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A Rosa Do Povo - 5 Prt
(anabordin)

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DA POESIA


Não faça versos sobre acontecimentos.

Não há criação nem morte perante a poesia.

Diante dela, a vida é um sol estático,

não aquece nem ilumina.

As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.

Não faças poesia com o corpo,

esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro

são indiferentes.

Nem me reveles teus sentimentos,

que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.

O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.



Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.

O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.

Não é a música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de
espuma.
O canto não é a natureza

nem os homens em sociedade.

Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.

A poesia (não tires poesia das coisas)

elide sujeito e objeto.



Não dramatizes, não invoques,

não indagues. Não percas tempo em mentir.

Não te aborreças.

Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,

vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família

desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.



Não recomponhas

tua sepultada e merencória infância.

Não osciles entre o espelho e a

memória em dissipação.

Que se dissipou, não era poesia.

Que se partiu, cristal não era.



Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.

Estão paralisados, mas não há desespero,

há calma e frescura na superfície intata.

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.

Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.

Espera que cada um se realize e consume

com seu poder de palavra

e seu poder de silêncio.

Não forces o poema a desprender-se do limbo.

Não colhas no chão o poema que se perdeu.

Não adules o poema. Aceita-o

Como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada

no espaço.



Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma

tem mil faces secretas sob a face neutra

e te pergunta, sem interesse pela resposta,

pobre ou terrível, que lhe deres:

Trouxeste a chave?



Repara:

ermas de melodia e conceito

elas se refugiaram na noite, as palavras.

Ainda úmidas e impregnadas de sono,

rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.



Esse antológico poema é dividido em duas partes. Na primeira apresentam-se
proibições sobre o que não deve ser a preocupação de quem estiver pretendendo
fazer poesia. Sua matéria-prima, de acordo com o raciocínio exibido, não são as
emoções, a memória, o meio social, o corpo. Na segunda parte explica-se qual é
a essência da poesia: o trabalho com a linguagem. O poema pode até apresentar
temática social, existencial, laudatória, emotiva, mas tem de, acima de tudo,
dar atenção à elaboração do texto, ou seja, saber lidar com a função poética da
linguagem.

A riqueza de A Rosa do Povo não se restringe, porém, às temáticas abordadas. Há
uma profusão de outros assuntos, como a abordagem da cidade natal (?Nova Canção
do Exílio?, em que há uma reinterpretação do ?Canção do Exílio?, de Gonçalves
Dias), a observação do problemático cotidiano social (?Morte do Leiteiro?, em
que o protagonista, que dá nome ao poema, acaba sendo assassinado em pleno
exercício de sua função por ser confundido com um ladrão, o que possibilita uma
crítica às relações sociais esgarçadas pelo medo), a rememoração dos parentes
(?Retrato de Família?, em que o eu-lírico percebe a viagem através da carne e
do tempo de uma constante eterna ligada à idéia de família) e o amor como
experiência difícil, o famoso amar amaro (?Caso de Vestido?, em que o
eu-lírico, uma mulher, narra o sofrimento por que passou quando da perda do seu
marido e quando também da recuperação dele).

Em suma, Rosa do Povo é obra monumental que merecenão apenas ser lida para um
vestibular, mas fruída para se tornar uma das grandes experiências de nossa
existência.



Resumos Relacionados


- A Rosa Do Povo - Parte 3

- A Rosa Do Povo - Parte 6

- A Rosa Do Povo - Parte 4

- Ser Poeta

- Canção Do Exílio



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