O Olhar E A Cena
(ISMAIL XAVIER)
Este livro reúne textos publicados em ocasiões distintas e com variados propósitos sobre o cinema brasileiro e a obra de Nelson Rodrigues. No entanto, dentro dele persistem certas interrogações que derivam de problemas enfrentados na crítica dos filmes cuja interpretação se enriquece a partir do cotejo com formas de encenação teatral herdadas pelo cinema. A particular relevância a concepção da cena tal como formula desde o século XVIII, quando emergiu o drama sério burguês e a hipótese da ?? quarta parede?? que foi assumida para valer nos palcos com a presença da platéia. A leitura, portanto dos filmes retratados dentro deste livro se insere, portanto, num horizonte histórico que será objeto de discussão apenas quando necessário, mas haverá sempre, como moldura geral, uma atenção à forma como operam, na indústria cultural do século XX, gêneros como o melodrama e uma geometria do olhar e da cena que não se iniciou com o cinema, mas nele encontrou um ponto de cristalização de enorme poder na composição do drama como experiência visual. De modo geral dentro do livro se encontra em foco a passagem do teatro e da literatura ao cinema, num sentido amplo que ultrapassa o caso da ?? adaptação??. Tal passagem é observada a partir de filmes que debateram com a tradição do espetáculo ilusionista encontrada no cinema clássico e no teatro que o inspirou. Vamos ver dentro da obra casos de sintonia com tal tradição e casos de postura crítica diante dela. De qualquer modo, este livro mostra e preserva a dualidade do olhar e da cena, a separação dos terrenos que permite uma interpretação dos filmes apoiada na análise de como interagem a estrutura dramática, o teor da cena e o lugar do espectador. O autor distingue seu livro em três pólos de atenção começando em primeiro lugar analisando a questão do olhar e da cena no cinema produzido em Hollywood, pondo em confronto com as suas matrizes teatrais, notadamente o melodrama do século XIX. Privilegio de dois momentos desse cinema, o da sua formação e o de seu apogeu, representado por dois mestres da criação em situações opostas: D.W. Griffith, a encarnação plena do melodrama, e Alfred Hitchcock, a figura da ironia e da autoconsciência radical da representação, partindo deste ponto Ismail Xavier revela também a continuidade dos códigos e dos valores que marcaram o sistema clássico desde sua formação. Em segundo lugar há conjunto de ensaios em que o ele examina o vasto terreno das adaptações da obra de Nelson Rodrigues para o cinema ao longo de quatro décadas. Trata-se da mais significativa experiência dentro do eixo das relações entre cinema e literatura dramática no Brasil. Em terceiro lugar, há o conjunto de ensaios catalogados no livro, em que o autor examina o vasto terreno das adaptações da obra de Nelson Rodrigues para o cinema ao longo de quatro décadas. Neste livro portanto, pode-se traçar um longo percurso, no qual a variedade na leitura de peças e folhetins espelha o confronto de tendências mais gerais que marcou o cinema brasileiro entre os anos 50 e os anos 90.
Resumos Relacionados
- Cinema: O Mundo Em Movimento
- Hitchcock Truffaut - Entrevistas
- O Caminho De San Giovanni
- Www.paradigmadigital.net
- Afluência E Fascinio Exercido Pelo Cinema Ao Público Dos Anos 20
|
|