O Espanta-espíritos
(Rafaela Plácido)
O espanta espíritos Trata-se de uma colectânea onde a autora reuniu textos avulsos, provenientes das mais variadas inspirações. Desde crónicas de viagens de combóio até textos de pura ficção, ressalta muitas vezes neste livro uma critica social velada mas suficientemente mordaz do país contemporâneo, sobre o qual a autora se debruça quer a partir de pequenos pormenores quase irrelevantes da vida quotidiana quer através de factos sociais importantes, que transforma em pequenas metáforas muitas delas de cariz político universal. O título desta obra é o mesmo de um pequeno conto do livro e tudo foi sendo escrito enquanto participava no fórum electrónico de um jornal português, de onde recebia grande parte dos estímulos para as historietas que, com frequência, lá publicava. Dada a impossibilidade de fazer um resumo do livro, optou-se antes por transcrever uma pequena parte da história ?Uma galinha chamada Guilhermina? escrita na altura em que, por causa de uma eventual pandemia de gripe das aves, a legislação obrigava, entre outros, ao registo de galináceos nas juntas de freguesia. ?Tinham passado três dias quando a mulher, munida das testemunhas necessárias que asseguravam a veracidade do nascimento, na conservatória, procedeu, com um ar embevecido de galinha de abas largas e bico aberto até aos olhos, ao registo da sua portentosa criação, nascida depois de um bem sucedido tratamento de fertilização que presenteara toda a casa com doze felizes rebentos, douradinhos e lindos como um sol de primavera generosa disposta a levar a criançada à idade adulta sem problemas de maior. Fora difícil, mal soube que iriam nascer tantos gémeos igualzinhos, arranjar-lhes um nome que os distinguisse uns dos outros, quando tivesse de lhes dar de comer ou quando tivesse de lhes chamar a atenção pelas asneiras que, inevitável e salutarmente como é apanágio de todas as crianças, eles haveriam de cometer durante a infância ou até mesmo em idade adulta, como, também, nos tempos correntes, não é de admirar. E, como a escolha se tornasse difícil e a confusão das nomenclaturas fosse quase certa, logo que se dispôs a registá-los como criaturas de Deus susceptíveis de terem de cumprir a lei dos homens, de imediato tratou de arranjar um critério de distinção, uma espécie de mnemónica que evitasse ferir a susceptibilidade dos ganapos, quando lhe saísse da boca uma graça sem correspondência alguma com as penas e com o casaco nominal do interpelado.?
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