Incidente Em Antares 
(Érico Veríssimo)
  
No livro, dividido em duas partes, mesclam-se acontecimentos       reais e irreais. Na cidade fictícia de Antares, apresenta-nos, o Autor, na primeira       parte, o progressivo acomodamento das duas facções (os Campolargo e os       Vacariano) às       oscilações da política nacional e a união de ambas em face da ameaça comunista, como       é conhecida, pelos senhores da cidade, a classe operária que reivindica seus direitos.       Na segunda parte, o "incidente" do título: a greve dos coveiros. Morrem       inesperadamente sete pessoas em Antares, incluindo a matriarca dos       Campolargo. Os coveiros       se negam a efetuar o enterro, a fim de aumentar a pressão sobre os patrões. Os mortos,       insepultos, adquirem "vida" e passam a vasculhar a vida dos parentes e amigos,       descobrindo, com isso, a extrema podridão moral da sociedade. Como as personagens são       cadáveres, livres, portanto, das pressões sociais, podem criticar violentamente a       sociedade.       O trecho escolhido mostra o plano dos cadáveres para       conseguir seu enterro.       Dona       Quitéria ergue-se, depois de dar duas palmadinhas       consoladoras no ombro do suicida, e diz em voz alta, como quem se       dirige a uma assembléia:            - Precisamos fazer alguma coisa!                Cícero Branco congrega os outros seis cadáveres:            - Companheiros, não é por estar morto que vou deixar de ser o       que       fui em vida: um advogado. Estive arquitetando um plano...            - Fale! - ordena Dona Quitéria.            - Qual é o nosso objetivo? O de sermos sepultados dignamente,       como       é de nosso direito e de hábito, numa sociedade cristã.            - O doutor falou pouco mas bem! - exclamou Pudim de Cachaça.            - Escutem com a maior atenção. Você aí, Joãozinho,       aproxime-se e       escute também. A idéia é simples. Amanhã pela manhã marcharemos todos       sobre a cidade para protestar...            - Uma greve contra os grevistas! - entusiasma-se Dona Quitéria.            - Se o fim da marcha é esse - intervém Barcelona -, não contem       com       este defunto.            - Espere - diz o advogado, tocando o braço do sapateiro. -       Usemos       de todas as nossas armas. Primeiro, a nossa condição de mortos. Sejamos       mais vivos que os vivos.            - Como?            - Impondo à população de Antares a nossa presença macabra. Se       não       nos enterrarem dentro do prazo que vamos impor, empestaremos com a       nossa podridão o ar da cidade.            - Que coisa horrorosa, doutor! - diz Erotildes, ajeitando os       cabelos num gesto faceiro.            - Por que não se põe em votação a proposta do Dr. Cícero?       - pergunta o sapateiro.            - Bom - faz o advogado. - Não direi que aqui em cima estejamos       numa democracia. Imaginemos que isto é uma... uma tanatocracia. (E os       sociólogos do futuro terão de forçosamente reconhecer este novo tipo de       regime.) Preciso saber se todos vocês me aceitam como advogado, caso em       que terão de me passar uma procuração verbal para eu agir em nome do       grupo.            Dona Quitéria sacode a cabeça num movimento afirmativo.       Erotildes,       Pudim e Menandro a imitam. Barcelona, porém, hesita:            - Primeiro quero conhecer melhor o plano.            - Simples. Descemos juntos pela Rua Voluntários da Pátria ruma       da       Praça da República. Lá nos dispersaremos, cada qual poderá voltar à sua       casa... Para isso teremos algumas horas. O essencial (prestem a maior       atenção!) é que quando o sino da matriz começar a dar as doze badaladas       do meio-dia, haja o que houver, todos devem encaminhar-se para o coreto       da praça, sentar-se nos bancos em silêncio e ficar à minha espera.            - E que é que você vai fazer? - quer saber João Paz.            - Vou primeiro à minha casa buscar uns papéis importantes...       Depois me dirigirei à residência do prefeito para lhe entregar um       ultimato verbal... ou nos enterram dentro do prazo máximo de vinte e       quatro horas ou nós ficaremos apodrecendo no coreto, o que será para       Antares um enorme inconveniente do ponto de vista higiênico,       estético... e moral, naturalmente."  
 
  
 
Resumos Relacionados
 
  
- Zodiac
  
  
- O Perfume:  História De Um Assassino
  
  
- Life Says Impossible?????????
  
  
- Daniel Deronda
  
  
- Transport Management
  
 
 
 | 
     |