Ansião E O Estado Novo
(Manuel Augusto Dias)
No período final da Primeira República, os políticos de Ansião (um pequeno concelho rural do centro do país), ao unirem-se em nome do progresso do Concelho, para a constituição dos Corpos Administrativos, pondo de parte as suas naturais e legítimas divergências políticas, prenunciaram o que se havia de intentar no País, com o 28 de Maio de 1926 e, ainda de uma forma mais deliberada, com gestação do Estado Novo.Não admira, por isso, que pessoas de todos os quadrantes ideológicos, se submetessem à Ditadura Militar, convictas de que essa era a solução política mais conveniente, ainda que transitória, para salvar a Pátria de uma situação cada vez mais anárquica, falida nos seus pressupostos mais ambicionados, sem rumo, nem timoneiro respeitado e obedecido.Quiseram os ansianenses acreditar na nova situação política, aderiram a ela por inteiro, mesmo quando se eternizou, mas, com o decorrer do tempo, novas desilusões se abateram sobre os seus sonhos.A criação de escolas que permitissem assegurar a continuidade de estudos para além do ensino primário ao maior número de alunos; estradas e caminhos de ferro que melhorassem substancialmente a comunicação do concelho com outros centros urbanos e principais vias rodoviárias e ferroviárias da região centro do País; a construção de um hospital capaz de tratar atempadamente dos males dos ansianenses, sem terem de se deslocar para outras terras; a distribuição de nova energia eléctrica a todas as aldeias de todas as freguesias do Concelho; o abastecimento de água potável a toda a população; a industrialização de um concelho que não podia subsistir com os magros recursos de uma agricultura depauperada ? foram algumas das reivindicações repetidamente formuladas junto dos membros do Governo, em Lisboa, ou em Ansião, quando nos visitavam. Algumas delas nunca foram concretizadas, outras foram-no, a um ritmo quase sempre demasiado lento, que transtornava definitivamente alguns projectos, eliminando inevitavelmente muitos sonhos, e condenando continuamente os homens mais novos ? esperança dessa renovação económica adiada ? a emigrarem sistematicamente para lá do Atlântico, rumo ao sonhado Brasil, ou para lá dos Pirenéus, ajudando os países mais progressivos da Europa a serem cada vez mais ricos.Estes desencantos recalcaram, em alguns espíritos dos que ficavam, o secreto desejo de uma nova ordem política, capaz de dar solução aos principais problemas dos homens e mulheres que, no seu quotidiano penoso, tentavam tirar da terra o difícil sustento dos corpos. Persistiu, na verdade, uma certa oposição que, de diversas formas, se soube manifestar, apesar da força da repressão a obrigar a agir de forma quase imperceptível. Porém, ainda durante o Estado Novo, quis o destino que uma aurora primaveril brilhasse cá nas Serras, nos finais da década de 50 e, sobretudo, nos anos 60.O rejuvenescimento do Colégio de Ansião e a fundação do Externato Infante de Sagres de Avelar, a implementação do Cooperativismo Agrícola, a instalação da CUF/Têxteis em Ansião e de novas indústrias em Avelar, a formação de um Corpo de Bombeiros, o regresso da GNR, a renovação do Hospital de Ansião e a ampliação e remodelação do de Avelar, a electrificação do concelho, a reanimação de algumas colectividades e instituições, a criação das Festas do Concelho, e, até, o aparecimento de alguns órgãos de comunicação social, são a prova de uma nova vitalidade, há muito adormecida.Para ela muito contribuíram os homens-bons de Ansião, que, seguindo a lição de outros tempos, puseram de lado o que os separava, e agarraram-se apenas ao que os unia ? o amor pela sua terra natal que desejavam progressiva e próspera! Imbuídos desse espírito e com a determinação de bem-fazer, meteram mãos a uma obra regeneradora, capaz de contribuir para a fixação dos homens que aqui nasciam e, simultaneamente, proporcionar-lhes uma vida mais digna.Entre aqueles homens é justo destacar o Dr. Vítor Faveiro, que prefaciou este estudo, que, desempenhando o importante cargo de Director Geral das Contribuições e Impostos, foi sempre um intermediário privilegiado entre o Concelho de Ansião e o Poder Central, procurando saber a este, os padecimentos e necessidades daquele. Mas não se ficou pelo papel de procurador do concelho, já que muitas medidas de valorização da nossa terra, são de sua exclusiva iniciativa.Aquela aurora primaveril de que acima falamos e que, adiante, perpassa na abordagem de alguns pontos deste trabalho, muito deve àquele ansianense que merece a admiração e reconhecimento de todos os que sentem Ansião.
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