A Ponte Sobre O Drina
(Ivo Andric)
Conhecem Ivo Andric, prémio Nobel da Literatura em 1961? Leram a Ponte sobre o Drina? Se me tivessem colocado estas duas questões dois dias antes da redacção desta análise, teria respondido negativamente, sem nenhuma vergonha. Hoje digo?Sim?, com a satisfação daquele que sentiu surgir em si uma qualquer nova luz, porque acabo de terminar este magnífico romace, cuja leitura me deixou positivamente esclarecido. A ponte, construída sobre o Drina por un vizir do Império Otomano (nascido pequeno camponês num lugarejo da pequena cidade de Visegrado retirado por 10 anos pelos Turcos e levado a Istambul, depois convertido forçosamente ao Islão) constitui por sua vez uma fronteira e um elo de ligação entre a Bósnia e a Sérvia, e entre um Ocidente cristão e um Oriente muçulmano, cujas margens flutuantes posicionam Visegrado, à mercê das guerras, tanto num ?acampamento? como noutro. Da sua edificação, por volta da metade do Séc. XVI, até à sua destruição, por alturas da Primeira Guerra Mundial, a ponte é, no romance, o lugar central, o cenário, até mesmo a arena onde tudo se passa. Passa-se, bebe-se, fuma-se, apaixona-se, morre-se, mata-se, tortura-se, executa-se, massacra-se. Toda a História, com 400 anos, da cidade, da região, seguido do mundo, se vive digerido sobre a kapia. Os Cristão e os Muçulmanos (populações locais convertidas) vivem juntos em Visegrado desde sempre, respeitam-se, desconfiam uns dos outros ou odeiam-se e matam-se uns aos outros de acordo com as voltas da História, levados por um jogo que não dominam, e no qual intervém Turcos, Judeus sefarditas mais tarde Judeus asquenazis, Ciganos, Austríacos... Os líderes dos seus pobres destinos levam-lhes a ordem e orientam as suas violências, e raras vezes alguns curtos períodos de paz e estabilidade. O leitor segue a lenta evolução das mentalidades na sucessão das gerações, onde se fazem e desfazem costumes, onde se forjam, engrandecem, depois dissolvem-se as memórias colectivas, os destinos individuais, as humilhações, os receios ou vaidades e orgulhos comunitários. É um formigar de personagens, de tipos narrativos, de carácteres, atribulados, ou cruéis, ou gangsters, ou falsos, ou sábios, evoluindo numa atmosfera muitas vezes pesada numa pessimista dinâmica da história humana. A ponte, no meio dos turbilhões, permanece impassível e aparenta, aos olhos dos habitantes, ser o garante da perenidade de um destino apesar de toda a comuna, mas as derradeiras certezas colectivas quebram-se assim que colapsa sob os bombardeamentos, no decurso desta guerra, de 14-18, que marca o fim do antigo mundo: ?qualquer coisa foi arruinada nesta nova era.? A ponte é destruída, e tudo se torna incompreensível: ?Quem, então, saberá descrever e fazer sentir as vibrações colectivas que agitam subitamente as massas...?? A água não correrá sempre por baixo das pontes. ?Sempre houvera e sempre haverá noites estreladas.? Ivo Andric faz parte dos sublimes.
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