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Sagarana - Duelo [continuação Do 4ºconto]
(João Guimarães Rosa)

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CONTINUAÇÃO...meio-dia, Cassiano despediu-se: estava disposto a dar uma trégua,
descansar, esperar que Turíbio relaxasse. Depois que partiu, Turíbio chegou,
pronto para atravessar o rio. Em cima da balsa, Chico Barqueiro ainda o
ofendeu.

Depois de atravessar o Paraopeba, Turíbio andou muito, sempre para o sul, até
topar o rio Pará. Ali, encontrou uns baianos que iam para São Paulo, atraídos
pela cultura do café. Falaram em dinheiro fácil. Apesar da saudade da mulher,
Turíbio foi também. Depois mandava buscá-la.

Turíbio cansava-se à toa. Na parte da tarde, inchava as pernas e os pés. Foi ao
boticário que lhe deu vida até o próximo São João. se piorasse, morreria pelo
Natal. Diante de tal realidade, tomou uma decisão: vender tudo que possuía e ir
atrás de Turíbio; precisava matá-lo antes de morrer.

no caminho, Turíbio piorou e teve que fazer alta no Mosquito ? povoado perdido
num cafundó de entre morro, longe de toda a parte ? com três dúzias de
casebres. Esteve mal, com respiração difícil. Quando melhorou um pouquinho,
"indagou se por ali não havia um homem valente, capaz de encarregar-se de
um caso assim, assim..." Pagava até um conto de réis. Não havia. Nem no
povoado, nem na redondeza. Cassiano via o tempo passar, dia após dia, sentado à
porta de um casebre. A paisagem era triste.

Um dia, Cassiano assistiu a um irmão grandalhão batendo noutro menor. Chamou o
menor, de apelido Timpim, e indagou-lhe o nome e por que ele não reagia às
pancadas do irmão. O nome verdadeiro era Antônio, e o apelido oficial era
Vinte-e-Um. É que a mãe dele tivera vinte e um filhos, e ele foi o último. Não
reagia às pancadas do irmão porque a mãe lhe dissera que ele não levantasse a
mão para irmão mais velho. E todos eram mais velhos. Vinte e um era casado, e a
mulher dele acabara de ter criança. Cassiano deu-lhe dinheiro para comprar
galinhas e alimentara a esposa. No outro dia, Vinte-e-Um fez uma surpresa ao
doente: trouxe-lhe o filho para lhe tomar bênção. Cassiano ficou emocionado e
piorou. Um dia, quando Cassiano estava pior ainda, Vinte-e-Um apareceu
chorando: o filhinho estava muito doente, ele sem recursos para socorrê-lo.
Cassiano deu-lhe o dinheiro para trazer o médico até a criança e comprar os
remédios necessários. "Veio o médico; veio o padre: Cassiano confessou-se,
comungou, recebeu os santos óleos, rezou, rezou". Sentindo que a morte já
estava na porta, deu todo o dinheiro que possuía para o compadre Vinte-e-Um
(agora tratavam-se como compadres). Logo depois, morreu e foi para o céu.

Por meio de uma carta da mulher, que o invocava para o lar, Turíbio Todo ficou
sabendo da morte de Cassiano. "Ele já tinha ganhado uns bons cobres".
Comprou mala e presentes, pôs um lenço verde no pescoço para disfarçar o papo,
calçou botas vermelhas de lustre e veio de trem. Para perfazer o resto do caminho,
alugou arranjou um cavalo emprestado. No caminho, foi alcançado por um
cavaleiro miúdo, montando um cavalo magro. Via-se que os dois estavam em
petição de miséria. Depois de continuarem pela estrada, a miniatura de homem
perguntou se ele era mesmo o Turíbio Todo, seleiro de Vista-Alegre, que estava
vindo das estranjas. Turíbio confirmou. A viagem prosseguiu. Turíbio falava da
felicidade próxima: ver a mulher, levá-la para casa, talvez levá-la para São
Paulo. O caipirinha mostrava-se pessimista: não valia a pena a gente
alegrar-se.

De repente, no meio da estrada fechada, Turíbio levou um susto: o capiauzinho
falou com voz firme e diferente, segurando uma garrucha velha de dois canos:
"Seu Turíbio! Se apeie e reza, que agora eu vou lhe matar!" Turíbio fez
voz grossa, mas o caipira explicou: não ia adiantar nada porque ele prometeu ao
Compadre Cassiano, na horinha mesmo de ele morrer. Turíbio tentou ganhar tempo,
fez que ia rezar e puxou o revólver. Mas a garrucha não falhou: foram dois
tiros, um do lado esquerdo da cara, outro no meio da testa. Turíbio caiu morto,
e Vinte-e-Um esporeou a montaria, tomando o caminho de volta.



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