Código Da Vinci (literatura E Religião)
(Brown, D.)
Código da Vinci: Literatura e Religião O romance O Código Da Vinci, de Dan Brown, foi publicado em primeira edição brasileira no ano 2004, pela Sextante, uma pequena editora responsável por lançamentos de títulos que versam sobre incógnitas e aquilo que se costuma chamar de livros de auto-ajuda. Atualmente dá-se, na crítica e teoria, uma relevância especial *a casa editora pela qual saiu o livro, pois isso já é o começo de uma possível hermenêutica de seu conteúdo. A obra divide-se em 105 curtos capítulos, para além de um prólogo e um epílogo. A narrativa está em terceira pessoa do singular, comportando-se, o narrador, de forma onisciente "com reservas", pois, em se tratando de uma romance com o caráter policial, não caberia uma consciência plena de todas as circunstâncias do enredo. Aliás, neste momento vestibular, gostaria de pôr em evidência o fato de que um outro best-seller, O nome da rosa adota o mesmo procedimentos, muito embora seja impossível comparar a mestria literária de Umberto Eco com a fragilidade estética, conceitual e cultural de Dan Brown. A narrativa central dá-se num curto período de tempo, cerca de 24 horas, o que é muito sedutor para a recepção da obra. Faça, novamente, um paralelo com o Ulisses, de James Joyce, que também acontece no período de um dia. Tal como a anotação que fiz sobre a obra de Eco, é absolutamente risível querer comparar Joyce com Dan Brown, em termos de qualidade estética. O espaço da narrativa é multiplicado, começando no museu do Louvre, em Paris, estendendo-se a Versalhes, Londres, Glastonbury, cercanias de Edimburgo, voltando para Paris. Esses espaços são, na maior parte das vezes, públicos (ruas, palácios, igrejas, praças), embora aconteçam dois episódios relevantes em casas privadas. Literariamente a obra apresenta vários problemas graves, como a) as inverossimilhanças e coincidências ridículas; b) a falta de densidade psicológica das personagens (especialmente Sophie), que não possuem vida própria, e que estão ali a serviço da trama; c) as reviravoltas inexplicáveis na trama: personagens que são bonzinhos e na verdade são vilões e vice-versa; d) as obviedades; e) a tendência a usar clichês do cinema policial: perseguições, mistérios, início com um cadáver, etc.; f) o desrespeito à inteligência do leitor, pois a todo momento o narrador explica, até à exaustão, assuntos que pertencem ao universo de conhecimentos do homem comum. As razões do sucesso de público: A utilização de uma história policial, gênero literário sempre prestigiado. Vide as histórias de Sherlok Holmes, Agatha Christie, Maigret. O recurso ao misticismo e ao ocultismo, que corresponde a uma espécie de moda intelectual, tendo em vista o declínio do iluminismo setecentista. O apelo às lendas e tradições celtas, também muito prestigiadas nos dias que correm. O feminismo, que sempre é um prato cheio para qualquer teoria. A miscelânea cultural da época pós moderna, muito bem aproveitada pelo autor: arte, história, religião, ciência, todos imbricados. A moda atual de achar que a Igreja Católica possui segredos pavorosos e revolucionários, talvez alimentada pelos mistérios de Fátima. A tendência, também pós-moderna, de trazer algo novo, numa época em que a ciência, aparentemente, já resolveu tudo: Kennedy e Elvis Presley estão vivos, os americanos nunca foram à lua. Isso corresponde a uma certa sede de novidades. São as chamadas teorias conspiratórias. Todos esses fatos, reunidos, explicam a extrema receptividade do público. Porém, como sempre acontece em nossa época, o feitiço destruirá o feiticeiro:. Em 10 anos ninguém saberá quem foi Dan Brown. Outro terá surgido, com uma nova e dramática revolução, destinada a abalar as bases das certezas. E depois desse outro, outro virá, numa sucessão infinita que só terminará quando cessar a curiosidade humana.
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