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Heterônimos
(Fernando Pessoa)

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Mais
do que meros pseudônimos, outros nomes com os quais um autor assina sua
obra, os heterônimos são invenções de personagens completos, que têm
uma biografia própria, estilos literários diferenciados, e que produzem
uma obra paralela à do seu criador. Fernando Pessoa criou várias dessas
personagens. Três deles foram excelentes poetas e seus poemas estão
nesta antologia, lado a lado com os que Pessoa assinava com seu próprio
nome. Os estudiosos seguem discutindo por que Pessoa teria criado seus
heterônimos. Seria esquizofrenia? Psicografia? Uma grande piada? Um
genial jogo de marketing poético? De certo, sabemos que a genialidade
de Fernando Pessoa é grande demais para caber em um só poeta. Como bem
o sintetizou o seu heterônimo mais atribulado, Álvaro de Campos:
"Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas, Quanto
mais personalidades eu tiver, Quanto mais intensamente, estridentemente
as tiver, Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas, Quanto
mais unificadamente diverso, dispersadamente atento, Estiver, sentir,
viver, for, Mais possuirei a existência total do universo, Mais
completo serei pelo espaço inteiro fora.
" Além disso, Fernando Pessoa viveu
durante os primórdios do Modernismo, uma época em que a arte se
fragmentava em várias tendências simultâneas, as chamadas Vanguardas:
Futurismo, Cubismo, Expressionismo, Dadaísmo, Surrealismo e muitas
outras. A arte, no momento da explosão das inúmeras vanguardas
modernistas por todo o mundo, também se dividia e se multiplicava.
Fernando Pessoa, introdutor das vanguardas modernistas em Portugal, ao
se dividir, levou a fragmentação da arte moderna às últimas
conseqüências. Alberto Caeiro (1889 - 1915) Fernando Pessoa explicou em
detalhes a "vida"de cada um de seus heterônimos. Assim apresenta a vida
do mestre de todos, Alberto Caeiro: "Nasceu em Lisboa, mas viveu quase
toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase
alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e
deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos.
Vivia com uma tia velha, tia avó.
Morreu tuberculoso." Pessoa cria uma biografia para Caeiro que se
encaixa com perfeição à sua poesia, como podemos observar nos 49 poemas
da série O Guardador de Rebanhos, incluída por inteiro nesta antologia.
Segundo Pessoa, foram escritos na noite de 8 de março de 1914, de um só
fôlego, sem interrupções. Esse processo criativo espontâneo traduz
exatamente a busca fundamental de Alberto Caeiro: completa
naturalidade. "Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na
Natureza não é porque saiba o que ela é. Mas porque a amo, e amo-a por
isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem por que ama, nem o que é
amar..." Caeiro escreve com a linguagem simples e o vocabulário
limitado de um poeta camponês pouco ilustrado. Pratica o realismo
sensorial, numa atitude de rejeição às elucubrações da poesia
simbolista. Assim, constantemente opõe à metafísica o desejo de não
pensar.
Faz da oposição à reflexão a matéria
básica das suas reflexões. Esse paradoxo aproxima-o da atitude
zen-budista de pensar para não pensar, desejar não desejar:
"Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores? A de serem verdes e
copadas e de terem ramos E a de dar fruto na sua hora, o que não nos
faz pensar, A nós, que não sabemos dar por elas. Mas que melhor
metafísica que a delas, Que é a de não saber para que vivem Nem saber
que o não sabem?" Caeiro coloca-se, portanto, como inimigo do
misticismo, que pretende ver "mistérios" por trás de todas as coisas.
Busca precisamente o contrário: ver as coisas como elas são, sem
refletir sobre elas e sem atribuir a elas significados ou sentimentos
humanos: "Os poetas místicos são filósofos doentes, E os filósofos são
homens doidos. Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem E
dizem que as pedras têm alma E que os rios têm êxtases ao luar. Mas as
flores, se sentissem, não eram flores, Eram gente; E se as pedras
tivessem alma, eram coisas vivas, não eram pedras; E se os rios
tivessem êxtases ao luar, Os rios seriam homens doentes." É importante
lembrar que os poetas simbolistas, que antecederam Fernando Pessoa,
estavam impregnados de forte misticismo, herdado da poesia romântica.
Enquanto românticos e simbolistas
carregavam seus poemas de religiosidade, Alberto Caeiro procura, de
forma coerente e lógica, afastar-se da reflexão sobre Deus. "Pensar em
Deus é desobedecer a Deus, Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou..." Seguindo esta linha de pensamento
religioso, Caeiro escreve um poema muito ousado sobre o menino Jesus.
No poema VIII de O Guardador de Rebanhos, destituído de santidade,
Cristo é representado como uma criança normal: espontânea, levada,
brincalhona e alegre. Nisso, está a religiosidade de Caeiro. Em
perfeita consonância com sua busca de simplicidade e espontaneidade,
Alberto Caeiro escreve versos livres (sem métrica regular) e brancos
(sem rimas). Ricardo Reis (1887 - 1935?) Se Alberto Caeiro era um
camponês autodidata desprovido de erudição, seu discípulo Ricardo Reis
era um erudito que insistia na defesa dos valores tradicionais, tanto
na literatura quanto na política. De acordo com Pessoa: "Ricardo Reis
nasceu no Porto. Educado em colégio de jesuítas, é médico e vive no
Brasil desde 1919, pois expatriou-se espontaneamente por ser
monárquico. É latinista por educação alheia, e um semi-helenista por
educação própria.
" Discípulo de Caeiro, Reis retoma o
fascínio do mestre pela natureza pelo viés do neoclassicismo. Insiste
nos clichês árcades do Locus Amoenus (local ameno) e do Carpe Diem
(aproveitar o momento). Neoclássico, Reis busca o equilíbrio, a "Aurea
Mediocritas" ( equilíbrio de ouro) tão prezada pelos poetas do século
XVIII. A busca da espontaneidade de Caeiro transforma-se em Reis, na
procura do equilíbrio contido dos clássicos. Deixa de ser uma
simplicidade natural e passa a ser estudada, forjada através do
intelecto: "Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê
todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim como em
cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive." A linguagem de Ricardo
Reis é clássica. Usa um vocabulário erudito e, muito apropriadamente,
seus poemas são metrificados e apresentam uma sintaxe rebuscada. Os
poemas de Reis são odes, poemas líricos de tom alegre e entusiástico,
cantados pelos gregos, ao som de cítaras ou flautas, em estrofes
regulares e variáveis.
Nelas, convida pastoras como Lídia,
Neera ou Cloe para desfrutar de prazeres contemplativos e regrados:
"Prazer, mas devagar, Lídia, que a sorte àqueles não é grata Que lhe
das mãos arrancam. Furtivos, retiremos do horto mundo Os deprendandos
pomos." As odes de Reis, como as de Píndaro, recorrem sempre aos deuses
da mitologia grega. Este paganismo, de caráter erudito, afasta-se da
convicção de Alberto Caeiro de que não se deve pensar em Deus. Para
Ricardo Reis, os deuses estão acima de tudo e controlam o destino dos
homens: "Acima da verdade estão os deuses. Nossa ciência é uma falhada
cópia Da certeza com que eles Sabem que há o Universo. Álvaro de Campos
(1890 - 1935?) Fernando Pessoa nos informa que Álvaro de Campos:
"Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi
mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois
naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário.

Agora está aqui em Lisboa em
inatividade." Como normalmente acontece com os poetas de carne e osso,
o heterônimo Álvaro de Campos apresenta três fases distintas em sua
poesia. De início é influenciado pelo decadentismo simbolista, depois
pelo futurismo e por fim, amargurado, escreve poemas pessimistas e
desiludidos. No poema Opiário, o engenheiro Campos, influenciado pelo
simbolismo, ainda metrifica e rima. Escreve quadras, estrofes de quatro
versos, de teor autobiog



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