Propósito De Pai
(SINVALINE PINHEIRO)
PROPÓSITO DE PAI Seu Pedro, velho comerciante da rua, pioneiro do lugar. Criou seus filhos sempre no interior, todos obedientes, da escola para casa. Dona Nenzinha prendada, boa esposa. O armazém do Seu Pedro tinha tradição. Ele mineiro bom de prosa, na sua calçada sempre tinha alguém para ouvir seus causos, em suma, seu Pedro era feliz. O tempo foi passando, os filhos cresceram, cada um procura rumo na vida. As filhas se casam, ficando só o casal e o filho caçula. Muito mimado o Zé se tornara um homenzarrão, muito calmo, fala arrastada, gostava de se trajar bem, passear. Logo a rotina da pequena cidade cansou o Zé. Já não dormia bem maquinando como mudar de vida. Como falar aos pais que queria ir para a capital? Um belo dia ele se decide. Levantou mais cedo, limpou o armazém, abriu as portas, alegre já pensando na nova vida. Viajar, conhecer pessoas, ganhar dinheiro, sim era disso que estava precisando. Dona Nenzinha ouviu o barulho e se assustou ? Pedro, o que foi com o Zé, já levantado a essa hora?! - Num sei não, Nenzinha, já vou lá saber... Velho matuto, vendo a alegria nos olhos do filho, já pressentiu algo que lhe fugia ao controle. - Oi, Zé! Resmungou desconfiado... - Oi, pai, bença... dormiu bem? - Hum... Mais ou meno, mas o que é? Desembucha... O Zé baixou a cabeça, começou a estalar os dedos, apesar da estatura elevada se sentia uma criança pequena... - Pai, eu pensei bem, já me cansei daqui, quero viajar, vou pra Goiânia. Seu Pedro caiu sentado: - Mas Zé, cê tá doido? Tanto perigo, tanto ladrão... `- Já resolvi, vou trabalhar no caminhão que entrega frango, o vendedor já me arrumou uma vaga, amanhã já estou indo... Seu Pedro não disse mais nada. O que fazer? Ele já era um homem, só restava rezar. O Zé viaja para a capital, consegue o serviço no tal caminhão que entrega frangos. De lá telefona aos pais avisando que já vai ficar trabalhando, fazendo entregas em Goiânia mesmo para aprender o serviço. Seu Pedro e dona Nenzinha nunca mais dormiram tranqüilos. Os dois entristeceram e não conseguiram mais trabalhar. Os dias se passaram e o Zé não deu mais notícias. Dona Nenzinha achou por bem que Seu Pedro fosse atrás do filho. Muito pensativo ele retruca: - Como vou achar o Zé lá na Goiânia? - Perguntando, ora essa, arguém deve conhecê o Zé... Estava decidido. Partiria de manhã. Dona Nenzinha lhe preparou uma farofa, uma gar- rafa com água e outra com café. E ele se foi rumo à capital. Chegando lá ficou assustado com tanta gente, como ia achar o Zé no meio daquela bagunça? ? pensou ? Foi subindo a avenida Goiás olhando bem as pessoas. Ninguém conhecido. Povo sem educação esbarravam nele quase o derrubando. Apertou bem sua matula e seguiu observando. Nisso passa um caminhão com o desenho de frango na porta e umas letras que ele não conseguiu ler; mas parecia o mesmo que entregava frango no seu armazém. Seu Pedro saiu correndo atrás do caminhão, correu muito, as pessoas lhe atrapalhavam, caiu. Voou farofa por todos os lados, o café derramou, só sobrou a água. As pessoas riam dele. O danado do caminhão sumiu, não sabia o que fazer. Limpou a roupa e concluiu que a única solução era sair perguntando. Tanta gente, alguém poderia ter visto o Zé,...Sim, iria perguntar. Perguntar pra mulher é mais seguro: - Oi dona, por um acaso a sinhora num viu o Zé, meu fio? Ele é um cara grandão, bonitão, trabaia num caminhão que intrega frango... a sinhora viu ele? A mulher o olhou de cima em baixo, não respondeu, seguiu sorrindo. Seu Pedro subiu a avenida abordando um e outro, por mais que explicasse o jeito do seu filho, nada, ninguém sabia dele. À tardinha, o cansaço tomou conta dele. Desanimado sentou-se num banco da avenida. Seu coração puro de pai já doía, mas a esperança era maior. Ficou olhando amultidão que ia e vinha, mas nada do Zé... Ficaria sentado alí. Bebeu sua água que se misturou com as lágrimas. Enxugou o rosto, suspirou. Descansaria um pouco para depois continuar a busca... Como se fosse um milagre, alguém lhe bate nos ombros: - Oi Pedro, que surpresa, esperando alguém? Uma parenta de dona Nenzinha, prima longe, por coincidência ia passando e o reconhece ali sentado. Se abraçam, ela diz; - Que bom encontrar você aqui, o Zé seu filho está lá em casa, vai dormir lá hoje. Seu Pedro riu como um copo entornado, encontrara seu filho, valeu a pena a busca. Saiu de braços dados com a prima, de cabeça alta, era o homem mais feliz da avenida... Nada é impossível se tem um propósito firme e vai atrás dele...
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