Cerco
(Daniel Frazão)
A ação do livro se passa num domingo que parecia ser só mais um dia entediante na pacata São Felipe, com casais passeando na praça e crianças comendo algodão-doce. Mas aquele domingo seria diferente: cansados das tardes insuportáveis e opressivas, os adolescentes do lugar - armados até os dentes e incrivelmente bem organizados - iniciam ali mesmo, na praça da cidade, um massacre que praticamente varreria São Felipe do mapa.
Não há personagem principal em Cerco, muito menos heróis ou vilões. Em nenhum momento o autor julga o que é certo e o que é errado, limitando-se a narrar o fato sob diversos pontos de vista, acompanhando de perto as ações dos adolescentes e o desespero de vários sobreviventes - como os velhinhos que moravam numa rua completamente dizimada, um ambicioso repórter do jornal local, os músicos de uma banda de rock, e um velho português que jogava damas na praça no momento do ataque.
Aos poucos, as diversas narrativas paralelas vão se cruzando, traçando um mapa da cidade devastada e coberta de sangue, com corpos jogados por todos os cantos. Apesar da pluralidade de elementos, tramas e personagens, todas as histórias estão inteligentemente amarradas em torno do evento principal, o assim chamado "Massacre de São Felipe".
Mais do que provocante e assustador, Cerco é profundamente crítico e questiona o estilo de vida previsível e determinado que oprime os jovens, com seus sonhos livres e transgressores. Qual é o sentido de viver num mundo todo pronto, 100% controlado, onde basta ser um bom menino para conseguir se formar, arrumar um bom emprego, casar e ter filhos bonitinhos? Em Cerco, Daniel Frazão tem a coragem de atacar de frente a mediocridade e a falta de novas perspectivas, dando voz à revolta e ao imprevisível.
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