O Elogio Do Apocalypse
(Patryck Froissart)
Publicado em 2003 em Maurice, com poemas militantes, nos quais Patrick Froissart pinta a monstruosidade do homem exprimindo seu desejo da vinda de um mundo melhor. Eis o que escreveu Vel Putchay para o Express: através de uma poesia incontestavel, o poeta exprime os males do mundo que é preciso refazer. Com arrependimento, ele espera a derrota final. Com esperança, ele canta a realisaçao de uma profecia. E se o apocalypse fosse a nossa unica esperança! Se o fim do mundo fosse a nossa unica entrega! Porquê entao " levar mais longe este penoso cesto"? O elogio do apocalypse é um pequeno recolhimento de "poemas negros", imagem que esmaga, mas que convida a desejar com lucidez e poesia o fim dos tempos e o começo de um novo mundo, porque o titulo tem duplo sentido.O animal sera vencido pelo cordeiro. Entao, "em que o ultimo dia aterrorifica"? O autor explora, assim compreendemos, um unico tema obcessivo: o aspecto negro do mundo, que faz dele um poeta em que a visao oscila entre o desespero e a espera. De um lado "ninguem me convence/ Que eu vivo desesperado", escreve, de outro lado, "quem é este triste miseravel/ que anda pela terra?" interroga-se. Para compreender a origem deste sentimento ambiguo que anima a poesia, é preciso rever a ligaçao do poeta com a sociedade, enorme moita onde se esconde "a loucura do moderno Néron", porque "nesta madeira estao deitados modernos vampiros." Mas nos tempos modernos, "o lobo nao esta mais na madeira: ele grita à minha janela". Nao é preciso mais para adivinhar que existindo uma falha, ela so pode estar do lado do homem, "o ser inano". Sem duvida, "o homem é sempre o grande erro", escreve. Ousem ve-los, estes seres sem escrupulos: "eles matam, estupidos, movidos por doutores falsos." Enquanto "o padre babado corrompe o candido", e que "o padre presbitero prova o inocente", "ali o desonesto desvrenta uma mulher e pendura-a", "o nazi grita e faz dar um estalo", "o banqueiro desfaz malas e o judeu culpa". Por todo lado esta tudo sujo. E o poeta, sem forças, contenta-se em exclamar: "nos campos, nas ruas, so se vê sangue, so se vê odio!" Portanto o homem foi prevenido: "teus irmaos roubaras, violaras e mataras!" Mas nada pôde fazer para que isso nao acontecesse. Aqui esta o que confirma a veracidade que "o homem é um lobo para o homem". Ai esta porque a miséria se instalou nos caminhos, porque as crianças se vendem " selvamente " aos que ousarem as ter. E ai esta porquê " a humanidade polui-se e a doença é vencedora." E o poeta conclui que, apesar do céu caloroso, o suave passar da brisa, o quadro da praia que dorme e do lago calmo, para "a indiferente mascara" que ele é,"a hora é insolita neste século azarado." Ai esta quem explica porque a sua poesia se prende ao aspecto desta interrogaçao eterna: "por onde anda este deus que reina nos céus?". Mas ja é tudo vaidade. A poesia e a sua interrogaçao sao um grito no deserto. E o absurdo ganha "estes versos (que) fazem de cama ao (seu) proximo colchao" e todo o "poema é um ventoso verbalismo" que, de uma so vez, "se decompoe/ Fatalmente em prosa pobre/Todos os meus versos estao no meu genoma". Face a esse "povo imperfeito para a aliança cosmica", so lhe resta uma unica alternativa: a fuga. "Se vocês me tivessem oferecido, minha mae, com o dia,/a escolha de voltar a ir para o utero/ fugiria sem desgosto e sem demora/ para o raro prazer do imediato oposto". Ja que, neste momento, se ele nao tivesse aprendido os nossos débeis excessos, ele estaria a entrelaçar "versos ao desfolhar rosas". Porque em sua casa, "a frase é (seu) transporte./ O verbo (sua) patria, o pensamento lento (seu) desporto". Mas ja que nenhum homem tem coragem, é "aos seres pensativos, pacificos, sociais" que ele propoe reservar sua ciencia. Certamente o poeta aspira à tranquilidade,"à calma dos desertos". Nao é a vontade de fugir para "um buraco" e de fazer um festim aos frutos da insaciedade" que lhe faz falta. Mas "desistir? Sob que sois? Tudo é igual!" , "onde mudar de ares? Onde dispersar? Tudo esta sujo!", "Onde ir? Com que ideia?" Entao, é preciso agir. Porque, "gostaria de prever qualquer arredondamento de doçura, qualquer esfera branqueada, qualquer aura de frescura." Mas, infelizmente! Quanto a amargura é a constataçao da sua impotença, como ele exprime nestes versos: "eu junto o meu murmurio as vozes humildes que querem asfixiar de um canto doce o grito louco dos assassinos [...] a minha frase é timida e a minha pessoa é fraca". Nao ha saida. Nem no compromisso nem na fuga. Entao, "porquê inventar-se um destino"? Nao lhe resta mais que a possibilidade de alimentar em segredo um ultimo desejo: esperar passivamente até ao dia onde "vir-me-à a vontade definitiva e sabia/ de me envolver na areia emotiva de uma praia [...] A ideia agrada-me que um dia ao almoço me sirva/ a miseravel a quem faço um dom sem reservas/ Do meu vago citoplasma.." Por se vingar da matéria portadora de todos os males, o poeta escolheu entao lhe dar um destino: "Eu dedicarei a minha carne ao obscuro anelideo." Assim reconhece ele a fonte limpa dos seus males: "Procurei na terra um sentido para existir." Compreendemos porque o apocalypse fica desejavel!
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