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Romanceiro Da Incofidência
(Cecília Meirelles)

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Podemos dividir os fatos que compõem o Romanceiro em três partes ou ciclos: a) ciclo do ouro; b) ciclo do diamante; c) ciclo da liberdade ou inconfidência com sua ascensão e queda. Aí parece haver uma gradação proposital: ouro/diamante/liberdade. Como
o ouro e o diamante, a liberdade brilhou intensamente nas Minas Gerais,
mas como o ouro e o diamante, a liberdade só trouxe desgraças,
masmorras e mortes.... a) Ciclo do ouro O cenário
colocado para o ciclo do ouro prenuncia também o ciclo da liberdade, no
qual "a mão do Alferes de longe acena" como a querer dizer: Adeus! que trabalhar vou para todos!... Mas
essa mão que acena à liberdade e ao homem livre será enforcada mais
tarde. Por enquanto, vejamos o alvorecer do ouro que vai brilhar
intensamente nas Minas Gerais, despertando a cobiça e ganância dos
homens e, quem sabe, o sonho de liberdade dos inconfidentes que
nasceria também do ouro da terra. Descobre-se o ouro e, por
causa dele, o homem vai matando animais, pessoas, florestas e tudo que
lhe atravessa o caminho. Desbrava-se a mata. Surgem montanhas douradas
de ouro e de cobiça que despertam uma verdadeira alucinação: Selvas, montanhas e rios estão transidos de pasmo. É que avançam, terra adentro, os homens alucinados. (Romance I) E gerações e mais gerações de netos afundariam nesse abismo: Que a sede de ouro é sem cura, e, por ela subjugados, os homens matam-se e morrem, ficam mortos, mas não fartos. (ib .ib) Como
o ouro que brota da terra, brotam também "as sinistras rivalidades",
ladrões e contrabandistas, - um clima de intranqüilidade: todos pedem ouro e prata, e estendem punhos severos, mas vão sendo fabricadas muitas algemas de ferro. (Romance II) E
por amor, pelo ouro, uma donzela é assassinada pela mão de seu pai. O
ouro não permitia que a donzela acenasse a enasse a um amor "de
condição desigual" o seu lencinho" de sonho e sal" Surge
Felipe dos Santos, que assanha a fúria do Conde de Assumar. É morto e
esquartejado, mas o herói que tomba no Arraial do Ouro Podre ficará
como exemplo perene de força e de coragem para os que virão. O
tirano conde haveria de chorar porque quem ri, chora também. O Brasil
ainda era criança - um "menino" apenas. Nasceriam outros como Felipe
dos Santos: Dorme, meu menino, dorme, - que Deus te ensine a lição dos que sofrerem neste mundo violência e perseguição Morreu Felipe dos Santos; outros, porém, nascerão. (Romance V) Cria-se
o quinto do ouro, cobrado a ferro e fogo: a Coroa precisava de ouro. Há
logros: D. Rodrigo César e Sebastião Fernandes enviam para a coroa
caixotes selados com "grãos de chumbo" em vez de grãos de ouro. Ai, que o Monarca procura os que vão ser castigados. E
o "quinto falsificado" se tornaria o décuplo de forcas e degredos para
a dourada colônia! Pela madrugada fria, rompe o canto do negro no
serviço de catar o ouro, enquanto o patrão dorme e sonha. O negro pena
e chora, canta e ri na saudade da serra, na imensidão da terra. E na
sua vida escrava, ele erra sem terra, sem serra, sem nada: (Deus do céu, como é possível! penar tanto e não ter nada!) (Romance VII) O ouro lhe tiraria o "t" da terra e o "s" da serra e ele erra cativo, sem liberdade, com os elos de ferro da escravidão... Mas
o ouro que brotava da terra não cativara apenas o preto, como Chico,
que também já fora rei "lá na banda em que corre o Congo": também os
brancos foram atirados naquela lama que alimentava a ganância de reis e
rainhas: Hoje, os brancos também, meu povo, são tristes cativos. (Romance VIII) Santa Ifigênia, princesa núbia, protetora dos negros, desce às minas "vira-e-sai", depois de amenizar o sofrimento deles. As
pessoas, por causa do ouro, iam-se embrutecendo: movido pelo ódio, um
contratador, quase assassinou um ouvidor, dentro de uma igreja, porque
este, enamorado, arremessara uma flor a uma donzela. Os filhos do
almotacé (inspetor de pesos e medidas), sete crianças, rezam diante de
Nossa Senhora da Ajuda. Joaquim José é uma delas. As criançaspedem à Virgem que o salve "do triste destino que vai padecer". Será em
vão. A virgem não poderá atendê-los, mesmo sendo crianças. Mais forte
do que um pedido de criança é o destino traçado para um homem! Mesmo
sendo seis e irmãos do sentenciado! (Lá vai um menino entre seis irmãos. Senhora da Ajuda, pelo vosso nome, estendei-lhe as mãos!) (Romance XII), O
pedido agora (entre parênteses) é da poetisa à Virgem. Não será
atendida: mais forte do que o pedido de um poeta é o destino traçado
para um homem! Mas, por enquanto, reina a bonança: "os tempos são de ouro". A tempestade virá depois, em 1792, com a execução. Antes de chegar a forca, porém, outro metal brilhará intensamente nas Minas Gerais: os diamantes do Tejuco, depois Diamantina. b) Ciclo do diamante Continua
a corrida alucinante. Agora é a vez do diamante nas regiões do Serro
Frio e do Tejuco, onde vive o contratador João Fernandes, "dono da
terra opulenta". Chega às suas terras, com o fim de
persegui-lo, o Conde de Valadares, homem enganoso e fingido. Hospeda na
casa de João, que lhe abre a casa e o coração das mulatas, menos o de
Chica da Silva. Sua riqueza é imensa e o fingido conde suspira de
cobiça: Deste tejuco não volto sem ter metade das lavras, metade das lavras de ouro, mais outro tanto das catas; sem meu cofre de diamantes, todos estrelas sem jaça, - que para os nobres do Reino é que este povo trabalha! (Romances XIII) O
Romance XIV apresenta Chica da Silva no seu império de luxo,
resplandecente de ouro e diamante. Comparada à rainha de Sabá, ela
tinha mais brilho que Santa Ifigênia, a princesa núbia, em dias de
festa: (Coisa igual nunca se viu. Dom João Quinto, rei famoso, não teve mulher assim!) Vendo o conde tão interessado pelo João, Chica cisma nessa falsa amizade e previne a João Fernandes: Hoje, todo o mundo corre, Senhor, atrás de riqueza. (Romance XV) Dito e feito: o conde, traindo a hospedagem de João Fernandes, leva-o preso, como Chica da Silva pressentira. É a ambição do ouro (ou do diamante, que é sempre a mesma coisa) que a todos embriaga e corrói: Maldito o conde, e maldito esse ouro que faz escravos, esse ouro que faz algemas, que levanta densos muros para as grades das cadeias, que arma nas praças as forças, lavra as injustas sentenças, arrasta pelos caminhos vítimas que se esquartejam! (Romance XVII) Os
velhos do Tejuco, na sua experiência, pensam com a amargura na "febre
que corta o Serro Frio". João Fernandes, que até então era senhor
opulento, fora levado num navio "igual a um negro fugido", o que dá
margem a esta reflexão da autora: (Que tudo acaba! Quem diz que montanha de ouro não desaba?) (Romance XVIII) Acabara-se o tempo de João Fernandes e de Chica da Silva, cravejada de brilhantes. Mas: Sobre o tempo vem mais tempo. mandam sempre os que são grandes: e é grandeza de ministros roubar hoje como dantes vão-se as minas nos navios... Pela terra despojada, ficam lágrimas e sangue. (Romance XIX) Mas
o ouro e o diamante, que brilharam tão intensamente nas Minas Gerais,
eram apenas prenúncio de um brilho maior. Um sonho milenar, um ideal de
um sol que despertaria - o sol da liberdade que a todos iluminaria e
que nem rei nem rainha, por mais despóticos que sejam, podem tirar do
homem! Não importa que haja eclipses de vez em quando: o sol sempre volta a brilhar depois de um eclipse... c) Ciclo da liberdade A
poesia apresenta o cenário onde vão se desenrolar os fatos: enumeração,
sobretudo, dos lugares e fixação na névoa que chega às ruas, move a
ilusão de tempo e figuras e que trará, fatalmente, o pranto e a
saudade: A névoa que se adensa e vai formando nublados reinos de saudade e pranto. O
"país da Arcádia", sediado na Vila Rica de outrora (Ouro Preto), com
seus pastores e rebanhos, Nises, Marílias e Glauceste não passou de um
ideal na literatura. Pelos céus, nuvens negras de ódio e
ambições ameaçam a doutorada terra de Ouro Preto: uma "nuvem de
lágrimas" está prestes a desabar sobre "o país da Arcádia" -



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