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Das Barrancas Aos Paralelepípedos
(Adhemar Roberto Silva)

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O CORTEJO
Sol escaldante. Poeirento e cansado cortejo. Uma menina com um buquê de flores murchas. Murcha era a menina...
Atrás do caixão, apenas seu fiel cachorro, nas alças os piedosos.
No campanário da igreja os sinos dobram. Agora dobram pelo retratista. O padre benzeu o corpo, o sino toca à alma.
O retratista ia como veio. Pobre...
Morreu, morrendo, sem amigos, sem filhos para a vela do perdão...
Quem é a menina que carrega as flores? Sua filhinha. Ele não viu...é sua filhinha. Mas, tanto faz agora. Os mortos não vêm mesmo!
Que Deus o absolva dos pecados. Alguém chorou sua morte?
Sim.O vento que viu o esteio ruir, mas não viu o homem vergar
Ébano e Alva
Na chácara tivera avós, tios e primas. A feição no retrato da parede se amarelando, apagando, embolorando, esfarelando.
Os coques da avó e as olheiras da tia solteirona, a trança, o lenço e o vestido branco. A sombrinha e as meias. A prima de branco que morreu de maleita.
A fotografia tirada no caixão. Pés juntos, meias, vestido branco, o lenço cobrindo o rosto. A trança da prima lazarenta. Depois, só a sombrinha encostada num canto.
Sentado na sala de visitas o velho italiano...Todos se foram.
Dores no peito, arrepios no espinhaço, reumatismo nas pernas
O reboco a cair, as paredes rachando, a casa se encheu de goteiras.
Tábuas podres, vidros trincados, cheiro de bolor...
O velho italiano deixou de lavar os pés para dormir. O vecchio está morrendo.
Oh, das almas!
O cortejo passava em direção da capelinha. Dois homens carregavam uma rede de defunto. Passos lentos, cansados, mas seguros.
Atrás do cortejo outros seguiam. De chapéu na mão os homens, de véu as mulheres.
- Oh, das almas! Oh, das almas!
Ninguém atendia ao apelo. Cansados de tanto cortejo, do rancho à beira da estrada. Duas mulheres perguntam, sem dó e nem piedade. Só curiosidade:
- Quem morreu?
- O Alípio!
- Que Alípio?
- O fio do Jão...ontem de noitinha....mais de dez então.
- Morreu de quê?
- De espanhola, uai!
- Agora chega de conversa fiada e dão uma ajuda na rede! Está muito pesada!
- Deve ser de pecado!
- Vamos dar uma surra nele com vara de bater pecado!
- O corpo ficará aliviado, absolvido dos seus pecados!
- Oh, das almas! Oh, das almas!



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