Angustia
(Karla Nunes)
Angustia é o terceiro romance de Graciliano Ramos, lançado em 1936, pela editora José Olympio - RJ, recebeu o Prêmio Lima Barreto conferido pela Revista Acadêmica. O romance ?Angústia? apresenta um narrador em primeira pessoa, Luis da Silva, funcionário público de 35 anos. Homem solitário, atormentado por visões, perseguido por assombrações de seus credores, Dr. Gouveia, o locador, pelo homem da luz, pelo comerciante judeu, e por recordações de sua infância, vive obcecado pelo amor da vizinha Marina, e pelo ódio, ira e vingança ao seu adversário Julião Tavares. A obra é um monólogo interior à qual, Luís mistura fragmentos de sua vida a fatos do passado e do presente. As recordações da infância são marcadas pela figura do pai Camilo Pereira da Silva, que passava a maior parte do tempo deitado na rede, fumando cigarro de palha e lendo Carlos Magno, dele adquiriu o gosto pela literatura. Pelo desmantelo do avô, Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva, fazendeiro, ex-dono de escravos, terminou sua vida esclerosado. Recordava da avó Germana, que havia morrido quando ele era ainda menino, da cozinheira Quitéria e da escrava Rosenda. Menino solitário brincava sempre só, seus companheiros eram os bichos da fazenda. Foi com eles que o garoto aprendeu a nadar e com isso fugir das torturas do pai, que o atirava no rio em um lugar fundo, quando ele não sabia nadar. Quando criança eram os empregados da fazenda que cuidavam dele. Os laços afetivos os quais se recorda eram dos de Rosenda, ex-escrava, que cuidava dele. A fazenda era um local descuidado, a casa cheia de goteiras, povoada por animais. O ambiente doméstico, degradado e sujo reproduz-se na fase adulta. Luis Silva mora em uma casa cheia de goteiras, com esgoto a céu aberto, os armários de mantimentos são infestados por ratos. Logo após a morte do pai, a fazenda tornou-se um lugar sem dono, no qual os credores entravam e saiam levando o que achavam pela frente. Estado Novo, 1930, Luis da Silva, imigrante nordestino, muda-se para a capital e torna-se um funcionário que escreve para o jornal do governo. ?Para que banda fica o purgatório? Seu Antônio Justino não sabia. Nem eu. Sabia onde ficavam o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas, lugares que me atraíam, que atraem a minha raça vagabunda e queimada pela seca. Resolvi desertar para uma dessas terras distantes. Abandonei a vila, com uma trouxa debaixo do braço e os livros da escola?. Sua percepção de mundo ocorre em meio a duas realidades: a) dos homens letrados, bacharéis, comerciantes, políticos e intelectuais; e a b) dos vagabundos, pobres e miseráveis. No jornal, nos cafés, nos encontros no Instituto Geográfico, Luis da Silva era um homem de ?...caricaturinha insignificante, um percevejo social, acanhado, encolhido para não ser empurrado pelos que entram e pelos que saem?. Escrevia aquilo que lhe ?pediam?, mentiras, elogios ao governo, vendia artigos a políticos que depois assinavam e publicavam como matérias pagas. Ouvia com indignação e crítica as conversas, as palavras medidas, pesadas, e os gestos lentos, as declamações patrióticas das pessoas que freqüentavam estes ambientes. Em um dos encontros no Instituo Geográfico conheceu, por acidente, devido a um esbarrão, Julião Tavares, literato e bacharel, reacionário e católico. De família rica, Tavares & Cia. Negociantes de secos e molhados, donos de prédios, membros influentes da Associação Comercial. Logo após o encontro, passou a freqüentar a casa de Luis da Silva. O protagonista critica o governo e relata a vida dura dos imigrantes nordestinos, que chegam a capital, fugindo da seca, com a ilusão de encontrar trabalho e uma vida melhor. Freqüentavam a sua casa o amigo Moisés, poliglota, de idéias revolucionária filho comerciante de judeu e Pimentel, escritor e colega de trabalho, Sr. Ivo que quase não fala balbucia frases ambíguas, aperreado, sempre na bebedeira. A criada Vitória de 50 anos, meio surda, que tinha mania de enterrar dinheiro. O mundopara Luis Silva é um lugar mesquinho regado por falsa moral, determinismo e fatalidade. A sua volta conviviam vários personagens de características específicas. Marina, estúpida, interessada apenas por dinheiro. Fútil, lia as notas sociais, ambicionava ter roupas, peles e sapatos bonitos, arrancava os pêlos das sobrancelhas, pintava as unhas e os lábios de vermelho. Seu destino assim como o de outras moças pobres estava determinado, casar-se-ia ou viraria mulher da vida. Antonia, cabocla, criada da vizinha D. Rosalia, ?...ingênua, meio selvagem, acredita em tudo quanto lhe dizem e tem grande necessidade de machos. Quando pega um, entrega-se inteiramente. Não escolhe, é uma rede?, vivia cheia de marcas de ferida. D. Rosalia era casada com um caixeiro-viajante, calvo e moreno, que andava sempre no interior. D. Mercedes, galega, sempre bem vestida, era sustentada por um figurão do governo. D. Adélia, mãe de Marina, quando jovem era mulher corada, risonha, de carnes enxutas, se tornou oblíqua, de modos lentos sutis, destinada a suportar grosserias e repelões. Sr. Ramalho, pai de Marina, sujeito calado, sério, asmático, eletricista da Nordeste. A fatalidade, o determinismo, o sofrimento e a tragédia são os elementos que fazem o elo de ligação entre os personagens. No livro Angustia há uma crítica social e política. Em sua malícia o protagonista critica a postura dos intelectuais dos homens letrados o seu distanciamento da realidade da miséria do povo. A obra é permeada por fatalidade e o determinismo em conseqüência da estrutura social injusta e desigual.
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