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Vidas Secas - 3prt
(anabordin)

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Vidas
Secas constitui a melhor obra na filmografia de Nelson Pereira dos
Santos, a depuração máxima do seu processo técnico que Se inspirou
nitidamente no surto do neo-realismo italiano. Isso, desde a primeira
fita, Rio Quarenta Graus, embora uma realização desigual, já revelando
o seu talento em uma ou outra seqüência. Na época, essa fita andou
sendo proibida e combatida por objetivos políticos, sendo até taxada de
comunista ? era um dos lazeres a que ainda se permitiu o
conservadorismo reacionário. Logo depois, tivemos Rio Zona Norte; e,
apesar de se manter no âmbito na desigualdade, denotava-se um maior
aperfeiçoamento nas soluções artesanais. Terminada essa produção, o
diretor permaneceu um certo tempo parado em suas contribuições. Teria
realizado Vidas Secas antes, mas surgiu uma série de contratempos e,
então, fez primeiro Mandacaru Vermelho, um filme bastante menor, porém
sofrendo o ingrato handicap das dificuldades de produção de haver se
constituído mesmo numa espécie de película tapa-buraco entre um projeto
e outro.
Vidas
Secas somente agora chegou, mas valeu a pena esperar. Não vamos, de
início, dizer, fazendo eco a um coro tipo torcida organizada, que se
trata de um dos maiores filmes de todos os tempos. Seria até injusto
para com o cinema, pois os excessos com a falta de senso das medidas só
ajuda para prejudicar a necessária compreensão do público, no tocante
aos problemas de ordem estética relativos à linguagem cinematográfica.
Nem é preciso falar em reforma agrária a fim de tocar os espíritos
menos sensíveis ao tema que se descortina durante a fita. Aliás, quando
Graciliano Ramos escreveu o seu romance, no qual se baseou o filme, a
solução da calamidade subumana do nordeste não era especificamente
enquadrada nos prismas da reforma agrária que hoje tanto se fala mas
não deixam ainda fazer. O estilo seco daquele que é sem nenhum favor um
dos mestres da nossa prosa contemporânea constatava uma dada realidade
? o impasse dos personagens devorados pela miséria a fome o êxodo
constante ? nada mais. Nélson Pereira dos Santos soube encontrar o mood
apropriado a fim de proporcionar efeitos cinematográficos análogos ao
do romance. E foi buscá-lo mediante uma apropriação muito feliz,
consciente ou intuitiva, daquilo que já se denominou como os tempos
mortos criados por Michelangelo Antonioni, especialmente em L?Avventura
e O Eclipse. Enquanto o cineasta italiano usa o vazio com relação ao
impasse de uma elite entologicamente alienada, e nosso transplanta os
efeitos similares de duração para dois seres que representam um tipo de
vida das massas relegadas à extrema penúria: o homem no campo. Não são
poucas as passagens de Vidas Secas que se exasperam na técnica desses
vazios estáticos, mas intrinsecamente plenos de significação e que
possuem como matriz a já famosa cena dos rochedos em L?Avventura.
O
homem, a mulher, os filhos e o cachorro. Nos dois protagonistas
adultos, surgem Átila Iório e Maria Ribeiro. É difícil dominar os
atores e este é um dos problemas cruciais de direção nos cinemas
brasileiros, mesmo porque com a intimidade com o idioma nas maiores
nuances, dá maiores oportunidades à crítica de ser implacável em seus
juízos no tocante a esse setor. Ainda mais, levando-se em conta que, no
caso em foco, os personagens estão constantemente sob a mira da câmera.
Nélson Pereira dos Santos soube contornar o âmago do problema através
de uma solução bastante inteligente e que não deixa também de ser
criativa. Os protagonistas, durante largos trechos do filme, não falam,
a câmera e uma voz off se encarregam de situá-los, isto é, formular o
seu comportamento. Na hora dos diálogos, a contenção é flagrante. O
resultado: Átila Iório, compõe razoavelmente seu tipo, saindo às vezes
fora do tom, sobrecarregado por uma dose de inadequação de seu físico
para o papel. Maria Ribeiro, sai-se melhor, fornecendo uma
interpretação até certo ponto elogiável, embora os altos e baixos. Os
meninos, menos solicitados, colaboram nas composições plásticas dos
quadros estilizados do sofrimento ou da poesia de um áspero cotidiano.
Com isso, o cachorro leva a melhor ? pois é um animal bem treinado e
amparado pela extrema felicidade do fotógrafo ao captar suas
expressões, principalmente, no desfecho, à hora da morte, a morte seca
que os insere no destino dos seus donos.
Aliás,
mencionar o trabalho fotográfico da fita corresponde admirar a extrema
noção em jogar com as tonalidades, os enquadramentos nada forçados, a
angulação instigante. Não há dúvida, a faixa visual consiste um dos
pontos máximos , a provar que, em matéria de cinema, haja visto outras
experiências semelhantes nos últimos tempos, já ultrapassamos uma das
fases radicais do b-a-ba na sétima arte. Entrosada com a fotografia, a
fixação do décor, tanto nos exteriores, como nos interiores, evidencia
uma assimilação convincente, funcional. Os tipos humanos que compõem o
supporting-cast, e assim também esse décor, vêm manejados com
excepcional destreza: o guarda, o patrão, o companheiro de prisão, etc.
Vidas
Secas ? porque negar? ? representa um marco em nosso cinema. Não tanto
um marco de invenção, como é Os Cafajestes, porém uma afirmação
poderosa do domínio do instrumento fílmico. Menos espetacular que O
Assalto ao Trem pagador, menos successful que O Pagador de Promessas,
menos corrido que os filmes de cangaceiro ? mas, por outro lado, muito
mais uno, conciso, depurado e, mesmo, despretensioso. Não estamos
falando de uma obra-prima, mas de uma obra profundamente séria, e cuja
emoção é primordialmente estética. A reforma agrária, acreditamos, virá
depois, com o sr. Brizola, com o sr. Arrais ou com o próprio João
Goulart, e, quem sabe? (o país é uma caixa de surpresas) com o
Congresso. Para Nelson Pereira dos Santos registramos o legado em
termos de cinema e cujo teor, já nessa altura, é respeitável ? ainda
mais quando se leva em conta o nosso subdesenvolvimento na indústria
cinematográfica. Se ninguém aqui ainda é Resnais, Welles, Hitchcock,
Antonioni ou Truffaut não é por falta de genialidades, é por causa de
motivos econômico-financeiros mais do que óbvios.



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