Confiança
(desconhecido)
De sol em sol, caminhamos nas estrelas como pirilampos tolos, cegos de tanto vê-las. De sol em sol expulsamos o frio que cega as noites, e a saudade parte como lobos hibernando na memória... Entre cada sol aquecemos a esperança e acendemos luas pelos cantos da casa. São momentos breves de paixão em que um sol se estende a nossos pés, como cão fiel das noites à lareira.
Na seiva do sol fazemos a sementeira do corpo entorpecido, ao buscar a força e o desejo de estarmos vivos. Sob o sol colhemos o trigo e a canseira, moemos a esperança e cozemos o pão ázimo da vida, cruzando essa ribeira que nos atravessa os sentidos, deixando o corpo fluir como flor de aloendro no murmúrio da corrente. E então mais perto de nós, temos um sol pleno à nossa beira e luz, a luz verdadeira, aquela que procuramos em cada novo amanhecer, com o sol na algibeira mas a alma negra de cegueira, o coração uma candeia de paixões quantas vezes traiçoeiras?
Sim, de sol em sol plantamos fé para colher medo. E há nos nossos sonhos um cavalgar precoce e são os cavalos da memória à solta pelos caminhos. E os caminhos são feitos de escuros rochedos. Por vezes são becos e os becos são muros e os muros barreiras, quintais fortalezas e o sol fica preso nalguma clareira, e nesses lugares de humidade esparsa a lua é tão fria, tão falsa e traiçoeira...
Na curva do sol descansa a montanha onde seremos talvez pássaro ou urze perdida - no cume do mundo onde já não voamos paixões, nem afastamos rumos mas onde a alma liberta descreve enfim um voo de ave, pássaro incolume, leve de penas, livre de paixões, ave do paraíso que se desfaz em luz e se inscreve no azul em forma de estrela cintilando silêncio e reluz reluz?
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