El Entenado
(Juan José Saer)
Colonizador, colonizados Em 1983, quando a Argentina amargurava um período de ditadura, surgia no cenário literário uma obra renovadora, que figurava além dos romances regionalistas ou do ?realismo mágico?. El entenado, livro de Juan José Saer buscava a valorização do sujeito e de seus conflitos, em detrimento dos elementos da natureza ou de caráter provincial. Era a literatura cumprindo sua função de mediadora social e de caráter crítico em relação ao espaço político e histórico do momento. O texto se baseia num episódio histórico do início da conquista espanhola. O personagem principal é um grumete que, ao saber de uma expedição às ilhas Molucas, consegue se engajar nela. A circunstância histórica que deu origem ao livro consistiu nas memórias de Francisco Del Puerto, escritas por volta de 1576-1577. Uma expedição espanhola de 1515 atingiu o Rio da Prata, e depois de alguns meses rio adentro, parte dos homens dessa expedição morre numa emboscada, sob o olhar aterrador de nosso grumete. El entenado tem um caráter relevante na literatura argentina, dentre outros motivos, por incitar o diálogo entre o passado e o presente. Quando se vê sozinho em meio a grupos nativos, não será mais possível ao grumete comportar-se como um europeu de outrora. A convivência de anos com aquelas pessoas fez com que o conquistador vislumbrasse uma forma de cultura, de comportamentos e de sociedade que não conhecia. Aliás, este é o pressuposto do romance: mostrar como os pré-conceitos dos homens da Europa puderam se esvair e se substituir por outras impressões. O romance singulariza-se por uma releitura crítica e desmistificadora acerca do passado. Escrevia-se novela histórica para ?recuperar los silencios, el lado oculto de la historia, el secreto que ella calla?. Num mesmo tempo, o autor consegue trazer à tona a história no ponto de vista dos colonizados; e uma árdua crítica em relação ao regime de cerceamento que se impunha, então, ao povo argentino. A convivência entre os indígenas e o grumete é cuidadosamente tecida. O europeu finalmente descobria a ?polpa brumosa? de seu próprio desvario; agora ele passava a falar com propriedade dessa América mais imaginada que conhecida. Eis que podia perceber, a partir desse instante, ?a cor certa de nossa pátria, desembaraçada da variedade enganosa e sem espessura conferida às coisas por essa febre que nos consome desde que começa a clarear e não cede até que não tenhamos mergulhado bem no centro da noite?.
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