O Hussardo
(Arturo Pérez- Reverte)
Passado em Espanha durante as Invasões Napoleónicas este livro dá-nos a conhecer Frederic Glüntz, jovem oficial de 19 anos, do regimento de cavalaria dos Hussardos. Frederic é natural de Estrasburgo, não tem qualquer experiência militar sem ser a adquirida na escola e a sua cabeça é recheada de ideias romanceadas acerca da guerra. O seu melhor amigo no regimento é Michel de Bourmont, um homem feito, já com alguma experiência militar. Entre os dois vai nascendo uma relação de companheirismo crescente, dificultada como é lógico pelo decorrer da guerra e pela situação extrema em que se encontram.
Glüntz, como o jovenzinho que é, tem a cabeça cheia de indecisões. Sente o poder da responsabilidade nos ombros, e o facto de comandar um grupo de homens bem mais velhos e experientes que ele deixa-o orgulhoso claro está, mas ao mesmo tempo receoso de haver qualquer tipo de falha da sua parte que o deixe à mercê da chacota dos seus companheiros e superiores. Tem ânsia de acção, mas não deixa de ter medo do que lhe possa acontecer. Resumidamente, é um rapaz de 19 anos como outro qualquer, de qualquer país, nacionalidade ou época, com a diferença de se encontrar em plenas Invasões Francesas, ter o posto de oficial e ter de matar se não quiser morrer.
Ao longo do livro acompanhamos as reflexões de Glüntz acerca da situação grotesca em que está enfiado até ao pescoço, os seus pensamentos relativos a De Bourmont, as saudades de casa, e principalmente as suas ideias em relação à morte, sempre presente.
Só a mais de meio do livro é que a ?guerra? propriamente dita começa. Até aí, o regimento dos Hussardos limita-se a esperar literalmente pelas batalhas, desloca-se de um lado para o outro, trava algumas escaramuças e pouco mais. Tal como uma das personagens diz, há homens que vão para a guerra e regressam sem ter visto um morto e disparado um tiro. E é deste cenário que estamos à espera enquanto vamos lendo. Mas tudo tem um fim, e a calma relativa que o regimento vive quebra-se de repente, quando finalmente têm de entrar em batalha, contra um exército espanhol que, mais que organizado, é aguerrido e sedento de sangue. E é a partir daí que todo o mundo de Frederic Glüntz, o jovenzinho de 19 anos natural de Estrasburgo se desmorona.
Não é o melhor livro de Arturo Pérez-Reverte nem nada que se pareça, mas nota-se já a germinação de um tipo de escrita que se virá a reflectir nas suas obras posteriores. É no entanto, um dos livros que mais me perturbou psicologicamente, porque nos confronta com o destino que todos temos, a morte, mas que por vezes pode ser injusto, cruel e muito bárbaro. E porque nos apercebemos de que, independentemente das simpatias que possamos criar ao longo da leitura do livro, naquela guerra suja não existem maus nem bons, apenas pessoas que lutam por ideias diferentes de maneiras muito parecidas, sendo que no fundo, todos sentem exactamente a mesma coisa.
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