BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


Sagarana - Corpo Fechado [7º Conto]
(João Guimarães Rosa)

Publicidade
   

A amizade DO narrador com Manuel Fulô nasceu do nada. Solidificou-se quando o
narrador descobriu que Manuel comia cogumelo com carne. Manuel Fulô gostava de
moças, de cachaça e de conversa fiada.   
Beija-Flor era o orgulho de Manuel Fulô. Mais que isso: era uma espécie de
complemento. Besta ruana, de cruz preta no dorso, lisa, lustrosa, sábia e mansa
? mas só para o dono. Quando Manuel Fulô ficava bêbado ? e isso acontecia todos
os domingos ? atracava-se ao pescoço de Beija-Flor, e a mula levava-o com todo
o cuidado. Sabia abrir porteiras.   
Manuel Fulô conta ao narrador que viveu uns tempos com uns ciganos só para
aprender alguns truques. Os ciganos gostavam dele porque pensavam que ele era
bobo de verdade. Com os ciganos, Manuel Fulô aprendeu tudo sobre cavalos. Sabia
transformar animal ruim em bicho de valor em pouco tempo. Quando deixou os
ciganos, passou a ganhar dinheiro negociando com animais.   
Manuel Fulô contou ao narrador como conseguiu, certa vez, enganar os ciganos.
Arranjou dois cavalos imprestáveis, preparou-os, fez-lhe maquiagens para
disfarçar defeitos e trocou-os por dois cavalos bem melhores. Com isso, perdeu
a freguesia. Ninguém quis mais negociar com Manuel Fulô porque ele era capaz de
enganar até ciganos.    
Uma noite, o narrador e Manuel Fulô estavam bebendo cerveja na venda. De
repente, entrou Targino e caminhou na direção dos dois amigos. Pediu licença ao
doutor: queria falar um particular a Manuel Fulô. Pura formalidade, pois
Targino falou bem alto, na porta da venda, a três passos do narrador:
? Escuta, Mané Fulô: a coisa é que eu gostei da das Dor, e venho visitar sua
noiva, amanhã... Já mandei recado, avisando a ela... É um dia só, depois vocês
podem se casar... Se você ficar quieto, não te faço nada... Se não... ? E
Targino, com o indicador da mão direita, deu um tiro mímico no meu pobre amigo,
rindo, rindo, com a gelidez de um carrasco.   
Depois da ameaça, o doutor-narrador levou Manuel para a casa dele (do doutor).
Que fazer? O próprio Manuel não via saída. Targino era valentão, ninguém podia
com ele. No outro dia, enquanto Manuel ainda se recupera do porre, o doutor
saiu à procura de ajuda. Primeiro, foi à casa do Coronel Melguério. O homem deu
de ombros: se alguém tivesse coragem de enfrentar o Targino... Depois, foi a
vez do vigário: prometeu rezar. De volta, o doutor encontrou a casa cheia: eram
os parentes de Manuel Fulô. Pediam ao doutor que não fizesse nada. O correto
era entregar para Deus. Maria das Dores estava sozinha com a mãe, chamando pelo
noivo.   
Chamava-se Antonico das Pedras ou Antonico das Águas. Era pedreiro, curandeiro
e feiticeiro. No meio da aflição, foi ter à casa do doutor. Ali, com ar de
pressa, trancou-se no quarto com Manuel Fulô. Um tempo depois, a porta
abriu-se, e Manuel anunciou com cara de defunto: entreguem a mula Beija-Flor
para seu Antônio. O feiticeiro pediu um prato fundo, brasas, linha e cachaça.
Os apetrechos apareceram, e os dois se trancaram no quarto.    
Enquanto isso, Targino saiu à rua deserta e caminhava em direção à casa onde
estava a Maria das Dores, a noiva ameaçada.   
Manuel Fulô, depois de algum tempo trancado no quarto com Antônio feiticeiro,
saiu teso, cara de mau, olhar fixo. E assim, caminhou para a rua: ia ao
encontro de Targino. Todos ficaram assustados. Antônio Feiticeiro explicou:
Manuel Fulô estava com o corpo fechado. Arma de fogo não tinha poder sobre ele.
A mãe de Manuel pediu que segurassem o filho dela, pois seu Toniquinho pusera-o
doido. "Mas ninguém transpôs a porta". E lá estavam os dois, Targino
e Manuel Fulô, frente a frente. Manuel falou primeiro, xingando a mãe do valentão.
Mexeu na cintura e tirou dela uma faquinha quase canivete. Cresceu para cima de
Targino. Foram cinco tiros, as balas zuniram. Manuel Fulô pulou sobre Targino e
aplicou-lhe várias facadas pela altura do peito. O valentão capotou e morreu
num átimo. Manuel Fulô ainda lhe deu mais facadas, sujando-se todo de sangue.   
Manuel Fulô fez um mês inteiro de festa e até adiou o casamento, pois o padre
teimou que não matrimoniava gente bêbeda. O narrador foi o padrinho.



Resumos Relacionados


- Sagarana - 7prt

- Sagarana - 7prt

- Síndrome De E.m.i.

- Vertigo Y Futuro

- O Perfume: História De Um Assassino



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia