A Criança De Areia
(Tahar Ben Jelloun)
"Enviei a minha alma para o invisível, para que ela me soletre algumas carta do além e, após muitas semanas, a minha alma voltou dizendo: "pronto, sou eu o Inferno e o Céu" escreveu Omar Khayyam. Penso que Tahar Ben Jelloun, escritor marroquino que recebeu há vinte anos o prémio Goncourt pelo seu melhor livro A noite sagrada, inscreve-se no mesmo registo que aquele poeta sufi do século XII, tomado pela liberdade poética e de estética matemática. Pois ele foi ambos!... E, o autor de a criança de areia não escrevia que a poesia É matemática? Este livro apresenta uma grande espiritualidade, uma profundeza abismal juntando com grandeza a carne e o espírito (a maior busca de todos os tempos), num sistema marroquino da época, emprenhada num latente adormecimento quase místico que apenas espera por um testemunho para surgir sol após sol ? o testemunho de uma mentira política e de um medo unânime de... denunciar. Tahar Ben Jelloun foi a testemunha, o percursor de uma literatura com uma profundeza rara, revelando com rebeldia o modo de funcionar do Maroco profundo ao mundo. A criança de areia (obra baseada em factos verídicos) reconta a história de um dos maiores escândalos do seu país. O autor baseou-se num jornal íntimo. É a história de Ahmed, a criança-monstro, fruto de uma imensurável mentira. O seu pai, após ter tido sete crianças, apenas raparigas, disse antes de ele nascer: "qualquer que seja o sexo da criança, será um rapaz!" E... foi uma rapariga. Pouco a pouco, Ahmed, educado como um homem, dum pacto ligando a parteira, a mãe e o pai, descobriram o seu corpo, e desejos ambivalentes, andróginas, mais do que perturbadores.
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