Sagarana - Sarapalha [3ºconto] 
(João Guimarães Rosa)
  
 Há uma narrativa principal, que é bem simples: a sezão (febre/malária)   avança por um povoado às margens do Rio Pará. As pessoas abandonam o povoado   deixando tudo para trás, as que não se vão morrem.      Na beira do rio Pará, a malária expulsou a gente de um povoado inteiro.   Deixaram para trás "casas, sobradinho, capela, três vendinhas, o chalé e o   cemitério". Morador, agora, só andando três quilômetros para cima. Moram   ali, na fazenda abandonada, três pessoas: Primo Ribeiro, Primo Argemiro e uma   preta velha que cozinha o feijão de todos os dias. Os homens não podem mais   trabalhar, a malária não deixa.      Em certo dia, ainda pela manhã, Primo Ribeiro começou a falar de morte. Achava   que o seu dia havia chegado. Por isso, puxou a conversa que se referia a uma   mulher. Se ela aparecesse, até a febre sumia. Ribeiro confessa que tem Argemiro   na conta de irmão. Por isso, tem coragem de remexer o passado. Estava casado   com ele há apenas três anos, e a ingrata fugiu com outro. Argemiro quis ir   atrás dos dois. Queria matar o homem e trazer a mulher de Ribeiro de volta.      Agora, Ribeiro não tem vergonha de confessar: não foi atrás dos dois porque, se   fosse, a obrigação era matá-los. Mas faltava-lhe, já naquela época, a coragem.   Talvez por causa da malária. Argemiro também soltou a imaginação. Chegou a   sentir ciúmes dela com o marido. E veio o boiadeiro, ficou três dias na   fazenda, com desculpa de esperar outra ponta de gado... Não era a primeira   vez que ele se arranchava ali. Mas nunca ninguém tinha visto os dois   conversando sozinhos... Ele, Primo Argemiro, não tinha feito nenhuma má   idéia....      Ela fugiu com o boiadeiro, e Primo Argemiro nunca lhe havia confessado o seu   amor. Arrependia-se disso. Se tivesse tido coragem. Talvez ela aceitasse, quem   sabe até teria fugido com ele, pois o boiadeiro ainda não havia aparecido. No   mínimo, ela agora estava pensando que ele era um pamonha.      Primo Ribeiro não se cansa de dizer que considera Argemiro um irmão; nem um   filho seria tão bom assim. O outro se sente mal. Resolve confessar o seu grande   segredo. Quando Ribeiro ouviu, apesar da febre e da fraqueza, ficou muito   zangado e insistiu que o Primo fosse embora. Argemiro explicou que nunca disse   nada a Luísa, nunca a desrespeitou, que ela foi embora sem saber de nada.   Ribeiro negava-se a entender. Só conseguia repetir que o Primo fosse embora.   Sentia-se picado de cobra.      Primo Argemiro, não obtendo o perdão de Ribeiro, reúne as forças para ir   embora. Caminha com dificuldade, passa pela rocinha de milho, assustando os   pássaros pretos que o confundem com um espantalho. O cão Jiló não sabe mais a   quem obedecer. Quer seguir com Argemiro, mas também quer ficar com Ribeiro. Na   dúvida, ficou. Argemiro segue adiante, com os primeiros sintomas da tremedeira.   E a lembrança vai buscar Luisinha, antes de se casar com Ribeiro. Ela estava   toda de azul. A paisagem ali também se enfeitava de flores azuis. Bom lugar   para se deitar e morrer.  
 
  
 
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