Lance De Dardos
(Iracema Macedo)
A VIDA NUM LANCE DE DARDOS O poder de libertar o corpo e a alma, dançando com as bacantes , em pleno delírio de sacra orgia. Este que se atenua ao defrontar-se com a possibilidade DO amor tardio, tornando a mulher refém do homem amado. Refém e pitonisa de histórias passadas e futuras, já que o presente só o amor conduz. E nesse lançar de dardos tirar a lição para a vida de uma coragem toda feita de começos. Essa é a magia do livro de poesias de Iracema Macedo. Magia nordestina que, agora, se instala nas paisagens mineiras. Para nosso prazer, aldravistas ou não, Iracema veio lançar seus dardos por aqui. Dardos delicados, dardos agressivos, como se fossem feitos de mármore causam UM arrepio na espinha. Dardos que, em Minas, nos põem perante o risco de não mais vivermos sem essa palavra cantada, cheia de cores do nordeste, do Brasil, do mundo. Mundo mulher, mundo menina, realizado pela palavra coisa, palavra som. Esse é o tom do livro de Iracema. Essa poetisa que traz a poesia desde o nome, conseguindo transformar em viagem poética toda a sua vivência fêmea do mundo macho, sempre a procurar o seu porto. Mostrando um eterno desejo de repouso, de âncora: Cada vez me afoito mais E não encontro margens E não encontro porto Só encontro tempestades Onde atracar (MACEDO:2000,26) A brincadeira de signos e sentidos inicia-se na capa, a qual apresenta delicadamente um dardo, leve, suave, mas que sabemos poder perfurar os vários mundos de uma mulher, o coração de vários homens. Dardo que pode furar o ventre DA vida, mas que também capacita no jogo sutil dos arremessos de palavras e sentires. Mas, não se engane o leitor com a aparente simplicidade de seus versos, por trás dessa roupagem simples há uma complexa riqueza. Ë preciso embarcar de olhos bem abertos com toda a sensibilidade e percepção de pele: Matei o gato, mamãe, matei o gato Mas o gato, mamãe, não morreu Passou o resto da vida Atravessando a sala Ensangüentado Dona Chica não se espantou E disse em tom sábio: Esse bicho, Marília, não morre nunca Ou você foge ou finge suportá-lo (MACEDO: 200, 49) Iracema vem comprovar que não existe uma escrita só de mulheres, como afirmam alguns curiosos literários, pois sua escrita não marca o gênero, só a vivência do corpo, da alma, do sexo. O sujeito poético que se mostra nesses versos é um ser assexuado: mulher-homem-mulher. Há a permissão para o assujeitamento feminino perante a masculinidade do homem amado e desejado. Sujeição superficial, que domina a fera-homem. Mulheres que se fazem dominadas para conquistar seus homens. Fazendo-os fortes mesmo na fragilidade: Quando o homem sobre mim Fizer a cara do gozo, estarei velando Velarei como uma viúva, como uma freira Como uma puta A poesia de Iracema é um passeio pela vida da mulher frágil, forte, indefesa e fera. Mulher que se espanta com a pressa do tempo, mas que se entrega ao prazer do corpo e da alma, se libertando de preconceitos feministas ou machistas. Ela não busca uma doutrina, uma falsa ideologia-mulher, simplesmente se mostra como se vê. Um ser de lados diversos, que se deixa prender pelas armadilhas do sentir, mas que é audaz o bastante para devorar a carne de quem a fere. E essa força ela expõe quando nos conta que enfrentou furacões com (...) vestidos claros ou quando recorre a Drummond para comprovar os desvarios da chegada do amor maduro. Passear pelas trilhas de Lance de Dardos é participar de um ritual de vida. É se predispor a encontrar a si mesmo, sem medo dos arranhões que esse passeio possa causar a nós leitores. Esse livro é um brinde a vida, é um convite àbusca do ser feliz e inteiro: há tantas danças e os rituais. Tu não vês o rito da alegria na planta e mesmo na ferida, tu não vês um rito de alegria nessa ferida com bordas sagradas em tua perna? (MACEDO: 2000,109)
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