Lavoura Arcaica
(Raduan Nassar)
O romance Lavoura Arcaica revisita, em pequena medida, a história de Amon e Tamar, os incestuosos filhos de Davi, segundo Rei de Israel. Faminto de um tipo de amor que não viceja nos leitos meretriciais que assiduamente freqüenta, André, adolescente instável e presa de uma psique tumultuada, acaba encontrando em Ana, sua irmã mais nova, o combustível do seu desejo sexual e de suas afeições. Incapaz de partilhar da vida rural da família, sentindo-se distante e alheio ao pequeno mundo capitaneado por Iohana, seu pai, André não suporta os sermões paternos, o abecedário judaíco-cristão repetido à exaustão junto à mesa, a pacata e macilenta convivência com os familiares, além de demonstrar uma clara incapacidade de crer/obedecer guiado apenas pela fé cega de que parecem partilhar Iohana e Pedro, irmão mais velho de André. Se a aproximação física entre André e Ana mostra-se irresistível em seus momentos embrionários, concretizando-se, enfim, torpe e intensamente, nas palhas que cobrem o chão de uma casa abandonada, o exaurir dos sentidos traz, contudo, para Ana, a consciência moral de seu ato, levando-a à oração e à fé. É o momento de confissão da culpa, de cinzas sob a fronte. André tenta demovê-la de sua contrição e, não o conseguindo, parte em direção a um quarto sujo de pensão, à introspeção, à bebida e ao delírio. É mergulhado nesse universo de pútrido delírio que André se entrevista com Pedro, o irmão mais velho, bovídeo sucessor do Pai. André retorna para casa, tal qual o filho pródigo da parábola bíblica, mas não se arrepende, apenas contemporiza com o Pai, seus sermões e sua moral. Uma festa é feita em homenagem ao regresso do filho ausente e Ana dança lascivamente, acedendo e cedendo-se tacitamente (na linguagem do código particular de irmãos-amantes) à paixão do irmão, ocasião em que Iohana fica sabendo por Pedro sobre a relação incestuosa entre aqueles. O alfange brilha na mão do Pai. O sangue de Ana é derramado, tal qual um sacrifício hebreu antigo. O castelo de valores e crenças de Iohana, porém, sucumbe de modo irrecuperável, descendo ao limbo como o corpo sem vida de Ana. A tradição está em xeque; provavelmente, no fim.
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