O Grande Testamento
(François Villon)
O GRANDE TESTAMENTO: François Villon Certa vez, perguntado se um criminoso seria capaz de escrever poesia: Freud disse não, e acrescentou algo sobre a bondade como fundamento da arte poética. Freud, revelou assim, que ainda não tinha chegado, no seu livro de preferência, até a letra V e não tinha lido o verbete Villon. Com efeitos e fatos, Villon desmente toda essa bobagem. Não que o crime sirva de manifesto e trampolim mas, Villon foi mendigo, escroque, vagabundo e assassino. É um desmentido a tudo que é honesto, culto e fino; mas não ao humano. Foi também, um grande, um grandíssimo poeta. Villon nasceu em Paris, provavelmente em 1431, estudou na Sorbone e diplomou-se em 1452, Magister Artium. Villon, não saiu dos círculos universitários. Ligou-se aos goliardos ou clérigos itinerantes, vagabundos, o que mais tarde viria a ser boêmia, Foi uma vida alegre e miserável, desafiando o mundo oficial e suas leis. Em 1455, no dia de Corpus Christ, matou um sacerdote, escapando - não se sabe como - à punição. Na noite de Natal, 1458, participou de um assalto à tesouraria do College Navarre. Voltou à cidade em 1462, num tumulto noturno de ruas, matando mais uma pessoa. Desta vez foi condenado à morte na força. Mas apelou, e, no decreto de 5 de janeiro de 1463 a pena capital foi comutada em desterro vitalício, sendo-lhe proibida a permanência em Paris. Não se sabe aonde foi. Não se sabe mais nada. Ignora-se a data e o lugar de sua morte. O LIVRO Editada pela primeira vez em 1489, a obra de Villon, o próprio é considerado o maior poeta da língua francesa. O Grande Testamento, espécie de testamentos humorísticos em que lega aos seus inimigos suas misérias e tudo que o aborrece. Existem trechos de reflexões morais, autobiográficas de desconcertante sinceridade e poesias de um encanto irresistível. Passaram-se 535 anos, mas Villon, porta-voz de uma civilização totalmente desaparecida, nos fala como se fosse nosso contemporâneo. Villon, exprimiu o furor e o desdém irônico da rebelião social. Espantou-se da morte: lamentando o desaparecimento de sua amante, escreve: Mort J appelle de ta rigueur, qui m"a ma maitresse ravie... Mais que te nuysoit - elle en vie, mort?. Mas é no primeiro verso do livro que só tem legar pobreza, sujeira, infâmias, desesperos e imundices. Após as estrofes 40 ou 41, a descrição de todos os horrores de morte: face hipócrita, suor frio, expectorações nojentas. Nestes capítulos, o tema musical é "Ballade des Dames" significa a morte. Existe, também, o Villon nobre, filho de uma civilização requintada: a Borgonha do século XV, época de cronistas como, Froissart e de pintores góticos Flamboyant. Mas o seu tema preferido é a morte, esta não significa para ele, um flagelo dos pecados nem porta de entrada do paraíso. Villon é o maior representante de sua época, ao mesmo tempo um representante completo da humanidade de todos os tempos. A devassidão, a blasfêmia, o crime e a boêmia, Villon não se gabou disto, simplesmente era consciente da fragilidade de nossa natureza. [ Francisco Martins ]
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