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Angustia
(Graciliano Ramos)

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 Luís da Silva revela profundos sentimentos de autodepreciação, de insatisfação com a vida que leva, ?monótona e estúpida?. Ganha $500.000 réis de salário e é submisso aos chefes. De origem rural, é um deslocado na cidade. Lembra com alguma admiração o avô Trajano, forte, decidido, possuidor de mulheres em seus tempos de esplendor e, com muitas reservas, o pai, Camilo, filho fraco, o único que escapou do casamento de Trajano e Sinhá Germana.  
Luís sente-se fortemente atraído por uma vizinha nova, Marina. A atração é predominantemente sexual, já que os dois são diferentes demais para se entenderem.     
Visando ao casamento, o enxoval é preparado. Ela só pensa em roupas finas, jóias e tapetes, e Luís termina por esgotar suas parcas economias de três contos de réis, além de se endividar. Chegando com o presente de casamento, um anel e um relógio, supreende-a a trocar olhares suspeitos com Julião Tavares, um tipo que se tinha introduzido forçadamente na vida de Luís, e por quem ele sempre nutrira uma aversão especial: era um homem rico, negociantes de secos e molhados, e conquistador de mulheres.  
Com o passar do tempo, fica bem caracterizada a preferências de Marina por Julião: ? Se eu não tivesse cataratas no entendimento, teria percebido logo que ela estava com a cabeça virada?.  
Amargurado, Luís de distancia de Marina; é-lhe inaceitável o que considera como prostituição da noiva: ?Escolher marido por dinheiro. Que miséria!?  
O golpe veio romper o precário equilíbrio psicológico do protagonista, que não consegue desligar-se mentalmente de Marina e entra num furioso processo de fantasias, com predominância inicial daquelas de natureza sexual. Ora se entrega ao despeito e ao ciúme, ora imagina tudo esquecer e reaver Marina que, por seu turno, está cada vez mais firme com Julião Tavares, de quem recebe tudo aquilo de que gosta: roupas caras, jóias, passeios, idas à ópera, ao cinema, etc.   
As fantasias de Luís da Silva tornam-se progressivamente mais obsessivas e gradualmente se vão fixando em alguns aspectos especiais: os arames (fios) da Cia. Nordeste, cordas, canos, cenas de assassinatos e prisões que em criança havia presenciado, casos de vingança de honra, etc.  
O seu comportamento se deteriora; falta às vezes ao serviço, na repartição; vive bebendo e fumando, perambula à toa pela cidade, de bodega em bodega, atola-se em dívidas, enquanto entra num processo mental francamente delirante. Poucos momentos de lucidez não conseguem, deter tal decadência: com um pouco de método, pensava ocasionalmente, poderia recolocar a sua vida nos trilhos...     
Marina aparece grávida e Julião Tavares vai-se afastando dela aos poucos.    
Luís sente a imperiosa necessidade de fazer Julião Tavares morrer, e morrer enforcado, os olhos esbugalhados, a língua de fora. Seu Ivo, um mendigo que eventualmente passava por lá para pedir comida, presenteia-o com uma peça de corda. Ele se sobressalta desproporcionalmente, rejeitando, horrorizado, o presente que materializava, por assim dizer, as suas fantasias. Mas acaba guardando no bolso a peça e, doravante, não mais a largará. E as fantasias se fixam mais nas laçadas certeiras de Amaro, o vaqueiro; no enforcamento do velho e digno seu Evaristo, quando recebeu a desconsideração do padeiro; na cascavel que, certa vez, se enrolara no pescoço do avô Trajano...   
A decadência psicológica e humana continua inexorável; Luís emagrece, quase não come, bebe demais; vigia e segue, como um autômato, Julião Tavares ou Marina. Nessa ?tarefa?, vê-a entrar, certo dia, em casa de uma D. Albertina de tal, parteira diplomada. Imagina que ela foi abortar e, na saída, aborda-a e a insulta pesada e repetidamente: ?Puta!? Num indício de dissociação de personalidade, ?dizia-lhe o insulto, mas estava cheio de piedade?.     
Descobre, também, que Julião estava de amante nova, residente no bairro de Bebedouro. Rastreando o ?inimigo?, segue-o certa noite até à casa da amante. Depois que Tavares entra na residência, Luís continua andando, robotizado, até o fim da linha do bonde. Quando volta, de madrugada, sempre a pé, há uma espessa neblina dificultando a visão. Julião sai, bem à sua frente, da casa de Bebedouro. Valendo-se da névoa, acompanha-o sem ser notado, até que as circunstâncias lhe permitem atirar-se sobre ele e enforcá-lo, conseguindo ainda, após várias tentativas, alçá-lo ao galho de uma árvore próxima para simular suicídio. No instante do assassinato, Luís tem uma sensação de deslumbramento: ? O homenzinho da repartição e do jornal não era eu. Esta convicção afastou qualquer receio de perigo. Uma alegria enorme encheu-me?.  
Sempre a pé, sujo e esfarrapado, devido à luta e às circunstâncias do enforcamento, atordoado por fantasias e alucinações, consegue chegar até sua casa. Aí, a muito custo e de maneira desconexa, procura apagar os indícios do que ocorrera. Pelo resto da madrugada, na manhã e nos dias seguintes, experimenta aquilo que em psicopatologia chamamos de ?delírios oniróides?, acompanhados de pensamentos obsessivos. Não conseguia entender o que lhe falavam, nem distinguia bem os visitantes.   
?Sem memória, um idiota.? As coisas e pessoas conhecidas, as visões habituais do passado e do presente vinham, confundiam-se umas com as outras, numa cirando sem fim. ?O tempo passava, mas no tempo não havia horas.? Predominam o sentimento de solidão e abandono, o cego da loteria gritando o nº 16.384. Um colchão de paina. ?Milhares de figurinhas insignificantes. E era uma figurinha insignificante e mexia-me com cuidado para não molestar as outras. 16.384. Íamos descansar. Um colchão de paina.?



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