A Escada Espiral
(Armstrong, Karen)
A célebre autora Karen Armstrong, autora de sucessos editoriais na área de religiões, dispensa maiores apresentações. Mundialmente conhecida por títulos como "Jerusalém", "Maomé" e "Buda", entre outros, nos apresenta nestas memórias a sua própria trajetória que a viria por transformar na grande autora religiosa do momento. Karen, e não há como chamá-la de outra forma após a leitura de seu ótimo livro, nos põe em contato com o universo intelectual e glamouroso de Oxford dos anos 60: anos da morte de Deus, anos em que o cristianismo está em total falência nos domínios da terra da Rainha e, a partir de uma dura experiência como monja de espiritualidade inaciana, isto é, marcada na época por uma forte estrutura militar em que se privilegiava a ruptura da vontade própria num escasseamento cada vez maior do transcendente; a autora ingressa num novo degrau de vida que a levará, após sucessivas derrotas pungentes, em espiral, para a literatura. O fiasco acadêmico em Oxford e o fiasco existencial se combinam como elementos poéticos: Karen reproduz seus périplos com a marca da poesia de Eliot e, desta maneira, extrai força da extrema fragilidade de uma existência francamente em apuros. Apuros ao enfrentar o abandono da carreira religiosa e respirar o sufoco mundano, o ambiente não-religioso. Apuros diante da saúde física se deteriorando através da epilepsia que, assombrosamente, em meio à perda contínua da fé no Deus cristão, a conduzia para o reino dos bem-aventurados. Seus apuros, porém, se constituem como o ninho de sua ressurreição e, quiçá, da ressurreição dos seus leitores. Mas a autora não se posta como proselitista e não advoga o transcendente religioso institucional: cada luta interna a faz imergir e emergir - isto é, há afundamentos abissais que tornam impossível não nos compadecermos; mas há emersões anunciando-se ora aqui e acolá culminando, então, numa revisão de vida espiritual, matizada pelas cores do cristianismo (sob os ventos do Concílio Vaticano II), do judaísmo e do islamismo, bem como pelas demais religiões orientais. Recupera-se, portanto, o sentido da transcendência que não seja apenas experiência estética ou experiência de oitiva ou de outrem: é ela mesma, Karen Armstrong, que sai das suas páginas para o leitor e a sua retomada tem um toque de esperança e encanto, embora talvez soe, nesta era pós-cristã e pós-Deus, como um canto anacrônico, canto numa língüa estranha e morta - mas sempre um canto poético registrado para novamente os sons dos tambores de guerra cederem ao som do mito, ao som da transcendência que liberta.
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