Formação Continuada: Quais Conhecimentos Compõem Os Nossos Saberes
(Márcia Elizabeti Machado de Lima)
Formação Continuada: quais conhecimentos compõem os nossos saberes? Nos últimos anos, muito se tem falado na necessidade da constante formação em todas as profissões. Antes, um profissional de qualquer área, que concluísse a formação universitária, precisava, apenas, fazer um curso de reciclagem, de vez em quando, para garantir um nível de qualidade satisfatório à continuidade da carreira. Hoje, o movimento do mundo não nos permite pensar nesses termos. O contexto exige, cada vez mais, que estejamos antenados a esse mundo chamado de pós-moderno, globalizado, em que, por mais que nos esforcemos, vivemos, sempre, a sensação de incapacidade de acompanharmos o ritmo frenético desse mundo. Não é, apenas, uma sensação. De fato, é impossível, na velocidade em que tudo acontece, apropriarmo-nos, com profundidade, do todo que compõe esse cenário. E temos, ainda, um outro impasse de uma dimensão tamanha: ter sabedoria, suficiente, para fazermos escolhas, em meio a um universo de oportunidades. Em outras palavras, discernirmos o que nos serve, ou não, sob o risco de, a ânsia de ver tudo, resultar em não vermos nada, transformando-nos em seres superficiais, adquirindo a cegueira branca que contagiou as personagens de Saramago, em Ensaio Sobre a Cegueira. Feita essa introdução, passemos a pensar, um pouco, sobre o quê significa ser professor, nesse contexto. Como temos construído os nossos saberes? Temos olhado o que se passa à nossa volta, ou nos mantemos fechados, cada um na sua especialidade? Temos investido no nosso lado sensível, ou atribuímos valor superior ao cognitivo? Somos capazes de oferecer o algo mais que as crianças, os adolescentes, o jovem, o adulto, que compõem as nossas salas de aula, requerem de nós? Por fim, tomando de empréstimo, um questionamento feito por Goulart, O que temos lido ultimamente? E é bom esclarecer, que não estamos nos restringindo, aqui, à leitura de livros. Entretanto, acreditamos, que o livro deva ser o sagrado alimento do professor, lembrando Rubem Alves, ?É com grandes livros que professores mestres de vôo fazem seus alunos irem mais longe?. Para darmos seqüência ao tema da leitura, baseamo-nos em Foucambert (1994), para quem ?Ler é construir significados e quanto mais lemos maior é a rede de sentidos que podemos tecer.? Seguindo esse raciocínio, seria coerente pensar em rede, sem nos abrirmos para além da nossa área de formação? Antes de abordarmos o que pensamos sobre isso, ressaltamos a importância primeira de lermos o mundo, por mais que pareça redundância, é sempre bom lembrarmos o Mestre Paulo Freire, que ?a leitura de mundo precede a da palavra?. Nós, professores da Área de Linguagem, costumamos dizer que somos privilegiados, pois se abrirmos espaço à entrada, na nossa vida e nas nossas aulas, dos infinitos gêneros textuais existentes, e mais especificamente, os gêneros literários, do clássico ao contemporâneo, temos a possibilidade de estabelecermos relação com todas as outras áreas do conhecimento. É possível que a literatura realize o que defendemos aqui, graças às suas três faces defendidas por Antonio Candido, que diz ser a mesma: ?(1) uma construção de objetos com estrutura e significado; (2) uma forma de expressão, isto é, manifesta emoções e a visão do mundo dos indivíduos e dos grupos, (3) é uma forma de conhecimento, inclusive como incorporação difusa e inconsciente?. (1999: 244). Nesse sentido, defendemos a leitura literária como um bem necessário à formação espiritual do ser humano. Logo, fundamental à boa formação dos profissionais da educação, em todas as áreas. Pois, segundo Morin, ?o desenvolvimento do conhecimento racional-empírico-técnico, jamais anulou o conhecimento simbólico, mítico, mágico ou poético? (2002:59), que afirmamos, sem medo de errar, a boa literatura contempla a ambos. Aliás, as artes, de forma geral, têm esse poder: a música, a dança, o teatro, o cinema, a pintura, a escultura. Em maior, ou menor grau todas contribuem com a nossa formação humana. O que Fischer em outras palavras diz: ?(...) a arte é o meio indispensável para a união do indivíduo com o todo, reflete a infinita capacidade humana para a circulação de experiências e idéias...?(1971:13). E, seguindo a linha de raciocínio, acrescentamos uma pergunta: Que filmes temos visto? Damos o devido valor ao cinema nacional, que tem produzido, a todo vapor, nos últimos anos? E por sinal, com realizações brilhantes, com reconstituições de períodos históricos (não apenas), feitas com muita imaginação e arte, capazes de tocar fundo as nossas emoções, de expurgar os sentimentos ruins por meio da catarse, que segundo a Poética de Aristóteles, seria a purificação das almas através da descarga emocional provocada por um drama. Infelizmente, muitos desconhecem isso, e insistem na máxima: não vi, não gostei, e sem ter visto, ainda propagam, como visível demonstração de ignorância, que o cinema brasileiro é baixaria, é pornochanchada, em referência ao passado, provando total desatualização. Para arrematar essas reflexões, enfatizamos a nossa crença no valor da arte como promotora de seres humanos melhores, o que com certeza, resultará em profissionais melhores. No nosso caso, em específico, educadores melhores. E quem ganha com isso, além do sistema educacional, antes de tudo, somos nós, passando a viver com mais leveza, com mais sonhos, não deixando que as durezas do cotidiano se sobreponham às belezas da vida, que, ?por mais que seja errada, ninguém quer a morte? , como, sabiamente, canta Gonzaguinha. Então, se estamos vivos, busquemos formas de viver mais intensamente, na ?dimensão da poesia?, como, bem, disse Vinícius de Moraes.
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