O Ponto Cego
(Lya Luft)
O Ponto Cego é mesmo uma perspectiva vista, unicamente, pelo menino narrador que vislumbra pelos corredores da casa as teorias freudianas na medida em que narra os mais diversos posicionamentos das personagens, que vão da mãe, passa pelos filhos, o pai, as tias ao tio Nando ? que seria o único a receber nome na narrativa, não fosse Letícia - a filha morta. Por mais que a autora negue até mesmo conhecer alguma coisa sobre Freud, não há como alguém ler e não se assustar com tantas teorias desfilando páginas e mais páginas pelos cinco capítulos do livro. É um romance com tantas particularidades psicológicas que atravessamos a leitura com êxtases e mais êxtases ao deparar com tantos aprofundamentos e conhecimento da alma humana. É uma rede psicológica que devora. Devorar - Verbo presente do início ao fim da leitura em simbologia usada pelo bicho da seda - que tio Nando presenteia ao menino- que devora as folhas para produzir matéria prima, assim como os seres humanos se devoram para depois produzir ou mesmo descobrir algum sentimento precioso. As inovações vão desde personagens sem nome ao trazer de volta personagens de romances anteriores, aliás a autora afirmou que ?suas personagens reclamam quando não mais são usadas? e além disto, há um apego afetivo que vez ou outra é preciso ressuscitá-las. A linguagem quase sempre metafórica cria uma atmosfera íntima, uma cadeia densa e precisa quando analisa através do - Ponto Cego - situação por situação, vivenciada pela família. Toda história está relacionada com a família, cada ente é descrito de uma forma simples mas aprofundada e caracterizada, como se as personagens fossem criadas de dentro para fora - característica do Movimento Realista - é uma leitura muito prazerosa. Quem não ouviu da boca de Lya Luft não conhecer nada de Freud jamais acreditaria que a autora não criou suas personagens a partir das teorias Freudianas. Só não entendo como Lya Luft cita Freud em uma de suas crônicas na revista Veja. O menino narrador que faz questão de não crescer, não consegue imaginar seus órgãos crescendo para fora do corpo, dissimula esse não crescimento a partir do momento em que sua mãe já não brinca mais com ele e nem o enche de carinhos, ao mesmo tempo em que não gosta do pai e critica durante toda narração o poder patriarcal, quando na verdade, tudo pertencia à mãe e essa se fazia nada para que o pai fosse o tudo. O pai desde que perdeu sua filha caçula e preferida desgostou de tudo e ignorava e desvalorizava o menino. Um complexo de Édipo perfeito, uma das teorias de Freud que se mostra aqui. Já o filho sublimava todo esse desafeto ao desenvolver uma narrativa minuciosa e interessante de cada personagem, capaz de fazer de todos o que bem quisesse, como um controlador de suas vidas. Esse brincar de criar aliado ao ser criança reforça a teoria de Freud em que as crianças que mais inventam brincadeiras estão mais propensas a serem artistas. Outras teorias Freudianas presentes na narrativa: da sexualidade e da sublimação, do narcisismo quando o menino fala em vingança. A estruturação ego-absorção faz-nos analisar o menino em três aspectos: o que ela havia de ser, o que ele gostaria de ser e o que ele era ? o próprio artista, apesar de ser na narrativa ignorado e ridicularizado por todos, principalmente pelo pai. Oscar D?Ambrósio é perfeito ao dizer: ? há no livro uma lúcida mistura de realismo fantástico com momentos de densa penetração psicológica.? É um livro que até o momento em que falei com Lya Luft, parecia-me um romance que foi elaborado de um modo tão detalhista e trabalhado e esmerilado e pesquisado, porém após esse encontro, entendi que criação é um estado humano que produz riquezas misteriosas que jamais alguém poderá conceituar e comprovar. Aliás, nem Freud que tanto tentou conceituar um artista, conseguiu-o.Escreva o seu resumo aqui.
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