A Metamorfose
(Franz Kafka)
O Livro trata de uma novela importante na história da literatura alemã. O autor, Franz Kafka, é considerado, pela crítica mundial, como o autor do incompreensível. Kafka lança, na primeira frase do primeiro capítulo, a idéia central de sua ficção, ao apresentar o personagem principal como um caixeiro-viajante que acorda, um dia, metamorfoseado num inseto monstruoso. Esse início de história retrata a angústia do personagem ao se deparar, repentinamente, com outro Eu até então não revelado, porém não de todo desconhecido de si mesmo. Os ?sonhos intranqüilos?, apresentados na primeira frase, sugerem as inquietações interiores e antigas do personagem, que de um instante para outro, explodem sob a revelação de um ser diferente. O ?acordar? significa essa tomada de consciência. O ?metamorfoseado? representa o ?estado-metade? do ser antigo e do ser que ora se mostra. O ?inseto monstruoso? simboliza a estranheza que o personagem passa a ter de si mesmo, como uma ?capa? que utiliza para manifestar o conteúdo interno. A história revela a luta travada pelo personagem entre o inconsciente e o consciente, nos valores e estereótipos de família, trabalho e interações sociais, e também em sua afetividade. Kafka utiliza a simbologia de um inseto para representar a descoberta de uma nova aparência de si mesmo, a horripilância dessa outra natureza, ou uma ?recusa? do próprio ser, demonstrados pela descrição detalhada do corpo do inseto, do ambiente familiar (casa, quarto, cama, alimentação, higiene, etc.). Através das perguntas que o personagem faz a si mesmo, da conversa interna que trava o tempo todo na história ajuizando valores e pensamentos próprios, o autor consegue demonstrar os conflitos mais prementes do homem-inseto: ?o que aconteceu comigo, que tal se eu continuasse dormindo e esquecesse essa tolice, entra dia e sai dia..., acordar cedo deixa a pessoa embotada, o ser precisa ter o seu sono, o mais razoável era sacrificar tudo?, etc. Essas são questões representativas de um inconformismo do personagem com sua realidade de vida, questões que buscam respostas para a irregularidade e a indefinição das coisas que vive. Ao mesmo tempo, a importância do papel da família (pai, mãe e irmã), como suporte de segurança emocional, e o desmonte desse suporte após a ?desgraça? da transformação; a grande ruptura do eu antigo (menino, infantil e temente ao pai) para o surgimento de um eu novo (metade diferente, metade conformado, maturizado). O livro aborda a rotina familiar como o cenário da história, mas principalmente o cenário de um quarto, como o ambiente específico onde se desenrola todo o processo de transformação. Nesse ambiente particular, o personagem dá vazão à decrepitude mental, e nela agoniza completamente só. A ausência de um socorro ou conforto o leva a reconhecer-se como estranho ao próprio lar, desembocando num desfecho fatal. Durante toda a novela, o autor se preocupa em demonstrar a fragilidade humana, e ao mesmo tempo o poder de transformação, que é um processo solitário e individual. O questionamento é múltiplo e interno, as pessoas ao redor não conseguem acompanhar nem interpretar o que se passa na mente do personagem, deixando-o minguar à própria sorte. Expressões como: ?a maçã ficou alojada na carne como uma recordação visível?, ou ?a ferida nas costas de Gregor começou a doer de novo?, ?sua atual figura triste e repulsiva?, ?sentia-se simplesmente cheio de ódio pelo mau tratamento?, ?Gregor não respondia nada, ficava imóvel em seu lugar?, etc., demonstram a dor do personagem ante o comportamento da família. As interações sociais são mostradas como relações onde o ser humano nem sempre é visto por dentro, sobejando juízos e críticas externas, e muito pouca atenção às problemáticas individuais. Para exemplificar, o gerente, os inquilinos, as empregadas, os conhecidos, e os membros da própria família, são peças representativas dessas interações, onde uns acreditavam em suas próprias conjeturas sobre o ?inseto?, outros demonstravam repulsa, etc. Paralelamente, em todo desenrolar da história, as questões materiais também importavam como determinantes de sofrimento, quando o personagem indagava sobre a sua situação financeira familiar. As suas condições de sobrevivência e outros aspectos dessa relevância, como o sustento, o reconhecimento social, a admiração alheia, enfim, a importância que o personagem dava à atuação e ao papel do ser humano no mundo material e social. Ao final, o personagem passa a desinteressar-se completamente pela vida que a ele se apresenta, não vendo nela mais sentido, pois se vê como um animal, um ?isso? perante sua família, um estorvo, um tormento que precisava desaparecer. O personagem morre por absoluta tristeza. ?A maçã apodrecida nas suas costas e a região inflamada em volta, inteiramente coberta por uma poeira mole, quase não o incomodavam. Recordava-se da família com emoção e amor. Sua opinião de que precisava desaparecer era se possível ainda mais decidida que a da irmã. Permaneceu nesse estado de meditação vazia e pacífica até que o relógio da torre bateu a terceira hora da manhã. Depois, sem intervenção de sua vontade, a cabeça afundou completamente e das suas ventas fluiu fraco o último fôlego?.
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