Ética À Nicômaco
(Aristóteles)
A virtude é de duas espécies, a intelectual e a moral. A primeira gera-se e cresce graças ao ensino, requer experiência e tempo; enquanto a segunda é adquirida em resultado do hábito, donde ter se formado o nome. Por uma pequena modificação da palavra. Nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza. De todas as coisas que nos vêm por natureza, primeiro adquirimos a potência e mais tarde exteriorizamos os atos. Não foi por ver ou ouvir frequentemente que adquirimos a visão e a audição, mas pelo contrário, nós as possuímos antes de usá-las, e não entramos na posse delas pelo uso. Com as virtudes dá-se exatamente o oposto: adquirimo-las pelo exercício. Pelo hábito do medo ou da ousadia, nos tornamos valentes ou covardes. Podemos dizer o mesmo dos apetites e da emoção da ira: uns se tornam temperantes e calmos, outros intemperantes e irascíveis. As diferenças de caráter nascem de atividades semelhantes. Tanto a deficiência como o excesso de exercício destrói a força; o alimento ou a bebida que ultrapassem determinados limites, tanto para mais ou para menos, destroem a saúde ao passo que, sendo tomados nas devidas proporções, a produzem, aumentam e preservam. O mesmo acontece com a temperança, a coragem e as outras virtudes. O homem que a tudo teme e de tudo foge, torna-se um covarde, o homem que não teme nada, torna-se temerário; o que se entrega aos prazeres torna-se intemperante, o que evita todos os prazeres, se torna de certo modo insensível. A temperança e a coragem são destruídas pelo excesso e pela falta, preservadas pela mediania. É por causa do prazer que praticamos más ações, e por causa da dor que nos abstemos de ações nobres. Platão diz que devemos ser educados desde a juventude, a fim de deleitarmos e de sofrermos comas coisas que nos devem causar deleite ou sofrimento. Existem três objetos de escolha e três de rejeição. O nobre, o vantajoso, o agradável e seus contrários. O vil, o prejudicial e o doloroso. A respeito de todos eles o homem bom tende a agir certo e o homem mau a agir errado, e especialmente no que toca ao prazer. Medimos nossas próprias ações pelo estalão do prazer e da dor. Na alma humana encontram-se três espécies de coisas: a paixão, as faculdades e disposições de caráter, portanto, a virtude deve pertencer a um destas. Por paixões, entendo os apetites, a cólera, o medo, a audácia, a inveja, a alegria, a amizade, o ódio, o desejo, a emulação, a compaixão, em geral os sentimentos que são acompanhados de prazer ou dor; por faculdades, as coisas em virtude das quais se diz que somos capazes de sentir tudo isso, de nos irarmos, de magoar-nos ou compadecer-nos; por disposições de caráter as coisas em virtude das quais nossa posição com referência às paixões é boa ou má. Más se sentirmos demasiadamente, e boas se for moderadamente. Um mestre em qualquer arte evita o excesso e a falta, buscando o meio-termo não no objeto, mas relativamente a nós. Referindo-se a virtude moral, pode-se dizer que a virtude é mais exata e melhor que a arte, como também o é a natureza. Deve ter o atributo de visar o meio-termo. Quanto à justiça e injustiça devemos considerar com que espécies de ações se relacionam elas; que espécie de meio termo é a justiça, e entre que extremos o ato justo é intermediário. Justiça é para a maioria das pessoas, a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo que às faz agir justamente e desejar o que é justo; e do mesmo modo, por injustiça se entende a disposição que as leva a agir injustamente e a desejar o que é injusto. A justiça é uma virtude completa, não em absoluto, e sim em ralação ao nosso próximo. Por isso é muitas vezes considerada a maior das virtudes. Ela é a virtude completa no pleno sentido do termo. É completa porque aquele que a possui pode exercer sua virtude não só sobre si mesmo, mas também sobre o próximo. O injusto foi dividido em ilegítimo e ímprobo e o justo em legítimo e probo. Tudo que é ímprobo é ilegítimo, mas nem tudo que é ilegítimo é ímprobo. O injusto e a injustiça no sentido de improbidade não se identificam coma primeira espécie , mas diferem dela como parte do todo.A injustiça nesse sentido é uma parte da injustiça no sentido amplo, e, do mesmo modo, a justiça num sentido o da justiça do outro. A lei nos manda praticar todas as virtudes e nos proíbe de praticar qualquer vício. A justiça corretiva será o intermediário entre a perda e o ganho. Recorrer ao juiz é recorrer à justiça. Se o juiz é o meio termo, o justo também o é. O juiz restabelece a igualdade. É como se houvesse uma linha dividida em partes desiguais e ele retirasse a diferença pela qual o segmento maior excede a metade para acrescentá-la ao menor. O justo então é o intermediário entre uma espécie de ganho e uma espécie de perda, a saber, os que são involuntários. Consiste em ter uma quantidade igual antes e depois da transação.
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