Cobra Norato
(RAUL BOPP)
COBRA NORATO COBRA NORATO RAUL BOPP Cobra Norato vem à luz em 1931, em plena efervescência do modernismo. Ao lado de I-Juca Pirama de Gonçalves Dias, é tido como o grande poema épico brasileiro. Há que se considerar que quase um século separa os dois poemas. A Gonçalves Dias cabe a primazia de seu pioneirismo, poeta que abriu as portas da fronteira universal e deu passagem para a poesia brasileira. Raul Bopp vai, tal qual I-Juca Pirama, pisar chão e beber água da Amazônia, mas pisa esse chão, amassa o mato e bebe da mesma água de uma forma totalmente diferente. Não só mergulha na mitologia da terra como cria a mitologia na sua própria linguagem. ?Um dia hei de morar nas terras do Sem-fim/ Vou andando caminhando caminhando/ Me misturo no ventre do mato mordendo raízes/ Depois/ faço puçanga de flor de tajá de lagoa/ e mando chamar a Cobra Norato. Cobra Norato não quer correr as terras do Sem-fim só por correr, ele quer ir atrás da filha da rainha Luiza, com quem pretende se casar. Tudo na mata fala e tem vida. As árvores estudam geometria. São escravas do rio, condenadas a trabalhar sempre com a obrigação de fazer folhas para cobrir a floresta e sombra para afogar o homem. A água tem a molura macia de perna de moça. E a noite se encalha com um carregamento de estrelas. ?Onde vais Cobra Norato? Tenho aqui três arvorezinhas jovens à tua espera/ Não posso/ Eu hoje vou dormir com a filha da rainha Luiza. O poema Cobra Norato é uma alegoria do princípio ao fim, onde a beleza mitológica da Amazônia é desvendada em toda sua pujança. Lá nas terras do sem-fim a pororoca, quando a noite pontua e trás lua cheia, ronca e vem quem vem como uma onda inchada rolando e embolando com a água aos tombos. Florestinhas se somem. A água comovida abraça-se com o mato. Estalam árvores quebradas de tripa de fora. Pororoca traz de volta a terra emigrante que fugiu de casa levada pela correnteza. Só assim para lermos extasiados a história de um caboclo que estrangula uma cobra e se veste com sua pele para correr chão e encontrar-se com a filha da rainha Luzia. No caminho cobra Norato encontra o Tatu-de-bunda-seca que lhe salva de um atoleiro dando-lhe a ponta do rabo para segurar e o puxa para fora do charco. Daí em diante passam a ser companheiros de jornada e a se tratarem por compadre. Ai compadre! Tenho vontade de ouvir uma música mole que estire por dentro do sangue; música com gosto de lua e do corpo da filha da rainha Luzia. Durante a jornada o Tatu-de-bunda-seca sente fome e convida o compadre Cobra Norato para irem ao putirum, no casão das farinhadas grandes, roubar farinha. Antes, viram gente para entrar. Lá chegam e encontram a boa acolhida cabocla, comem farinha com pimenta, bebem tiquira e fumam diamba. Tem música e viola, sem falar no causo de um boto safado contado pela boca de Joaninha vintém. Amor chovia/ Choveriscou/ Tava lavando roupa maninha/ quando boto me pegou/? Ó Joaninha Vintém/ Boto era feio ou não?/ ? Ai era um moço loiro, maninha/ tocador de violão/ Me pegou pela cintura.../ ? Depois o que aconteceu?/ ? Gente!/ Olhe a tapioca embolando nos tachos/ ? Mas que Boto safado! Compadre Tatu chamou a atenção de Compadre Cobra Norato para uma moça que estava toda dobradinha por ele na festa, mas esse, sem esquecer o propósito de sua jornada, diz que estava na hora de ir embora. Era bom esquentar o corpo com uma xibirita que ainda tinham que pegar muito chão-longe. Já em avançada jornada Cobra Norato ouve um barulho e diz ser de um navio que vai indo embora. Compadre Tatu-de-bunda-seca o adverte que não se trata de navio, mas da Cobra Grande que vem buscar moça que ainda não conheceu homem. Cobra Norato se compadece da pobre moça. Mas para seu espanto, a moça que Cobra grande vinha buscar era a filha da rainha Luzia. Sem perder tempo ele foge com a moça e é perseguido pela Boiúna, que era o nome da Cobra ggrande. Pede ao Sapo-boi pra fazer barulho, aos Quatro ventos que lhe dê força na fuga, à Serra do Ronca que role abaixo e tape o caminho depois dele. Encontra Tamaquaré, seu cunhado, e pede que esse imite seu rasto e depois de entregar seu pixé na casa de Pagé-pato, torcer caminho e despistar Boiúna que mais adiante pegou informação errada de Pajé-pato e foi direto pra Belém esperar Cobra Norato. Só que esse já voltava para as terras do Sem-fim com a filha da rainha Luzia preparar grande festa para o seu casamento.
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