Fogo Morto
(José Lins do Rego)
Fogo Morto, de José Lins do Rego, pode ser considerado um integrante tardio do "ciclo da cana-de-açúcar", conjunto de obras do autor que trata de uma mesma temática: o universo nordestino e a decadência de uma sociedade aristocrata, latifundiária e escravista. Valendo-se de um aguçado espírito de observação, José Lins faz um levantamento da vida e do cotidiano dos engenhos da Paraíba, particularmente do engenho Santa Fé, no município de Pilar, zona da mata paraibana, traçando um perfil do trabalhador pobre em sua luta contra a miséria e a servidão. A obra está estruturada em três partes que enfocam as personagens principais do romance: o seleiro José Amaro, o coronel Lula de Holanda e o capitão Vitorino Carneiro da Cunha. As personagens entrecruzam-se e aparecem ao longo de todo livro , cada qual representando uma determinada classe social, todas envolvidas pelo mesmo cenário de pobreza, superstição e doença. A primeira parte do livro apresenta o seleiro José Amaro representando o trabalhador livre branco do Nordeste. Mora nas terras do coronel Lula de Holanda e, Para enfrentar o proprietário despótico, alia-se ao cangaceiro Antonio Silvino. Incapaz de exteriorizar qualquer sentimento, José Amaro é temido pela população, que acredita que ele seja um lobisomem. Recebe um chamado do coronel Lula para ir até suas terras e quando vai recebe a ordem de que se retire de lá com a mulher e a filha, que sofre de problemas psíquicos e acaba sendo levada para o hospício em Recife. Na segunda parte o autor retrocede até a fundação do engenho Santa Fé, em 1850, pelo capitão Tomás Cabral de Melo que o faz prosperar. Após casar sua filha Amélia com Lula de Holanda, seu primo, vê seu negócio arruinar pela inépcia do genro. Depois da morte do capitão tomás, Lula disputa e acaba por tomar as terras da sogra .Com a abolição, os escravos abandonam as terras e o engenho, outrora opulento, desmorona-se. Lula refugia-se na religião após sofrer um ataque epiléptico dentro da igreja. Encontra, assim, no fanatismo religioso a cura para o seu mal. A doença é uma marca da família: Olívia, a cunhada, sofre de ataques de loucura; Neném, a filha de Lula, impedida pelo pai de casar, entrega-se à melancolia. A terceira parte do livro trata do capitão Vitorino da Cunha, chamado jocosamente de papa-rabo pela população. É uma espécie de Dom Quixote, defensor dos oprimidos, um homem idealista sempre ao lado dos mais fracos. É o momento do livro em que predomina a ação, o movimento. O cangaceiro Antonio Silvino invade a cidade de Pilar para saquear os moradores e o Capitão Vitorino defende a população e o engenho Santa Fé dos saques. Valendo-se de laços de parentesco com o influente coronel José Paulino, proprietário do engenho Santa Rosa, consegue fazer com que os cangaceiros desistam dos ataques. Mestre José Amaro, que se unira ao cangaço, é preso e acaba por se matar. Já o capitão Vitorino ganha a admiração e o respeito de todos e decide entrar para a vida política da região. Finalizando, as três personagens sintetizam uma estrutura social que se adequa a novas condições econômicas. Os engenhos cedem lugar às usinas que têm capacidade de produçao inigüalavelmente maior. Assim, as usinas adquirem o controle da produção, apropriando-se das fazendas. A expressão "fogo morto", título do livro, refere-se aos engenhos que interromperam suas atividades, deixando de moer a cana e fabricar o açúcar. A palavra "morto" remete a um duplo significado: pode ser vista como referência às fornalhas apagadas e como fim de uma sociedade que entra num processo irreversível de desmoronamento.
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