A DEFESA DE LEIBNITZ
Quando Jeová criou o mundo, pôs nele a sua assinatura que estava no todo e nas partes como u?a imagem holográfica que permanece inteira em cada fragmento em que for dividida. Esta assinatura era a perfeição, e o mundo, para ser perfeito, deveria ter aquilo que os guardiões da tradição reconhecem como o mais autêntico critério de realidade e valor: a história, o passado , a progenitura. Era preciso que o mundo criado tivesse uma genealogia a se perder nos confins da imaginação. Ruínas e fósseis, mitos e epopéias... a ausência destes e de outros signos do passado tornaria o mundo um lugar tão fantasmagórico como uma paisagem lunar, e os seres nele alocados evocariam alienígenas astronautas; cenário e protagonistas que, sem o estofo do passado, denunciaria um forâneo teatro, um circo armado! Assim sendo, nada mais avesso ao espírito de Adão e Eva do que o deslumbramento, o encanto, o atabalhoamento de uma primeira manhã! A familiaridade reinava no Paraíso e a sentença do Eclesiastes: ...
Não há nada de novo sob o sol!... já era verdadeira antes mesmo do sol ser criado. Ao criar a Natureza, o Senhor nosso Deus deu-lhe um passado natural povoado de Sauros e Hominídeos, de vermes gigantes, de cataclismos geológicos, de cosmologias e explicações naturais tão caras aos homens da ciência, com o detalhe apenas de ser tudo isso, toda a história natural, unicamente um passado que nunca existiu enquanto presente, uma dimensão do tempo necessária para a perfeição do mundo, mas eternamente virtual que encontra nos fósseis, nas ruínas e nas lendas as provas plantadas como um mestre dos pincéis que dissimula sua rubrica imitando, com as letras do seu nome, galhos, lingüiças e bigornas de uma bucólica Natureza-morta.
Convém acrescentar que este mundo também sempre foi prenhe de futuro: viagens espaciais, artefatos eletrônicos, explosões de estrelas e
gósmicos alliens... um futuro infinito sempre esteve inscrito - como radiantes possibilidades ? no hiperbóreo horizonte desse mundo. Isso não impede que amanhã ou depois, o Príncipe da Paz, o Amado Jesus, desça dos céus com sua hecatombe de anjos instaurando seu venerável tribunal, a consumação dos tempos e o Paraíso feito de amor, de carbúnculo e jaspe!
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No longo trajeto de volta para casa, Samuel desenvolveu uma exuberante e genial tese sobre a faculdade do esquecimento; ao chegar ao seu quarto, ofegante e com a caneta entre os dentes, como um furioso bucaneiro, tentou registrar no papel os seus pensamentos mas já não se lembrava mais do que havia pensado. Uma dúvida então deitou-se ao seu lado por toda a noite: havia ele esquecido de tomar o seu remédio para a memória ou o havia tomado e este não fizera efeito?
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CASSIANO - contatos com o autor:
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