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Memoria De Mis Putas Tristes
(Gabriel García Márquez)

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Uma triste memoria de Gabo

Urariano Mota

Procura-se Gabriel García Márquez, o outro, não este de Memoria de mis putas tristes, que tenho diante de mim.

Este livro não se realiza como narração, e isto, este ato frustrado, não se faz por incapacidade técnica do autor, por supuesto. A sombra da sua história, as suas realizações anteriores fazem-no um homem realizado como criador. O seu fracasso neste livro é a vitória de uma impossibilidade mais íntima. Uma leitura de superfície anotaria que há no relato ?quebradizos? do gênero literário romance, que em lugar de o fortificarem mais aumentam a sua fraqueza, pela descontinuidade, pela frouxidão que trazem ao relato. Para ser um refletido e aprofundado, digamos, um largo conto, falta a Memória uma concentração obsessiva, uma seleção rigorosa do mundo e da ação do seu personagem, como um rigoroso close de um indivíduo na multidão, mas um close que integrasse o ambiente em volta, do que dá cara e mais que três dimensões ao homem em foco. Essa ausência de organização inteira, com a força de um olhar que abarca todo o essencial, seria anotado por um leitor de passagem, mas que não é um leitor ligeiro, porque vem de um aprendizado com A Morte de Ivan Ilitch, ou até mesmo de um relato menos fecundo que o russo, como O Velho e o Mar. Vendo menos ligeiro, percebe-se que a explicação da fragilidade de Memoria de mis putas tristes se dá por uma gênese anterior à forma, antes mesmo da pura e simples técnica: há um esvaziamento do objeto narrado ? nada resta, nada consegue firmar-se em pé do Velho periodista e do seu Mar de putas. E não por acaso, o ?narrador?, o personagem central, o personagem sobre o qual tudo gira, apesar de periodista famoso, sequer tem nome.

No caso particular do personagem, é de se notar que ele é, ou pelo que diz ser, um homem acostumado ao estudo, ao ensino e ao exercício do latim. No entanto, a prosa desse homem lembra mais a de um outro velho conhecido, a do escritor García Márquez. Na escrita do personagem não há palavras preciosas, de sabor da etimologia, nem aquelas linhas lapidares, que sobrevivem independentes como pedras unidas, que são quase um vício dos latinistas. Dizendo de modo mais simples, inexistem arcaísmos e exibição de latim nesse velho professor de latim. Poderia ser dito, esse latinista só existe na caricatura de professores de latim. Concordo, mas dois pontos: 1 ? a linguagem desse latinista não pode nem deveria ser a de Gabriel García Márquez; 2 ? mais sério: esse latinista deveria ter um humanismo que assimilasse o latim como uma contingência da sua vida pessoal, nada mais que isso.



As anotações feitas até aqui dizem respeito mais a um público exigente, desejoso e amante da escrita de Gabriel García Márquez. Mas existem algumas importantes para o grande público, aquele que esgota edições de cem mil exemplares em três meses. Esse grande público deseja ação, sexo, e dá um valor especial a um livro pelo enredo. Para esse grande consumidor de hambúrguer e best-seller anotamos: do título Memoria de mis putas tristes, do número de putas anunciadas e prometidas pelo narrador, ?hasta los cincuenta años eran quinientas catorce mujeres con las cuales había estado por lo menos uma vez?, até a frase final vai uma grande frustração. Excluídas Ximena e Damiana, que não são putas, o narrador relata 3, três, Casilda, Castorina, Delgadina. Dizemos relata e nisto vai uma imprecisão de vocábulo. Com exceção de Delgadina, a donzela que ele não desvirgina, as outras duas são pequenas variações ao tema (supondo que haja um), são fugas, mais dispersivas que orgânicas de Bach. Em todas, o que é muito desagradável, ocorrem linhas que são versos medíocres de boleros ruins, que soam como uma imitação pobre de lirismo:

?Nadie merece ser más felices que ustedes? , ou ?y conté las doce campanadas de las doce con mis doce lágrimas finales...?. Diante disto, qualquer comentário será apagado e vil.

Nesse livro, GarcíaMárquez é a sua caricatura. Escreve à maneira de Garcia Márquez, reproduz ao tédio seus cacoetes, amplia blow up seus defeitos de letras de boleros ruins nas frases, expõe um crack-up de piadas de mau gosto, porque afinal isso é puro Gabriel García Márquez. Mas nada, nada que se compare ao criador antes da fama, aquele de frases virgens, desconcertantes, como em El coronel no tiene quién le escriba, onde havia uma personagem que de tão pequena e elástica parecia atravessar paredes.

Procura-se Gabriel García Márquez, o outro, antes do seu trade mark.



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