Turismo Sexual
(Marcus Vinicius)
Poder-se-ia conceituar turismo como a atividade de deslocamento transitório de pessoas, individualmente ou em grupos, de um ponto a outro do globo, alcançando um ou mais lugares, para fins de lazer, entretenimento, apreciação paisagística, enriquecimento cultural e integração ao meio ambiente natural, dentre outros estímulos externos. Apesar de correr a olhos vistos, a sociedade brasileira sempre tratou com dubiedade e uma certa hipocrisia as questões ligadas ao sexo, levando o turismo sexual, com isso, a uma situação de clandestinidade, o que vem favorecendo o surgimento e proliferação de outros episódios delituosos correlatos. Assim, o fenômeno alcança relevância para a ciência criminológica, uma vez que, em decorrência dessa modalidade espúria de turismo, são alimentadas várias práticas criminosas, tais como o lenocínio, o tráfico de entorpecentes, o estelionato, a exploração sexual de pessoas menores de idade, a pedofilia, a falsificação de documentos, a lavagem de capitais etc. Em seguida, trataremos dos fatores que vêm ensejando o turismo do tipo sexual em Fortaleza, e ainda, analisaremos suas nefastas conseqüências sob uma perspectiva criminológica. Fortaleza se inclui entre as maiores capitais do país em quantitativo populacional, contando hoje com algo em torno de 2 milhões de pessoas na região metropolitana. Todavia, o excessivo número de habitantes não mais pode ser suportado por uma malha urbana inadequada e uma estrutura insuficiente de prestação de serviços públicos. O inchaço no contingente de pessoas no município de Fortaleza decorre, em grande parte, da onda migratória de duas décadas passadas, integrada por pessoas oriundas da zona rural ou de pequenas cidades do interior do Estado, e que ao longo dos anos formaram um cinturão de pobreza e miséria em torno da área mais rica da cidade. O quadro sócio-econômico aqui apresentado perfaz um relevante fator criminógeno na medida em que fornece o material humano para um bem sucedido aliciamento engendrado pelos sujeitos ligados ao turismo sexual. A prostituição, no caso em que os turistas são os clientes, é uma atividade extremamente mais rentável e de incessante demanda, em comparação às poucas opções lícitas então disponíveis aos adolescentes da periferia. . A igreja, a escola e a família não vêm se mostrando capazes de oferecer uma orientação e direcionamento de vida a muitas crianças e adolescentes em situação de risco social, e não raras vezes, submetidas a uma flagrante violação de direitos humanos. Somado tudo isso à força do apelo da sociedade de consumo e da liberalização dos costumes sexuais, constata-se que esses jovens são mais facilmente atraídos para a rede de corrupção do prostiturismo. Alguns estudos têm apontado que o perfil da criança e adolescente vitimizada compreende pessoas cuja família possui baixa renda, reside em áreas periféricas da cidade - sem contar, portanto, com uma adequada oferta de serviços públicos - algumas delas provém do interior do Ceará, e há uma perceptível desagregação dos laços afetivos. Em alguns casos, a família, quando não faz vistas grossas, chega até a estimular a participação do menino ou menina nos esquemas do turismo sexual, isto porque eles se tornam arrimo daquele grupo familiar. Podemos apontar dois aspectos de suma relevância, no tocante à formação cultural do povo brasileiro, que são dados incentivadores da prática do turismo sexual. Em primeiro lugar, não se deve olvidar que a relação de gênero no país é permeada por uma concentração de poder e autoridade na figura masculina. Isso se emoldura em vários campos sociais, como a família, a escola e o trabalho. Por conseguinte, o sexo se transforma em moeda de troca e instrumento de manipulação e controle do homem sobre a mulher. De fato, a mulher brasileira vem sendo educada ao longo dos séculos para aceitar sua condição de submissão, subalternidade e dependência ? financeira, emocional e social ? em relação ao homem. Além disso, e como segundo ponto a serdestacado, temos a possibilidade de especular que o turismo sexual não deixa de ser um reflexo do modelo colonizatório aplicado nestas terras a partir de seu (re)descobrimento pelos portugueses. A noção de superioridade do colonizador é transferida para a relação estabelecida entre o turista e a nativa como também se denominam as meninas e mulheres nascidas no lugar visitado. Em se tratando de turismo sexual, a problemática da emancipação feminina encontra-se vinculada ao fomento da crença de que o gentleman estrangeiro, cercado de todo um imaginário de seu tipo físico e status financeiro, será capaz de transformar a vida da mulher nordestina, entregue à esperança de se ver arrebatada por esse turista, e a ela apresentado pelos agentes aliciadores como um verdadeiro príncipe encantado, para um mundo diferente, civilizado, repleto de oportunidades, enfim, de perspectivas melhores. Mas nem sempre é isso que as mulheres encontram. Depois das gentilezas e cordialidades dos primeiros dias, descobre-se que esse turista, em geral do sexo masculino e na faixa dos 30 a 50 anos, possui atividades ilícitas na sua terra natal e, segundo o padrão de vida europeu, está bem aquém do imaginado pela mulher. Tanto que uma parcela considerável desses turistas, interessados em estabelecer uma conexão de práticas criminosas no Brasil, tenta preencher algum requisito para sua permanência no país, como casar-se ou ter um filho com uma brasileira, e também, estabelecer algum empreendimento comercial - restaurantes, locadoras de veículos e pousadas, via de regra, pois vinculados ao segmento turístico.
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