BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


Florinda - Conto
(Almir,Ramos,da,Silva)

Publicidade
Era um dia normal. Meio dia, reunidos à mesa o pai, a mãe, os irmãos gêmeos e Florinda, calados enquanto comiam a insossa refeição.
Sem motivo aparente, Florinda perde a respiração. Desespero geral! Todas as formas de reanimar a pobre são tentadas, batem nas suas costas, dão-lhe água, sopram seu rosto. Tudo em vão.
A perplexidade foi substituída por espanto.A mão de Florinda estava estranha, endurecida, seus dedos fundiram-se num e uma camada de pêlo espessa foi-se formando desde os braços até seu cotovelo, tudo num espaço de uma hora.
Obviamente ninguém entendeu o que havia acontecido, mas por via das dúvidas seu pai ordenou a todos que Se afastassem. - Seja lá o que for, isso pode ser contagioso!
Os gêmeos choravam, a mãe tinha medo de se aproximar da menina, sua filhinha querida. Seu pai estava decidido a controlar o tornado! Era o homem da casa, tinha queresolver o caso. Mas fazer o quê?
Não mais restando pestanas a queimar, o pai determinou que era já hora de dormir, no dia seguinte, quem sabe, com a cabeça mais fria poderia pensar em algo. Além do mais, piorar seria impossível.
Amargo engano! Um grito horrível ecoou. Era a mãe que fora velar a filha adoentada. A menina estava desfigurada: em vez de lindas madeixas, um pêlo curto cobria-lhe todo o corpo, uma deformidade atroz enfeava-lhe todo o corpo. As mãos converteram-se em cascos duros. Era uma visão dantesca, o próprio inferno ali dentro do quarto de Florinda. O momento exigia fé e coragem, pensava a mãe, já refeita do susto matinal. E solução para questões espirituais só mesmo a religião, chamando-se o exorcista.
Todo paramentado chegou o pároco. O velhinho foi ao quarto da menina e imediatamente pediu que todos saíssem. Momentos eternos de silêncio. Ouviu-se enfim a voz do velhinho de dentro do quarto:
- Alguém pode tirar essa vaca daqui? - Espanto geral! Que vaca?
Impaciente o pai arrombou a porta do aposento e não achando a suposta vaca, entendeu que o sacerdote estava caduco. O jeito foi apelar para o pastor.
Este, homem sério e conspícuo, no lugar da jovem Florinda encontrou um animal sentado na cadeira lendo uma revista. - Parem com essa brincadeira e me tragam a irmãzinha Florinda! Ordenou o fiel. A mãe tentou explicar que era exatamente por causa dessa metamorfose abjeta que ele havia sido chamado. Não podendo acreditar, abalado em suas mais profundas crenças, o ministro reconheceu a sua incapacidade de interferir nos desígnios de Deus e, após dirigir uma fervorosa oração, foi-se embora apressado. Foi e deixou o mistério sem deslindar.
A família, refeita do trauma, aceitou a nova ordem das coisas. Aquilo que não tinha solução solucionado estava e o pai resolveu suportar a condição especial de sua filha e tirar algum proveito.
O local tinha um clima quente e a produção de gêneros alimentícios era muito difícil. Foi entre uma idéia e outra que o pai aventou a possibilidade de que a filha fornecesse leite, já que se tinha tornado uma vaca e o produto menos prejudicial à uma vaca é esse.
Assim pensou, assim agiu. As cobaias para provar a bebida foram os dois peraltinhas, já que eles adoravam leite e tinham pouca aversão a beber dessa fonte. O resultado foi surpreendente! Realmente, o sabor era o melhor possível.
O poderoso laticínio rapidamente se tornou conhecido.
Vieram pessoas de todos os cantos para conhecer as propriedades terapêuticas do leite. Nesses tempos o pai tratou de ganhar dinheiro. O leite, pesquisado por cientistas, mostrava-se extremamente energético, capaz de provocar o organismo humano a produzir anticorpos tão poderosos que destruía as bactérias mais resistentes.
O fato é que em pouquíssimo tempo o pai investiu todas as suas reservas na empresa nascida da produção e distribuição do leite todo poderoso, ganhando realmente muito dinheiro, gastando o excedenteem toda sorte de tolices, já que não havia mais nenhuma preocupação financeira. Florinda era a "vaquinha do leite de ouro" da família.
Afinal, pensava a mãe, Deus tirou minha filha mas deixou uma fonte de sobrevivência.
O pai estava transbordando de alegria e no final de um dia ficou proseando na varanda até de madrugada. Adormeceu lá mesmo.
Acordou cedinho e ficou contemplando o horizonte, enquantoos membros da família foram acordando.
Florinda se aproxima silenciosa e dá um pequeno e afetuoso ósculo em seu pai.
? Bom dia, minha filha!
?Bom dia, pai!
Ao ouvir a voz da filha cai atônito da cadeira. Lá estava ela, toda faceira como era antes da transformação. A mãe mal pôde acreditar, e chorou copiosamente.
Isso mesmo,sem aviso ela havia transmudado, retornando à sua forma antiga.
Ninguém pensava que isso fosse acontecer. Não havia dinheiro guardado. Não havia mais leite, não havia mais vaca, não havia mais nada. Um estranho sentimento corroia o coração do pobre pai. Era mesmo ódio da situação, ódio da filha.
Por que ela mudou de novo? Reclamava.
Logo Florinda passou a ser desprezada pelos gêmeos, afinal, eles não podiam mais beber do delicioso fruto da irmã. Sua mãe apaziguava, mas também ela estava zangada! Florinda, afinal nunca deveria ter-se metamorfoseado, nem da primeira vez, nem da segunda. Seu triste destino, pois, foi o desprezo geral.



Resumos Relacionados


- A Cadeira

- Dona Flor And Her Two Husbands

- Dona Flor E Seus Dois Maridos

- Minhas Estórias

- A Carta Amaldiçoada



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia