Revista "o Cruzeiro"
(Vários autores.)
Crônicas de exaltação patriótica em revistas semanais da época Tri-campeões, vinha do México um ufanismo que ainda se justificava. "Ame-o ou deixe-o" vinha daqui mesmo, da província do Médici, no Maracanã, de radinho de pilha no ouvido. Das três sentenças anteriores, apenas Pelé, Gerson, Tostão e Rivelino exerceram a sua arte sem nenhuma forma de comprometimento. A paixão por futebol de Medici podia ser sincera, não deixando, porém, ao ostentá-la, de ser conveniente, além de politicamente interesseira. Inexplicável mesmo é ler que determinados intelectuais, cujos nomes convém omitir, pois não estão mais vivos para se defender, praticamente coonestavam o clima de ufanismo oficial da época, em crônicas evasivas, tão cheias de dedos, muito mal escondidos em luvas de pelica, provavelmente compradas com o dinheiro que a propaganda da ditadura devia pagar pelos elogios de prestígio. É quando comparo com Niemeyer, com Chico Buarque, com Ferreira Gullar, cujo depoimento vi em "a vida é um sopro", que não é bem "a vida é um sopro", mas que não faz diferença por não ser, pois em se tratando de Niemeyer nenhum material é suficiente. Gullar exalta a dignidade dos intelectuais que não se cumpliciaram com a ditadura. E, de fato, não há desculpa: de um lado, o artista, o escritor; do outro, o ser humano. Se essa classificação esquemática funcionasse, Hitler seria considerado um grande artista plástico. Porque Hitler pintava e, tecnicamente, era bom. Não acredito em separação: um artista, um escritor, pra ter valor, tem que ser antes um humanista. Seu não comprometimento constitui o material de que a sua arte mais precisa que é justo a liberdade, a independência para a defesa dos valores da vida. Como apreciar um escritor, um pintor, se as mãos que escreveram aquele livro, que pintaram aquela tela são as mesmas que fecharam os olhos para a tortura, a iniquidade e a injustiça? Não digo questões menores, limitadas ao campo pessoal. Graciliano era muito seco e bastante antipático, mas foi ele quem foi pro presídio da Ilha Grande por suas ídéias políticas. Lá não teve moleza: "comunista tem de morrer", era a ordem de Filinto Muller, chefe da polícia política de Getúlio. E o horror da Ilha Grande conheceu antes o estágio do Pedro II, navio ancorado na baía de guanabara, como presídio de triagem. Políticos, escritores, artistas, malandros da Lapa, vagabundos, assassinos, tudo se misturava e formava uma latrina humana no porão do Pedro II. Passado o horror, livre da cadeia, sem dinheiro, sem emprego, mulher e filhos pra sustentar, Graciliano aceita a contragosto a ajuda de Josè Lins do Rego, literato filho de usineiros do nordeste. Situação profundamente desagradável. Graciliano, então, é convidado, mas, se recusa, mesmo em tais condições, a escrever panegíricos do Estado Novo em publicações organizadas pelo dipe. A colaboração, em sua ironia perversa, era paga num nível muito superior ao que se pagava na imprensa da época. Graciliano recusou o quanto pode, até que esgotado ao extremo, resolveu escrever, mas impondo-se uma condição: nada de panegírico. Essa é a origem de "Pequena História da Republica" e um personagem mentiroso, do qual Chico Anísio copiou literalmente o Pantaleão, até na cadeira de balanço descrita por Graciliano
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