Liberalismo E Sociedade Moderna
(Richard Belamy)
Ao analisar a metamorfose pela qual passou o pensamento liberal do século XIX, Bellamy traz à tona a incompatibilidade deste com a realidade atual - apontando, inclusive, que muitas destas incompatibilidades estavam já presentes nos anos que se seguiram à Revolução Industrial e que foram, de certa forma, ignoradas pelos intelectuais da época. Sua principal crítica se faz em torno de alguns sensos comuns surgidos no período - no que, o autor contesta os historiadores que têm apontado as diferenças dentre diversas correntes, contra argumentando que ela sutilezas menores diante de um arcabouço unificado e de maior significado. Dentre estes pensamentos comuns, está a idéia de que o mundo caminha, obrigatoriamente, para uma situação melhor: é a idéia de progresso. Também é comum a noção de que este progresso se faz a partir das conquistas individuais de cada componente da sociedade, cuja soma resultaria num bem estar geral. Tais idéias, que não estão afastadas das conotações religiosas do período, se conjugariam na crença, também comum, da virtude como caminho para o aprimoramento pessoal e, consequentemente, coletivo. Para o autor, porém, o problema maior do liberalismo - até hoje insolúvel - é a idéia, amplamente compartilhada por seus maiores pensadores, de que se pode chegar a um conceito comum de "liberdade" - capaz de abarcar todas as diferenciações, de ordem individual ou social, que o sistema possa gerar em seu desenvolvimento. Neste sentido, Bellamy apresenta um panorama valoroso das alegadas diferenças conceituais que têm sido apontadas, demonstrando que as mesmas estão, de fato, alicerçadas sobre os mesmos fundamentos. De nossa parte, concordamos com o autor quando ele sugere que a atual hegemonia do pensamento liberal - quando parece que "agora somos todos liberais" - é o sinal de sua falência teórica e política. Contudo, não podemos deixar de ver com alguma cautela a sugestão do autor de que os intelectuais do século XIX teriam, quase propositadamente, feito "vistas grossas" para os conflitos do sistema que já se mostravam presentes. Neste momento, é interessante lembrar da distância que, muitas vezes, se faz necessária para que possamos analisar de modo mais amplo aquilo que nos é cotidiano. Ou estaremos negando a homens como J.S. Mill e T.H. Green do direito de serem homens de seu tempo. BELAMY, Richard. Liberalismo e sociedade moderna. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1994.
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