhor Ventura, queé um português de Penedono, uma aldeia do abrasador Alentejo, de espírito curioso, irrequieto, impetuoso, obstinado, arrojado?que na aventura da sua existência deixa para trás os seus pais, a sua casa e percorre meio mundo. Em Penedono, guardou gado e trabalhou no campo, no Farrobo, uma das herdades do Sr. Gaudêncio.Aos 20 anos, de espírito e corpo robusto está em Lisboa, como soldado 158.Tinha as suas próprias regras. Astuto, mas cauteloso. Experimentou a cadeia prisional. Envolveu-se numa rixa, onde houve facada a um desconhecido, que morreu sem se ter apurado quem o matou. O tribunal absolveu o 158 por falta de provas, mas colocou-o a servir militarmente em Macau.A sua relação íntima, clandestina, interdita, com Júlia, filha do secretário do governador de Macau, faz dele um desertor, o que o leva ao contrabando de ópio, no mar da China. Neste mundo obscuro, há lutas, tiros?e a morte do funcionário da alfândega de Hong Kong.Depoisem Pequim, o Senhor Ventura trabalha numa garagem. Reencontra-se com a Pátria, na figura do Sr. Pereira, um minhoto, que sabia de cozinha. Nasce uma casa de petiscos. O negócio floresce, até à chegada de uns americanos, que bêbados de Porto, insultam o minhoto. Há lutas... A autoridade encerra a casa, que encerrada estava porque o seu recheio tinha ficado em cacos.O Senhor Ventura, acompanhado pelo Sr. Pereira, comanda agora uma empresa arriscada, promovida pelo Sr. Hughes, director da Ford: a entrega de 200 camiões, pelo deserto, à Mongólia.Seguiu-se o rapto do milionário Chung Lin. Mais tiros e murros.O Senhor Ventura conhece a doença. O Sr. Pereira dá-lhe canjas de galinha. O doente arriba. Os laços de união entre os dois homens estreitam-se. Falam em visitar Portugal. O minhoto agarra-se à ideia de um regresso venturoso à Pátria.Não fora um negócio falhado de armas, e tinha o Sr. Pereira revisto Portugal. Um grupo dos supostos negociantes, ao invés de comprar, quis obter pela força as armas que os dois portugueses vendiam. Houve tiroteio. O alentejano alvejado, a sangrar, esgueirou-se na escuridão com o corpo do Pereira, às costas, ferido de morte por uma bala certeira, que ficou sepultado no deserto da Mongólia, em lugar que as areias quentes e ondulantes tornaram para sempre incerto. Volvido um mês, o Senhor Ventura, em Pequim, dançava no Grande Hotel com uma bela mulher: Tatiana, uma russa. Também ela aventureira. A atracção física entre os dois foi forte e duradoira. Mas nada mais os unia, pelo menos da parte dela. Às desavenças ferozes, seguiam-se momentos de intimidade acesa, desejada. O Senhor Ventura casa. Contra tudo e todos, até mesmo contra a indiferença de Tatiana, para quem o casamento é uma ?parvoíce?, mas se ele quer?Para Tatiana, mulher com gosto pela vida nocturna, o estatuto de casada, em nada altera a sua natureza livre, o seu estilo de vida. As pancadarias sucedem-se. Mesmo assim, ela dá à luz um menino, a quem é posto o nome de Sérgio. Do Senhor Ventura está Tatiana cada vez mais distante, mais indiferente.O Senhor Ventura queria rios de dinheiro para o filho. E foram negócios lícitos e ilícitos, e estesrepatriam-no. Tatiana respira aliviada, mais livre. O Senhor Ventura deixa-lhe tudo o que tinha: o filho e para ele a sua fortuna. O transiberiano a correr ?estepes, gelos e regiões inóspitas" trouxe-o de regresso a Portugal. Os pais haviam já falecido. Vivos estavam alguns companheiros de trabalho e o Sr. Gaudêncio, que agora lhe arrenda oFarrobo. O Senhor Ventura assume a responsabilidade, por 5 anos, de explorar a propriedade. Era a sua maneira de mostrar gratidão à terra que o vira nascer.Teve saudades do filho, do Sr. Pereira. Sentiu o peso da solidão. A distância no tempo e no espaço, deram-lhe uma imagem ilusória de Tatiana, mais doce, mais chegada a si? E escrevia-lhe, falava dos seus projectos, do seu trabalho, como se a visse já a comungar dos mesmos pensamentos. As respostas tardavam, cada vez mais distantes, mais breves?Aguerra na China trouxe-lhe de surpresa o filho com 8 anos. Soube, então que Tatiana lhe derretera todo o dinheiro e que, depois da sua partida, foi aquilo que na realidade era e que ele nunca quis ver: uma mulher com gosto por cabarés e companhia masculina sempre diversificada. O Senhor Ventura interna o filho no Colégio de Santo António, em Lisboa, deixa-lhe a chave da velha casa de seus pais: seu único bem. Doente, segue para a China numa busca louca e frenética por Tatiana, com intentos de vingança, de ajuste de contas. Nada o demove. Em Xunquim, no leito de morte, depois de meio ano de buscas por toda a China, aparece-lhe Tatiana. Olhou-a com ódio e lançou-lhe impropérios. Tatiana, impassível, cerrou-lhe os olhos, que a morte deixara abertos.Sem mensalidades pagas, o Colégio de Santo António remete Sérgio para Penedono, onde começa como seu pai: a guardar ovelhas na herdade do Farrobo, do Sr. Gaudêncio.
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