Apresentação De Sacher-masoch
(Gilles Deleuze)
Sacher-Masoch e Sade são autores que transportaram aos livros suas experiências. A maneira como fizeram, porém, foge ao conhecido padrão ?Eu, Cristiane F., 13 anos, drogada e prostituída?: suas obras constituem-se de relatos que apresentam modos de vida. Tais modos de vida ? o masoquismo e o sadismo ? envolvem a sexualidade: mas não reduzem-se a isto. Como experiência estética, a sexualidade sádica e a sexualidade masoquista foram reduzidas a sintomas de desvios patológicos. Como literatura, seus escritos foram reduzidos a pornografia barata. E como comportamento, foram reduzidos a anomalias. Gilles Deleuze, em seu livro ?Apresentação de Sacher-Masoch?, procura desfazer estas reduções, mostrando que os sintomas ? captados pela psicanálise ? não indicam doenças, mas sim modos de vida; mostrando que a literatura destes autores vai além do linguajar erótico; e mostrando que o comportamento apresentado nestas obras implica em questões que vão além da perversão. Um dos muitos mitos desfeitos por Deleuze é a dissociação da entidade sadomasoquista: em todos os sentidos em que utiliza-se esta palavra, o autor demonstra que ela refere-se a algo que não existe: o sadismo, o sádico, são coisas completamente diferentes do masoquismo e do masoquista. E mesmo a redução destas duas personagens ? o sádico e o masoquista ? a duas maneiras de relacionar-se com a violência é desfeita por Deleuze: sadismo é mais do que o desejo de causar sofrimento e masoquismo é mais do que o desejo de sofrer. As condições em que cada um destes comportamentos desenvolve-se, as consequências em que implicam, os elementos de que compõem-se, enfim, o mundo de cada um deles é completamente diferente do mundo do outro, conforme o que apresenta o autor de O Anti-Édipo. Na ?Apresentação de Sacher-Masoch? encontra-se, por fim, uma análise de duas experiências estéticas que procura fugir às conclusões fáceis e de uma atitude de ?finjamos que isto não existe?.
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