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A Rua Dos Cataventos
(Mário Quintana)

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Gaúcho nascido EM Alegrete, radicou-se em porto Alegre, cidade que muito amou e que lhe inspirou muitos poemas. Num deles, chega a exclamar: ?Ó céus de Porto Alegre, como farei para levar-vos para o Céu!?

Na capital gaúcha, dedicou-se ao jornalismo e começa a publicar, na imprensa, seus primeiros poemas. Em 1934, é contratado para trabalhar como tradutor da Editora Globo, entrando em contato com escritores famosos da literatura universal: Guy de Maupassant, Marcel Proust, Virgínia Woolf, entre outros. Seus colegas de trabalho na equipe de tradutores eram gente como Erico Verissimo, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira, que foram grandes incentivadores do tímido poeta.

Sua estréia em livro, como poeta, só ocorre em 1940, com a publicação de A rua dos cataventos, contendo apenas sonetos, são 35 ao todo. Lembremos aqui que soneto é uma forma poética fixa, sempre com quatro estrofes, sendo as duas primeiras com quatro versos e as duas últimas com três versos. Por essa característica, o soneto não foi muito cultivado pelos modernistas, admiradores do verso livre. Quintana reabilitou, pode-se dizer assim, o soneto neste volume de poemas. O conjunto poético do livro mostra um poeta com lembranças da infância, com olhar para uma rua imaginária, olhar este varia entre a ironia e a melancolia.

A poesia de Quintana é a humanidade posta em verso. Daí seu humor não apresentar o traço racional, intelectualizado, mas aproximar-se de uma visão chapliniana do mundo, não distanciada da que teria o homem comum.

Em permanente ?estado poético? Quintana parece não escolher assunto: todos lhe servem, tudo o que existe é poético na sua percepção feiticeira.. Ao fazer poesia como quem respira, Quintana não se situa, como poeta, acima dos demais ou fora do mundo. Ao contrário, sendo um entre outros (?Eu nada entendo da questão social./ Eu faço parte dela, simplesmente...?), como dirá, ele se dilui no contexto geral. Assim, o social, em Quintana, não está designado pelo poema: é o poema. Leiamos, nesse sentido, o soneto IV, de A rua dos cataventos, em seu final:

?Pra que viver assim num outro plano?
Entremos no bulício cotidiano...
O ritmo da rua nos convida.

Vem! Vamos cair na multidão!
Não é poesia socialista...Não.
Meu pobre Anjo...É...simplesmente...a Vida!..


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A poesia de Mario Quintana, desde o aparecimento de A rua dos cataventos em 1940, não cede ao gosto da época. Em meio ao versilibrismo dominante, herança ainda dos modernistas de 1922, os 35 sonetos rimados que compõem seu primeiro livro testemunham que o poeta já está à procura de uma expressão própria, comprometido apenas com ele mesmo.

Poeta urbano, desde o início, Quintana movimenta-se nas pequenas ruas da cidade, surpreendendo-as na inquietação do dia ou no silêncio da noite. Como um habitat natural, as ruas são o cenário privilegiado dos primeiros versos. Com freqüência ele a chama de ?ruazinha?, empregando o diminutivo para expressar afetividade. Já ao final do soneto ?II? ela ganha o valor que terá ao longo de toda a obra:

?O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme, ruazinha...Não há nada...

Só os meus passos. Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os de minha futura assombração...?

Esta imagem inaugural é a mesma que reincide no último soneto do conjunto, o ?XXXV?, sintetizando a visão da rua como território eleito, lugar ameno:
?Deixai-me em paz na minha quieta rua...?

A apropriação desse espaço, no poema, está a indicar a inclinação do poeta para reproduzir um universo particular, em íntima consonância com seu interior.É nesse sentido que se pode ler ainda a descrição de uma cidadezinha, no soneto ?XXIII?, como desejo manifesto de circunscrever um espaço reduzido de eleição, um vago ?País de Trebizonda?, sua ?Pasárgada?:
?Lá toda a vida poder morar!
Cidadezinha...Tão pequenina
Que cabe toda num só olhar...?
A redução de mundo se exprime ainda no movimento em círculo, representado pela ?ciranda?, cuja reiteração no obra como ?ronda?, ?dança de roda? ou ?catavento?, repercute no ritmo obtido também pelo efeito das repetições, simples ou anafóricas, e o emprego do tempo verbal:
?Dali a três quadras o mundo acabava.

Dali a três quadras, num valo profundo...
Bem junto com a rua o mundo acabava.
Rodava a ciranda no meio do mundo?.
A expressão da subjetividade vai fundir-
se, assim, nas formas que a cristalizam, manifestando-se ainda na qualidade da percepção que é sobretudo impressionista, ao adotar uma postura contemplativa e uma atitude estética na escolha dos processos de representação.

Por outro lado, se adota a forma fixa do soneto, também não se submete a padrões rígidos em seu emprego. Mesmo que nas primeiras composições predominem os versos decassílabos, esses se combinam com outros de distinta medida e acento, criando a variedade no interior dos poemas. Assim, os sonetos apenas obedecem a disposição formal da convenção e adotam esquema rímico tradicional, permitindo-se uma série de liberdades.



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