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Édipo Again
(Cassiano Ribeiro Santos)

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Os incontáveis comentários e interpretações sobre a peça ÉDIPO TIRANO ofuscam a originalidade dessa obra; considerando sua exuberância de símbolos e o uso da interpretação como leit-motiv da história desenrolada ? uma técnica de empatia só igualado pelo cinema noir -, pode-se considerar esta obra como uma tragédia judaica par excelence: Símbolos e profetas-intérpretes, se copyrights tivessem, seriam redigidos em hebraico! A grande lição desta peça é a de que não se evita o destino fugindo dele: a fuga é quase sempre a precipitação do Eventum Tantum, da fatalidade (Jonas fugindo e encontrando o monstro prefigura o tebano e a esfinge). Não fugiremos, portanto de mais uma interpretação se este for o destino desta obra. Uma das maiores manchas sobre os pergaminhos de Sófocles é a suposição de ser a tragédia de Édipo uma alegoria do inconsciente e do desejo, fabulosa interpretação do procusto Sigismundo Freud! Na peça, a personagem, fugindo de casa para evitar a profecia que lhe previra o parricídio e o incesto, encontra uma esfinge em uma encruzilhada (este ser mitológico, com rosto de mulher, corpo de leão e asas de águia, sugere um parentesco com as quimeras, rosto de leão, corpo de cabra e cauda de serpente que freqüentavam os viajantes com miragens e alucinações. Ambas as figuras simbolizavam as paixões do pensamento: os enigmas e as ilusões, e o sentido alegórico de suas partes anatômicas nos parece hoje perdido, dormindo nos velhos rebus da heráldica medieval). Diante do enigma: que animal possui quatro pernas de manhã, duas pernas, à tarde e tres, à noite, ele responde ser o Homem: quatro pernas quando rasteja na manhã da vida, duas pernas à tarde, na sua maturidade, e três, na velhice, o par senil mais a bengala. Se derrotado, Édipo seria devorado pela esfinge como soia acontecer aos viajantes: resolvendo-o, a esfinge suicida-se no abismo e o trono vazio da cidade de Tebas é oferecido ao vencedor. A essa altura o trono de Tebas já estava vago, pois em uma encruzilhada anterior Édipo havia disputado a preferência da estrada com um desconhecido e matado este que era Laio, o seu verdadeiro pai e rei de Tebas. Por vencer o desafio, Édipo é entronado, casa-se com Jocasta, sua mãe viúva em quem engendra quatro filhos e reina em paz até que uma peste assola Tebas e a cidade se revolta em busca de um bode expiatório, alguém que seria o alvo desse castigo dos deuses que a peste representava. É difícil defender a tese freudiana de ser essa tragédia a representação do desejo humano originariamente parricida e incestuoso (tse o complexo de Édipo não é apenas um fenômeno histórico como pensava Gilles Deleuze, ele é no máximo um fenótipo, a expressão de uma linhagem humana, do povo hebreu ao qual Freud pertencia, obrigado por circunstancias culturais e religiosas a vergar o desejo no corpo da família). Para o cintilante M. Foucault, a tragédia de Sófocles era a alegoria de uma krisis, uma passagem entre duas distintas formações de Poder: de um lado, os impérios mágico-religiosos, onde o déspota divino era o sujeito de enunciação das verdades, o arauto infalível dos deuses; do outro lado, emergindo na Grécia, as soberanias jurídicas onde a verdade é revelada por testemunhos e inquéritos e formulada pela ordem do discurso, pelo sujeito do enunciado que responde às leis da lógica e não mais ao capricho de um tirano. Quando acusado pelo vidente Tirésias de ser o responsável pela peste por haver cometido incesto e parricídio, Édipo o refuta por desconhecer sua verdadeira origem. Sua palavra, entretanto, não basta; o próprio Édipo vacila entre os dois tipos de soberania: pode interromper o inquérito, mas não o faz, o bem de seus súditos e suas prerrogativas despóticas equilibrando os pratos da justiça! Convocam-se as testemunhas, unem-se as peças do puzzle e a verdade dos fatos seqüentes é estabelecida. Em sua origem etimológica, o símbolo (symboloi) é a união de duas coisassem nexo que formam algo significante, dois sons formando um vocábulo, dois traços formando um ideograma, duas bandas de u?a medalha identificando uma aliança..., A verdade produzida pelo depoimento das duas testemunhas é um típico exemplo de uma articulação entre partes discursivas in-significantes (afinal, quem garante que eles falaram a verdade?) constituindo uma interpretação verdadeira. A esfinge, com sua bizarra anatomia, já prenunciava a contingência e a arbitrariedade de todos os enigmas. Na última peça da trilogia tebana, Édipo em Colono, encontramos nosso herói errando pela Grécia, cego e guiado por uma das suas filhas, Antígona. Alguém sugeriu que, na cena final, quando os deuses enviam um raio para resgatar a sua sofrida alma, Édipo tenha tido uma alucinação e visto nas linhas deste raio a imagem da esfinge saltar sobre seu corpo e o devorar. Haveria nosso herói se enganado na resposta ao enigma? O animal com quatro patas matinais, duas vespertinas e três noturnas seria o próprio Édipo: Quatro pais na infância, dois pais na maturidade (após a morte de Laio e Mérope, seu pai adotivo) e três pernas na velhice, suas duas e a filha Antígona que lhe servia de cajado! Grosseira como a anatomia dos monstros, arbitrária em suas partes heteróclitas, essa resposta foi preterida por outra mais razoável e universal, o Homem. A esfinge sabia que o surgimento da razão representava o fim do seu mundo mitológico, e nós sabemos as razões que teria a esfinge para devorar o tebano!



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