Memórias De Um Sargento De Milícias - Parte 5
(Manuel Antônio de Almeida)
IV ? A fortuna - Enquanto o compadre, procura o afilhado por toda a parte, o narrador, ao convidar o leitor para ver o que era feito do Leonardo, acaba chegando nas bandas do mangue da Cidade Nova, em uma casa coberta de palha da mais feia aparência, possuía dois cômodos e a mobília compunha-se de dois ou três assentos de paus, algumas esteiras, uma caixa enorme de pau que servia para várias coisas: mesa de jantar, cama, guarda-roupa e prateleira. Quem morava nessa tapera não era o Leonardo, mas sim um feiticeiro, um caboclo velho, que conforme crença da época, tinha por ofício dar fortuna. Não era só a gente do povo que acreditava, mas também muita gente da alta sociedade o procurava para comprar a felicidade pelo cômodo preço da prática de alguma imoralidades e superstições. Dentre a gente do povo que o procurava em busca de fortuna, temos o Leonardo Pataca por causa das contrariedades que sofria com um novo amor. Era uma cigana que Leonardo conhecera logo após a fuga de Maria, isso porque ele era romântico - termo que na época do narrador significa babão, já na época de Leonardo Pataca significava que ele não podia passar sem uma paixãozinha. Como a sua profissão rendia não lhe era difícil conquistar a posse do adorado, mas a fidelidade, a unidade no gozo, que era o que sua alma aspirava, isso não conseguira pois a cigana era tão saloia quanto Maria - da - Hortaliça, esta fugira com outro com a desculpa de saudades da pátria, mas a outra não eram saudades, o que fez Leonardo buscar meios sobrenaturais para consegui-la de volta, já que os meios humanos movidos por súplicas não funcionaram. O seu desespero era tamanho que se entregou de corpo e alma ao caboclo da casa do mangue, além de contribuir com dinheiro, já ter sofrido fumigações de ervas sufocantes, tragar bebidas enjoativas; decorar milhares de orações misteriosas, que era obrigado a repetir muitas vezes por dia; tinha também que depositar quase todas as noites em lugares determinados quantias e objetos com o fim de chamar em auxílio, dizia o caboclo, as suas divindades; apesar de tudo isso a cigana resistia ao sortilégio. A última prova para a reconquista foi marcada para a meia-noite; à hora marcada Leonardo encontrou à porta, o nojento nigromante que não permitiu que ele entrasse vestido, obrigou-o a trajar-se à moda de Adão no paraíso e após cobri-lo com um manto imundo, abriu-lhe a entrada. Lá dentro, após ajoelhar-se e rezar em todos os cantos da casa, Leonardo aproximou-se da fogueira, quatro figuras saíram do quarto e foram juntar-se a eles e todos dançavam sinistramente ao redor da fogueira quando de repente bateram levemente a porta e pediram para abri-la, isto fez com que todos de dentro se sobressaltassem: era o major Vidigal.
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