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A Paixão Segundo G.h.
(Clarice LISPECTOR)

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 A paixão segundo G.H. aparece em 1964 e marca o interesse filosófico nas obras da autora. Sobre essa questão aparece, por exemplo, o ensaio de Benedito Nunes, A náusea em Clarice Lispector2, publicado n''O Estado de São Paulo em julho de 1964. No início da obra somos apresentados à protagonista, uma mulher de elevada estatura social identificada apenas por suas iniciais, G.H. Ao se ver sem empregada a protagonista decide levar a cabo a tarefa de arrumar sua casa. Entretanto, ao adentrar o quarto da empregada, o cômodo escolhido para se iniciar a faxina, G.H. Se depara com o insólito que a leva à uma experiência radical dos sentidos do humano e dos sentidos do mundo. A narrativa é a-linear, G.H. Está realizando um exercício de reflexão. Já no início do texto a personagem nos deixa a par desse exercício. O destinatário da narrativa, assim como o tempo, é confuso e ora a narradora parece dialogar com o leitor, ora consigo mesma. As imagens relatadas possuem um aspecto onírico e os paradoxos perpassam todo o texto. Ao entrar no quarto da empregada para iniciar a limpeza G.H se depara com um estranho desenho à carvão feito na parede por sua ex-empregada, Janair. Um cão, um homem e uma mulher compõem o desenho que G.H. identifica consigo mesma. A partir dessa auto identificação, G.H. passa a especular sobre os sentimentos da empregada em relação à ela e os sentimentos dela, a patroa, em relação à empregada. Temos então algumas breves considerações sobre a questão social que logo serão esquecidas em favor de questões mais profundas, concernentes à existência humana. Esperando encontrar um quarto empoeirado, mal cuidado G.H. Encontra um quarto limpo e arejado, o que, aliado à descoberta do desenho na parede, levam a narradora a sentir um certo ódio pela empregada que, secretamente, subvertera o quarto. G.H. Se depara com um cômodo completamente diferente da casa, nele a luz adentra em todo o seu esplendor, sem obstáculos, divergindo da meia-luz de todo o resto da casa. Mas não são apenas o desenho na parede ou a luminosidade do quarto que surpreendem a narradora. Ao procurar restabelecer a ordem no quarto, a sua ordem, G.H se depara com uma barata e esse encontro a levará à uma experiência surreal do mundo e de seus limites, dos poderes do humanos e do não-humano. Um encontro com a barata, inseto quotidiano e, para a narradora, asqueroso, desperta em G.H. um processo de inquirição pelos fundamentos da realidade. A barata e G.H. Se opõem no início do encontro pelo medo da narradora; entretanto, tal oposição diminui e, ao final, G.H. se vê identificada com a barata. O humano e o asqueroso que, à primeira vista, se opõem, encontram na experiência de G.H. uma ancestralidade comum, ambas fazendo parte da mesma matéria primordial do mundo. A narrativa de A paixão segundo G.H. abre-se a várias possibilidades de interpretação. A linguagem parece ser um dos aspectos mais importantes do texto, uma linguagem que esforça-se por dar conta de uma experiência que lhe escapa. Pode-se dizer que o exercício da linguagem em A paixão segundo G.H. esforça-se para clarificar aquilo que Rudolf Otto denomina de o mysterium tremendum. A vida de G.H. transcorre dentro dos limites quotidianos da existência, o que ela denomina de ?formação humana?. Entretanto, a experiência no quarto de Janair a faz perder essa formação humana, indo em direção ao mais profundo que ora ela denomina de Nada, ora de Deus. A experiência é uma desorganização que a leva ao desespero da incompreensão absoluta. A razão, ponto de ancoragem da existência de G.H. se revela inútil, um acréscimo inútil, visto que não consegue dar conta do acontecido. Mas a tentativa de compreensão é uma tarefa necessária, uma vez que G.H. não pode prescindir da sua ?formação humana?: Já que tenho de salvar o dia de amanhã, já que tenho que ter uma forma porque não sinto força de ficar desorganizada, já que fatalmente precisarei enquadrar a monstruosa carne infinita e cortá-la em pedaços assimiláveis lo tamanho de minha boca e pelo tamanho da visão de meus olhos, já que fatalmente sucumbirei à necessidade de forma que vem do meu pavor de ficar indelimitada ? então que pelo menos eu tenha a coragem de deixar que essa forma se forme sozinha como uma crosta que por si mesma endurece a nebulosa de fogo que se esfria em terra. E que eu tenha a coragem de resistir à tentação de inventar uma forma.3 O ato da escrita se torna, para G.H. um exercício de compreensão que leva a linguagem aos seus limites e que se assemelha à tarefa da linguagem na mística especulativa. Lima Vaz, em sua obra Experiência mística e filosofia na tradição ocidental, nos diz algo da mística especulativa que bem pode ser estendido ao exercício da linguagem em A paixão segundo G.H. Segundo Lima Vaz, a mística especulativa tem como tarefa a tentativa de ?mergulhar seu olhar nas profundidades propriamente insondáveis e inefáveis que assinalam a fronteira última do pensamento distinto e da palavra - do logos?4.



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