Tenho Medo...
(Pierre Wattebled (;))
Tenho medo? de cruzar os teus olhos. Sei que eles me procuram. Tenho medo e fujo... de descobrir mentiras que me farão mal. Tremo só de as supor. Porque tu já não tens consciência de enganar: deformar a verdade tornou-se um reflexo natural. No pior dos casos a evidência surpreende-te e tu sorris a este jogo entre tu e eu. A semântica do teu discurso confunde a minha razão e eu recuso a alquimia que me aprisiona. Tenho medo... das tuas paisagens onde as almas se vão queimar, receio o que se consome. O inferno sob o azul, bate as suas asas; as nuvens trazem a sombra da perda, chamam os carros fúnebres: o voo dos gansos selvagens leva um sudário sem majestade, existe perseguição no ar. Diz-me com que te pareces antes de eu fechar os olhos. Vou talvez desaparecer num sonho humano. Conseguirei inventá-lo antes que tu chegues à minha beira? Tenho medo... de me abandonar. Mas já criei as minhas garras: posso combater qualquer coisa. Sim, eu quero! Já calei os mais pequenos receios. Desde a infância, até. Recorda-te, enfim. Então, porque baixaria eu os braços ? Antes de ser destruído serei o último sobressalto. Então, não ! Levanto-me e dou brilho às palavras que acalmam as feridas : encho-me de antídotos, de anti desespero. Tenho medo... de cruzar os teus olhos. Eles escondem-me uma verdade que saberei compreender. Vejamos ? nós face a face: estou pronto hoje! Pronto a esculpir a madeira da minha cruz, a traçar os caminhos dos nossos cemitérios. Cultivo as flores que nos oferecerei amanhã, se me lembrar. Se isso for possível. No entanto, tenho a minha pequena preferência: o voo dos gansos no céu tranquilo da minha infância abençoada. Agradecer-te-ei se tu não vieres. Tu deliras ao crer q eu sou. Ainda. Pierre Wattebled
Resumos Relacionados
- Ousar
- Sem Resposta
- Reflexão - Meus Dias
- O Horla
- Nova Musa
|
|