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Dicionário Browniano
(Cassiano Ribeiro Santos)

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Otomanas ? Quando em longas viagens pelos desertos do oriente, os
sultões levavam em sua comitiva algumas mulheres acentuadamente obesas,
geralmente turcas otomanas, submetidas a uma luxuriosa e calórica
dieta. Quando acampavam e o sultão precisava receber dignitários ou
mesmo descansar, elas prontamente se abaixavam conformando suntuosas
almofadas para o sultão e seus convivais. Hoje chamamos de otomanas
essas grandes almofadas onde as visitas refestelam seus traseiros
gordos.
Geraldino ? Padre e professor de Geografia. De feições macilentas e
abatidas devido aos jejuns ou à masturbação compulsiva (as opiniões
divergem), Geraldino sobrevoava os continentes, os oceanos e as
montanhas com a mansa voz de uma cafetina a embalar os alunos que
dormiam e sonhavam com países exóticos e capitais de nomes
impronunciáveis; no intervalo, ensinava as crianças a fazer bolas de
chiclete, aulas das quais eu fugia por ouvir o boato de ser ele um
pederasta. Anos depois, ao saber o sentido dessa palavra, passei a ver
como arquétipo da obscenidade o estourar no rosto de uma
goma-de-mascar. A última vez que o vi fora em um sonho: Geraldino
mascara dois pacotes de tutti-frutti e começou a soprar um grande
balão. Iria enfim sobrevoar o Espaço Geográfico,
ver os rios, fontes e cascatas que, nos antípodas de sua mente,
murmuravam. Vi o balão subir arrastando o padre pela sôfrega boca,
vencer os muros do colégio e desaparecer no hiperbóreo céu azul.
Acordei em uma distante manhã já sem saber que fim levou meu professor,
se engordou, se morreu ou se ainda flutua pelos infinitos campos
insonhados!
Gárgulas ? Para evitar que as águas das chuvas escorressem pelas
paredes, infiltrando e corroendo-as, os arquitetos medievais projetavam
longas caneletas nos telhados de catedrais e castelos. Para
dissimularem e ornar esse artifício, esculpiam cabeças de monstros, de
águias e demônios que, em dias de chuva, cuspiam filetes d?água em
ruidoso gargarejar. Por derivação regressiva, gargarejar cunhou
gárgulas, no mais sombrio exemplo de uma onomatopéia arquitetônica...
O Costureiro Elzo era hipocondríaco e, ao longo de sua vida, havia
tomado tantos remédios que, perto de morrer, já nem sabia de que males
havia se curado; coerente, seu último anelo fora uma pastilha para a
memória. Seu médico, na cabeceira do leito, vasculhou os bolsos a
procura de tais pastilhas; não a encontrando, retrucou ressabiado: acho
que tinha um desses comprimidos para esquecimentos; não sei se o deixei
em casa ou se o tomei e ele não fez efeito!
No cortejo de assuntos triviais, entre as curvas sinuosas da
estrada, meu amigo Carlos Maciel entabulou uma questão ? talvez a única
? de profunda e teológica inspiração: _ EU?REDITO EM DEUS! SE NÃO...
COMO ESTARIA AQUI? - De formulação prosaica e léxico elementar, seu
argumento era, ad hoc, o classudo argumento ontológico de Santo
Anselmo, Descartes e de outros conspícuos pensadores de pouca fé, a
saber: não estaríamos aqui sem uma causa primeira, incausada, na origem
de uma série que culmina em nossa presente existência. Nossa própria
existência garantindo esta causa primeira e impedindo a postulação de
uma infinita série retroativa (traduzindo, uma falácia do tipo: você
esfrega minhas costas enquanto eu esfrego as tuas!). Eu concordei com o
amigo que guiava ao meu lado: _ DEVERAS! COMO ESTARÍAMOS AQUI SE DEUS
NÃO EXISTISSE? ? Meus pensamentos, contudo, se remontados ao estilo do
Santo, deambularia por outras picadas e veredas. Pensava eu nos perigos
desta vida, nas maleitas e estrupícios, na fome gemedeira e no
cassetete da polícia. Meu amigo, de vida mansa, podia incluir em suas
considerações uma fila de bisavós copulando nos galhos de sua árvore
genealógica; eu não. Vivia então sob o fio perigoso da vida e, por
vezes, duvidava sair bem sucedido das minhas andanças picarescas.
Graças a esse Deus, incausado e não-explicado, consegui!
Há um período da vida em que diminui sensivelmente a recordação
espontânea do nosso passado vivido, quer tenham ou não estas lembranças
qualquer relação com o presente que estamos vivendo. Decorre dessa
amnésia um temor de que, no futuro, não venhamos a ter nenhuma
recordação do aqui e agora, o que duplica o fenecimento destes
tristes dias, como uma flor que perde a seiva e murcha, e ao murchar,
empalidece!
TEXTOS DESSE AUTOR, AESSE www.shvoong.com (em portugues) pesquise cassiano contatos: [email protected]



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