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A Intrusa
(Júlia Lopes de Almeida)

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    O narrador, inicialmente, nos apresenta uma
reunião em casa de Argemiro - representante do poder econômico, como o
próprio nome sugere -, onde estão presentes o padre Assunção, o deputado
Armindo Teles e Adolfo Caldas, diletante sem profissão definida. A conversa
gira em torno da contratação de uma governanta, pois Argemiro, viúvo, quer
ter o prazer da companhia de sua filha Maria, até então vivendo com os avós
maternos, numa chácara distante. Tal solução de Argemiro suscita opiniões
contrárias, porque "feia ou bonita a mulher é sempre perigosa". O dono da
casa, vítima dos desmandos e desmazelos do ex-escravo Feliciano, cria da
Baronesa sua sogra, mantém-se firme no propósito de entregar sua casa e sua
filha aos cuidados de uma governanta, pois "uma casa sem mulher, afirmava
ele, é um túmulo sem janelas: toda a vida está lá fora". Alice é a candidata
que se apresenta aceitando as regras do jogo - cuidar de tudo mantendo-se
invisível; para tentar calar as más línguas, Argemiro impõe a condição de
jamais se encontrar com a governanta, impedindo dessa forma qualquer outro
tipo de envolvimento. Viúvo, pretende se manter fiel à memória da falecida a
quem prometeu, no leito de morte, jamais se casar novamente. Embora as
regras do jogo sejam rigorosamente observadas, as más línguas, como é
costume, não se calam, e, envolvido pela eficiência dos serviços prestados
por Alice, ele acaba pedindo-a em casamento.



Mas, até este
desfecho feliz, ele será disputado pela Pedrosa, mulher de ministro, que o
quer para genro, e pela Baronesa, que lhe cobra a promessa feita a sua
filha.       A Pedrosa - uma espécie
de homem de saias, para o contexto da época - é quem constrói
a carreira política do marido, que passivamente se deixa
manobrar por ela. Diz o narrador, a propósito desta
manipulação, que a Pedrosa "vingava-se do destino a ter
feito mulher". A autora tem, portanto, consciência da
perversidade do "destino de mulher", embora reconheça
que nada pode ser feito para mudá-lo; ela denuncia também, de
forma bastante romântica, as manobras usuais para garantir
"bons" casamentos, deixando de lado as razões do
coração. A filha da Pedrosa, vexada, se nega a ser objeto de
transação e acaba encontrando seu príncipe encantado. O
tratamento dado à Baronesa, como representante da aristocracia
decadente, é primoroso; a descrição desta personagem -
"cabelos completamente brancos", "faces
flácidas", "carne do pescoço descaída" - dá a
medida do declínio de uma classe e de seu desespero diante da
perda do poder. Alice representa para a Baronesa a intrusa, a que
veio para se apoderar de todos os seus bens, levando Argemiro a
romper com a promessa feita. Ela tenta evitar o desastre,
recorrendo a uma cartomante e se aliando a Feliciano, para quem
Alice representava também um enorme prejuízo; antes, ele
dispunha de liberdade e intimidade com as coisas do patrão,
valendo-se, indevidamente, desses poderes. Alice é a intrusa que
vai, através do trabalho eficiente, ameaçar sua
"feliz" irresponsabilidade. As manobras empregadas pela
Baronesa não só a tornam mais vulnerável como anulam sua
antiga dignidade; no afã de não perder o prestígio, ela causa
pena e repulsa ao mesmo tempo. O único personagem que se mantém
a seu lado, com exceção do marido - agora velho e alienado - é
o padre Assunção, elemento importante na trama romanesca, uma
vez que se deve a ele a descoberta do passado de Alice. Filha de
advogado e neta de general, sozinha no mundo e responsável por
um casal de antigos empregados, ela, sem recursos, mas com boa
instrução, faz do trabalho o caminho de ascensão social;
estávamos, então, ainda sob o impacto da Proclamação da
República e das transformações sociais dela decorrentes. Com a
queda da monarquia e o fim da escravidão, o trabalho passa a ser
o caminho trilhado pelas classes emergentes na busca de um lugar
ao sol. Maria, filha de Argemiro, vai passar das mãos
descuidadas da Baronesa para a orientação segura de Alice, que
transforma a criança selvagem numa menina prendada a quem não
faltam noções de caridade e amor ao próximo. O romance torna
visível o problema da educação da mulher, corrigindo atrasos
correntes na época. Para a Baronesa, a neta não precisa de
instrução, pois nasceu para ser amada e isto deve bastar para
sua felicidade. Argemiro se opõe a esta visão retrógrada,
exigindo algo mais para sua filha sem, no entanto, ultrapassar os
limites impostos à mulher pelo sistema. A atuação pedagógica
de Alice sobre Maria é, como tudo o mais, eficiente, enquadrando
a menina no padrão de instrução exigido na época:
conhecimentos de francês, música, decoração do lar e,
sobretudo, a descoberta do outro, numa expansão bem
"feminina" da dádiva pessoal. O padre Assunção é um
elemento importante no processo educativo de Maria; companheiro
de juventude de Argemiro, decidiu-se pelo seminário quando o
amigo declarou sua intenção de casar-se com a mulher que ele
amava. Ficou sendo seu confessor e ocupou-se da menina Maria como
se fosse sua filha... Ao final da narrativa, ele e a Baronesa se
consolam mutuamente da perda do poder. Com relação à Igreja,
representada pelo padre Assunção, a narrativa não se define,
pois ele, apesar de aliado da nobreza, é quem defende Alice,
revelando suas virtudes, sobretudo cristãs. É um personagem
ambíguo que enriquece a narrativa com várias possibilidades.
Mas a grande incógnita é Alice, narrada por todos e sem voz
própria. Ela se apresenta toda coberta, no ato do contrato de
serviço, a ponto de Argemiro não saber como ela é; só fica
clara sua condição humilde e carente através da postura e dos
sapatos cambados. Poucas são as palavras trocadas entre os dois;
diálogo só retomado no final, quando Alice vai prestar contas.
O que se sabe dela é dito pelos demais personagens, através de
juízos desencontrados, o que confere uma certa ambigüidade à
personagem. O fato de ela conquistar Argemiro pelos serviços
prestados faz do trabalho um caminho eficiente de ascensão
social e do casamento um meio lícito de enriquecimento. Mas o
romance ameniza este materialismo de transação matrimonial,
revelando, através dos pensamentos de Argemiro, seu envolvimento
com aquela sensação prazerosa que uma casa bem administrada
proporciona. Júlia Lopes de Almeida, com sua apologia do
trabalho, aponta para a mulher um caminho eficiente para a
realização de suas ambições, que, no âmbito restrito da
época, se reduziam a ser mãe, esposa e dona-de-casa. Desta
forma, ela reduplica o discurso dominante, apesar da consciência
desta dominação; é o "destino de mulher", apontado
criticamente por Simone de Beauvoir e questionado por Clarice
Lispector, em Laços de família. Elaine Showalter, autora de
vários trabalhos de teoria crítica feminista, ao estudar o
romance inglês de autoria feminina, divide-o em etapas, tomando
como ponto de referência a cultura dominante: feminine, feminist
e female correspondem a três momentos desta literatura que se
inicia com a imitação da tradição dominante (feminine) e
termina com a busca da identidade (female), passando pelo momento
do questionamento desses valores (feminist). Sem se constituírem
em categorias rígidas, nitidamente separadas, esses conceitos,
devidamente trabalhados, são úteis para a compreensão da
literatura de autoria feminina. O caso de Júlia Lopes de Almeida
inclui-se no que Elaine Showalter chama de feminine, pois sua
obra faz, como a de outras escritoras da época, a apologia das
rainhas do lar. O universo ficcional por ela representado está
repleto de mulheres que se redimem (ex.: A falência) e se
realizam (ex.: Correio da roça), através do trabalho, mas de um
trabalho doméstico que não ultrapassa a horta e o jardim. A
casa de Argemir



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