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A Banalização Da Língua Materna
(Nelson Maia)

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O ser humano é, indiscutivelmente, paradoxal. Levou milhões de anos em seu caminho evolutivo até se fixar Erectus; outros milhares para tornar-se Sapiens; cerca de cem mil anos para gravar desenhos e sinais em pedras no interior das cavernas, Sapiens Sapiens, que se tornara. Agora, apenas dez mil anos passados, desenvolvidas e partilhadas as línguas oral e verbal, mundo afora, decidiu desaprender a falar e não sabe mais escrever. É um fenômeno mundial, globalizado, como o que nos chega embrulhado de perigosa virulência. Uma pergunta, no entanto, não cala: por que, especialmente no Brasil, esse retrocesso é tão forte? Em terras tupiniquins, o silêncio consentido que se experimenta na comunicação contemporânea, na verdade, começou a enraizar-se já faz algum tempo. Numa análise crítica desprovida de paixão e preferências literárias, pode-se perceber seu nascimento no Movimento Cultural de 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, quando do advento da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo: desafiadora, contestadora, destruidora, transcendental. A Pintura, a Escultura, a Música, a Arquitetura, tudo mudara seguindo os padrões das Vanguardas européias. Mas à palavra escrita concedeu-se uma contagiosa permissividade oral ? defendida por ortodoxos lingüistas que as vêem como iguais ? para solidificar o descompromisso com o saber erudito. A crítica ao Modernismo é dirigida à destruição da palavra, jamais à concepção espacial da idéia, afinal não se pode negar a originalidade dos gracejos parodísticos de um Oswald de Andrade; ou o lirismo ?modernoso? de um Manuel Bandeira; ou ainda a prosa denunciadora dos costumes de um Mário de Andrade, o grande articulador e primeiro descontente com os rumos do próprio Movimento por não concordar com a antropofagia cultural dos excessos oswaldianos. Defendo a tese de que idéias não se consagram ensimesmadas, e sim através de debates e discussões em torno de suas premissas. Entendo, entretanto, que a ruptura dos padrões lingüísticos clássicos, acusados de pedantismo sintático e temática prosaica, forjaram a deselegância de um linguajar, hoje, esdrúxulo e ?pocotoístico? que abalam os alicerces de uma língua neolatina rica e abrangente, em detrimento a todo esforço de sábios e mestres que buscam ministrar um aprendizado sem firulas idiomáticas, mas condizente com sua herança lingüística, mesclada de indianismos, africanismos e latinismos de rara e grandíssima beleza etimológica. Alguns céticos dirão que a palavra verbalizada, instrumento do Registro Formal Culto, pode e deve-se adaptar às necessidades da massa, haja visto que o povo aprende e/ou repete o que lhe é ensinado, por conseguinte, culpam professores, taxando-os de mal instruídos e despreparados por não se aperfeiçoarem, conformados que estão com esse status quo. A esses críticos, respeitando-lhes as convicções e os dogmas, devo informar: muitos não têm chance num mercado exclusivista; outros precisam trabalhar em quatro, cinco, até seis estabelecimentos de ensino para que, aditados os parcos vencimentos, consigam sustentar suas vidas simples com um mínimo de dignidade. De fato resta-lhes nenhum tempo ou condição financeira que lhes permitam evoluir. Ainda assim, os que ousam criticar pouco fazem para minorar esses pseudo-defeitos de formação. Não se pode fechar os olhos à omissão do Estado que não provê o cidadão carente dos recursos necessários a uma vida plena, quer seja quanto a trabalho, moradia, saúde ou educação, entretanto não deve originar-se daí um estado de autocomiseração ou um impedimento natural por conformação que o impeça de evoluir como ser social inserido no contexto sociolingüístico. É possível converter uma vida sem porquês, desde que a vontade, a determinação e a busca pela vitória passem a pautar seus horizontes, e, nesse ponto, encontramos a PALAVRA como o início da necessária revolução cultural. Ela não precisa ser a mais bonita, porém, precisa, contextualizada. Não necessita de aprofundamento técnico, mas disposição para conhecê-la e utilizá-la em sua plenitude: começa-se a escrever bem, ao ler e falar bem, portanto, não precisamos de retórica, mas do uso que a torne dinâmica e perfeita. Ou então, ?mermão...??



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