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A Nova Música Velha
(Luiz Otávio Santos)

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O violinista barroco Luis Otávio Santos formou-se pelo Conservatório Real de Haia, Holanda, foi aluno de Sigiswald Kuijken e é líder e solista da ?La Petite bande?, uma das mais conceituadas e atuantes orquestras barrocas do mundo. É professor de violino barroco.
 
 
Hoje, na entrada do século XXI, nos deparamos com um movimento musical, agora completamente consolidado e assimilado, sem precedentes na história da música: a interpretação da música histórica segundo o instrumentarium e os conceitos estilísticos de sua época, ou seja, em termos mais conhecidos (infelizmente ainda envolto de sensacionalismos e preconceitos), a música antiga com instrumentos de época. Mas, na verdade, o que está por trás desse movimento, quais as suas bases e seus limites?
Na minha opinião, de todas as descobertas, a mais importante é que a música desta época, aqui em questão, dos séc. XVII e XVIII, está fundamentada na estética da retórica e estruturada segundo os padrões do discurso oratório.
Isto quer dizer que os compositores desta época imaginaram sua música como um texto (ou poesia?) na qual a clareza na apresentação e desenvolvimento das idéias é essencial para a compreensão desse ?texto?. Assim, entendemos porque a ópera foi uma invenção desta época e porque a música, de forma geral, era rigidamente composta de frases musicais em que os encadeamentos harmônicos levam sempre à realização de cadências. Então, como um discurso, numa concepção totalmente teatral, organizado sob as leis dessa gramática musical, fez-se uma música onde as emoções eram provocadas através da eloqüência e agógica do compositor-intérprete, o que, a partir do Romantismo, seria substituída por uma música mais abstrata, mais preocupada em retratar emoções e estados de espírito do que propriamente dialogar.
É nessa diferença entre ação e ?tableau? que vemos a necessidade do uso dos ditos instrumentos antigos e suas respectivas técnicas. Nessas condições, os instrumentos originais possuem muito mais variedades de articulação e possibilidades timbrísticas que dão um caráter de fala humana à execução. O uso dos sistemas de afinação com temperamentos desiguais trazem à tona o emprego das tonalidades com uma finalidade retórica (tão bem explicada por documentos da época na teoria dos afetos), em que cada tonalidade possui uma cor própria e uma modulação indeica, uma mudança no phatos da obra. Sem dizer que, um ensemble equipado de instrumentos antigos possui todas as condições para se obter a transparência sonora ideal para uma boa compreensão da textura polifônica de uma obra, ou da dualidade baixo-contínuo/solo, que originárias da prima prática e seconda prática descritas por Monteverdi, são as duas formas básicas do pensamento musical dos séc. XVII e XVIII.
Limites? Sim, se insistirmos que, por exemplo, o violino e a técnica violinística da época de Bach se aplica também à música de Stravinsky e vice-versa. Uma manifestação artística nunca é limitada, quando apresentada coerentemente dentro de sua própria linguagem. Ao contrário, prova-se então que a obra de arte sempre nova e reveladora é, ao mesmo tempo, imortal. Cabe a nós, então, como artistas modernos, tentarmos entender melhor o passado, para que possamos viver um presente vibrante e atual, e ter um futuro mais esclarecido e, é claro, diferente.
Que lugar ocupa a música clássica nesse Brasil do ano 2000? Poderia-se dizer que, em um país com a história como a nossa seria apenas a perpetuação das tradições européias em um povo com passado colonial. Afinal, o que Bach e Vivaldi têm a ver com nossas praias, samba e futebol.
Mas aqui estamos falando do grande patrimônio cultural do mundo ocidental. Aí incluem-se também até os Homeros. É essa bagagem que nos dá condições intelectuais para nos situarmos no presente e visualizarmos um futuro, vide a famosa sentença ?um povo sem cultura é um povo sem passado?. Nesse aspecto, a música, como uma forma artística que se recria a cada vez e, portanto, sempre atual, desempenha um papel fundamental no aculturamento de uma sociedade.
Destaco, então, a importância do já aclamado, mundialmente, movimento da música antiga, onde se busca interpretar as obras do passado segundo os critérios estilísticos da época e utilizando o instrumentarium original para o qual foi composta. Na minha opinião, esse é um dos mais multifacetados fenômenos artísticos deste século. Para os músicos, a busca pelas antigas tradições interpretativas representa a quebra da inércia que a educação musical vinha sofrendo desde o Romantismo, possibilitando uma melhor compreensão das idéias artísticas e musicais dos compositores, suas obras e suas épocas, como também um radical aumento de recursos expressivos para o ato da performance, sem contar o estímulo pessoal em descobrir um novo enfoque à execução musical. Para o público, representa uma oportunidade de crescimento intelectual, com mais informações históricas e a vivência de uma manifestação artística inteiramente nova (que estranhamente se baseia no velho), afirmando a nossa condição de indivíduos modernos, marcados pela pluralidade de idéias e conceitos.
Contudo, palavras não descrevem bem imagens sonoras. Tudo o que se deveria dizer é ?vá ao concerto?, pois no discurso dos sons, o que mais importa é o indizível...



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